Os jihadistas (terroristas islâmicos) estão a menos de 100 quilômetros de Bagdá, depois de terem tomado nesta semana o controle da segunda cidade mais importante do Iraque e de outras zonas no norte do país, informaram nesta quinta-feira (12) várias fontes.
Ante a impotência do Exército nacional, os Estados Unidos não descartam dar apoio através de ataques aéreos. Os rebeldes se apoderaram da cidade de Dhuluiya, 90 quilômetros ao norte de Bagdá, declarou um coronel da polícia e vários habitantes contactados por telefone. Um morador contou que homens armados percorriam as ruas e que não havia sinal das forças governamentais em sua região.
Antes de chegar à cidade, os insurgentes tentaram tomar Samarra, mas as forças governamentais os impediram. Já o parlamento iraquiano, que deveria se reunir nesta quinta-feira a pedido do governo do xiita, Nuri al-Maliki, para examinar uma possível instauração de um estado de emergência, não pôde realizar sua sessão por falta de quórum. A sessão exige a presença de 165 deputados, mas apenas 128 estavam presentes.
Desde terça-feira (10), os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) se apoderaram no norte do país de Mossul, a segunda cidade do Iraque, de sua província, Nínive, e de setores em duas províncias próximas, Kirkuk e Salahedin, de maioria sunita. Na quarta-feira tomaram Tikrit, 160 quilômetros ao norte de Bagdá. Seu porta-voz, Abu Mohamed al-Adnani, os convocou a avançar em direção a Bagdá e criticou Maliki por sua incompetência, em uma gravação sonora divulgada na rede americana de vigilância de sites islamitas SITE.
Maliki pediu na quarta-feira (11) a todas as tribos que forneçam apoio militar ao Exército e à polícia e “formem unidades de voluntários para ajudá-los” em sua luta contra os jihadistas. Nesta quinta-feira, as forças curdas iraquianas tomaram o controle da cidade petrolífera de Kirkuk para protegê-la de um possível ataque dos jihadistas. É a primeira vez que as forças curdas controlam totalmente esta cidade multiétnica situada 240 quilômetros ao norte de Bagdá, onde uma polícia conjunta com membros árabes, curdos e turcomanos vela geralmente pela segurança.
“Mobilizamos nossas forças ao redor da cidade de Kirkuk e agora controlamos toda a cidade”, disse o coronel Fateh Rauf, combatente da primeira brigada dos peshmergas (forças de segurança curdas). Também garantiu que “não permitirão a entrada em Kirkuk de nenhum membro do EIIL”. O governador da província de Kirkuk, Najmedin Omar Karim, disse que os “peshmergas haviam preenchido o vazio deixado pela retirada do Exército iraquiano de suas posições”, nas fronteiras sul e oeste da cidade, e que está em “contato permanente com Bagdá”.
Pouco depois, o ministro encarregado dos peshmergas escapou de um atentado contra sua comitiva na província de Kirkuk. Jaafar Mustafá acabava de inspecionar as unidades curdas a sudoeste de Kirkuk quando uma explosão matou um membro dos peshmergas, informou o general Shirko Rauf.
Os Estados Unidos prometeram na quarta-feira ajudar o Iraque, inclusive com força militar, diante de uma ofensiva de radicais islâmicos que pôs em xeque o Exército criado e equipado por Washington, dois anos e meio depois da saída das tropas americanas do país. O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, informou que “os Estados Unidos apoiarão os líderes iraquianos em todo o espectro político enquanto forjam a unidade nacional necessária para combater” o EIIL.
“Com base no Acordo Estratégico, também seguiremos dando a assistência necessária ao governo do Iraque para fortalecer sua capacidade de deter, de maneira eficaz e duradoura, os esforços do EIIL para fazer estragos no Iraque e na região”. A Rússia aproveitou para destacar que o avanço dos rebeldes islamitas no Iraque ameaça o país e ilustra o fracasso total da intervenção militar americana e britânica.
“O que está acontecendo no Iraque ilustra o fracasso total da aventura que empreenderam principalmente os Estados Unidos e o Reino Unido, e na qual perderam o controle definitivamente”, declarou o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov. “Há 11 anos, o presidente dos Estados Unidos anunciou a vitória da democracia no Iraque e, desde então, a situação se deteriorou de forma exponencial. Há tempos que advertimos que a aventura lançada pelos americanos e ingleses acabaria mal. Hoje os prognósticos se cumpriram”, acrescentou.
O secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, exigiu nesta quinta-feira a libertação imediata dos cidadãos turcos feitos reféns pelos jihadistas no consulado da cidade iraquiana de Mossul, e condenou energicamente esta ação. “Condeno energicamente a tomada de reféns. Nós pedimos aos sequestradores que libertem os reféns imediatamente”, declarou durante uma coletiva de imprensa em Madrid, Espanha, acrescentando que não vê um papel da Otan no Iraque.
Na véspera, o ministro turco das Relações Exteriores, Davutoglu Amhet, ameaçou adotar medidas de “retaliação” caso algum dos cerca de 50 cidadãos turcos sequestrados por combatentes jihadistas no consulado da Turquia no Iraque sofra algum dano. “Todas as partes precisam saber que, se o menor dano for causado aos nossos cidadãos, haverá represálias”, declarou Davutoglu ao vivo da sede da ONU em Nova York. Terroristas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) invadiram na quarta-feira o consulado turco na cidade iraquiana de Mossul (norte) e fizeram 49 reféns, incluindo o chefe da missão diplomática, segundo um funcionário do governo turco.