Por meio da antracologia pode-se prevenir a desflorestação ilegal e ajudar a fiscalização ambiental
Devido a grande produção de carbono vegetal no Brasil a partir de espécies de árvores nativas da floresta amazônica, está sendo realizado um estudo conduzido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo (USP).
O estudante de mestrado Alisson Rangel Albuquerque e seu orientador Mário Tomazello Filho buscam criar uma série de referencias, ou seja, uma antracoteca, para auxiliar a identificação de espécies da floresta amazônica. O trabalho começou em março de 2010, com conclusão planejada para o início de 2012.
A investigação utiliza a ciência chamada antracologia, que é a interpretação e estudo do carbono vegetal procedente de solos ou sítios arqueológicos. O princípio do estudo baseia-se na anatomia da madeira.
“Logo depois de ser carbonizada, a madeira mantem sua estrutura, o que permite a identificação da botânica da espécie (família, gênero e, às vezes, espécie)”, afirma Alisson.
Como o carvão vegetal é composto somente de carbono, não há ataque à madeira por organismos xilófagos (que se alimentam de madeira), e, assim, o carbono se conserva por muito tempo. A partir dele, pode-se realizar a identificação anatômica, além de identificar o material arqueológico, ou o material fóssil, contribuindo de alguma forma para a compreensão da história evolutiva da vegetação da floresta, afirma o investigador.
Alisson tentou coletar suas amostras de carvão em Carajás, no Estado do Pará, onde a produção de carbono vegetal é a segunda maior no Brasil, porém, como há muitos conflitos na região, ele coletou suas amostras na região de Tapajós, também no Pará, onde se encontra a riqueza ambiental do Estado. São cerca de 115 amostras de carvão de 78 espécies de árvores, disse o pesquisador.
A aplicação prática da investigação é ajudar na fiscalização da madeira apreendida (que se suspeita serem provenientes da produção ilegal), além da contribuição para o controle da produção de carvão vegetal na floresta amazônica.
“A partir das amostras de carvão obtidas, por exemplo, de uma apreensão, se pode, por meio da anatomia da madeira, identificar as espécies e/ou o conjunto de espécies que compõem o lote apreendido. E com o conhecimento das espécies, pode-se identificar o bioma* de onde se originou”, afirmou Alisson.
A pesquisa é parte do Projeto Dendrogene, coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Amazônia Oriental (situada em Belém, no Pará), e vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Tendo começado em 2000, a pesquisa busca o desenvolvimento de métodos de melhor gestão florestal em direção à exploração sustentável das árvores da Amazônia. Também é financiada pelo Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Governo Britânico (DFID), segundo o site da EMBRAPA.
A produção do carvão vegetal no Brasil
A produção do carvão vegetal é conduzida rusticamente, com fornos chamados “rabo quente”. Nestas regiões há muitos problemas nas minas de carvão, tais como conflitos de terras, construção e exploração ilegal e utilização de mão-de-obra escrava e infantil, afirma Alisson.
O carvão vegetal representa cerca de 60-70% do custo de produção do ferro gusa, o principal componente do aço.
Na produção de carbono da região de Carajás, na Amazônia Ocidental, há desflorestação ilegal e trabalho escravo nas minas, disse Maurílio de Abreu Monteiro, professor do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (UFPA), à agência de notícias Repórter Brasil. Em 2006, a desflorestação ilegal provia cerca de 57,5% da produção de carvão de madeira.
*Bioma: Cada uma das grandes comunidades ecológicas em que domina um tipo de vegetação; por exemplo, a selva tropical, a tundra, ou o deserto.