É um fato manifesto que a União Europeia sofre uma crise econômica, tal como reconhece The Economist. Nem mesmo a Alemanha pode superá-la, não obstante a Srª Merkel insista frente à França e Itália impor uma política de austeridade. Quer dizer, reduzir o déficit via redução do gasto público.
A meu ver, a situação econômica de hoje constitui uma exceção na história. Tanto é assim que, apesar de o FMI ter sido criado com a função de evitar a inflação nos países, hoje a Srª Lagarde recomenda uma política inflacionária à Europa como meio de superar a recessão. Essa recomendação implica de fato reconhecer o perigo do elevado nível da dívida Europeia. Como é notório, uma grande parte da mesma encontra-se no sistema bancário europeu. Portanto, pretende-se que a dívida se reduza em termos reais para evitar a quebra do sistema.
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Porém, esta crise se reconhece no mundo aparentemente como a crise do capitalismo. Há tempo que cheguei à conclusão de que essa denominação foi dada por Marx no Manifesto para desqualificá-lo eficazmente como a exploração do homem pelo homem. Foi ele mesmo quem reconheceu que esse sistema havia provocado pela primeira vez na história a criação da riqueza, mas o erro é havê-lo considerado como um sistema econômico, quando na realidade é um sistema ético-político e a economia é o resultado do comportamento, ou seja: foi o Rule of Law.
A pergunta pendente então, é: qual a razão dessa excepcionalidade? Não me resta a menor dúvida de que ela deve-se à colisão de democracia e socialismo que prevalece na União Europeia. Já deveríamos saber que como bem diz Ayn Rand e eu repeti até o cansaço, o que o governo dá é porque tira de alguém. Ou seja, que quando este dar se eleva a níveis como os atuais, viola-se o direito de propriedade dos que criam a riqueza. E quando viola-se o direito de propriedade, se reduz o investimento e consequentemente, a criação de riqueza.
Não obstante esta realidade, em La Nación do domingo passado, Luisa Corradini escreveu: “O Capitalismo do Século XXI é um capitalismo de incerteza”. E em seguida concluiu que a crise do capitalismo foi a causa da crise da democracia (sic). Permito-me discordar desta conclusão e, pelo contrário, a democracia foi a causa da suposta crise do capitalismo.
Considerar que a crise Europeia é produto do capitalismo e dos bancos, é ignorar a realidade da política Europeia. Posso começar dizendo a respeito que a suposta crise do capitalismo atualmente é a impossibilidade de pôr em prática o sistema ético-político que o determina. Isso deve-se ao êxito político da demagogia da esquerda na busca da igualdade econômica.
O exemplo por antonomásia dessa realidade é a crise Europeia. Segundo os dados do FMI relativos ao ano de 2012, o gasto público na França chegava a 56,23% do PIB, na Alemanha 44,88%, na Itália 50,71%, na Espanha 47,2%, no Reino Unido 47,5% e na Euro Área 50,0%. Considerar um sistema econômico dessa natureza como capitalismo teria surpreendido o próprio Marx. Já no Manifesto ele havia contestado Hegel em sua visão “do Estado como a divina ideia tal como se manifesta sobre a terra”. E escreveu: “O poder político propriamente dito, é meramente o poder organizado de uma classe para oprimir a outra”.
Mais ainda, ante essa realidade não pode surpreender as dificuldades financeiras dos bancos europeus que têm uma grande parte da dívida pública Europeia. Por isso é uma falácia considerar que foi o sistema financeiro que causou a suposta crise do capitalismo, quando na realidade sofreu as consequências da política oficial. Por outro lado, já deveríamos saber que quando se salva o sistema financeiro da quebra, em primeiro lugar não se beneficia per si aos capitalistas senão aos depositantes.
O sistema financeiro é indubitavelmente o sistema sanguíneo da economia que relaciona o presente com o futuro. Portanto, tal como assinala Milton Friedman em seu livro “Free To Choose”, a profundidade da crise dos anos trinta nos Estados Unidos, deveu-se a que o Federal Reserve de Washington negou-se a atuar como prestamista de última instância e consequentemente quebraram cerca de 12 mil bancos dos 25 mil que existiam. Por isso assinala: “Outra forma de deter o pânico é capacitar os bancos sadios a converter seus ativos rapidamente em efetivo, não às expensas de outros bancos senão através de efetivo adicional, de uma impressão de moeda de emergência”.
Em virtude dessa realidade é que a política, tanto do Federal Reserve como a do ECB, foi a de emitir moeda e reduzir a taxa de juros a menos de 1% anual. Certamente esta política não resolve a crise, enquanto não se corrijam as verdadeiras causas da mesma. E nesse sentido, devo lembrar que as causas da crise foram diferentes nos Estados Unidos e na Europa. Nos Estados Unidos ela sobreveio como consequência da demagógica lei de Carter, “The Community and Reinvestment Act”, pela qual se estabeleceu que todo americano tinha direito a uma casa própria e portanto tinha que emprestar aos que tinham renda abaixo da média. O resultado foi a chamada bolha. Ou seja, essa lei foi uma violação das regras do sistema. A política seguida até esta data, embora não tenha resolvido definitivamente a situação, a economia americana parece estar se recuperando.
O caso da Europa é muito diferente, por mais que exista a teoria de que ela foi causada pela crise americana. Nada mais falacioso do que essa tese. Como bem assinalou The Economist, “a causa da crise é o sistema, e quem quiser mudar perde as eleições”. Hoje a economia alemã é a única que conseguiu alcançar um PIB de 2,6%, superior ao que tinha em 2008, a partir do qual começou a crise.
Enfim, creio que podemos concluir que a chamada crise do capitalismo é o produto do sistema, e por isso a tentativa alemã da suposta austeridade no meio da recessão teria um efeito negativo. Por isso a Srª Lagarde, como dissemos antes, seguindo os ensinamentos de Friedman, propõe a inflação como remédio. A chamada crise do capitalismo, então, é a consequência da impossibilidade de implementá-lo, devido ao triunfo pertinaz da esquerda democrática na luta pelo poder, na suposta busca da igualdade. Podemos dizer então que a causa da suposta crise do capitalismo foi a democracia, que ignora o Rule of Law.
Tradução: Graça Salgueiro