Em 1999, um estudo chamado estudo ‘Rotterdam’ revelou uma forte associação entre a doença de Alzheimer e o diabetes. Neste estudo pioneiro feito na Holanda, 6.370 idosos de ambos os sexos foram monitorizados por cerca de dois anos.
Naquele que foi provavelmente um dos primeiros estudos sobre o assunto, descobriram que ter diabetes quase dobra o risco de desenvolver demência. Desde então, diversos estudos confirmaram esta descoberta e esclareceram sobre qual o mecanismo provável desta ligação.
Um estudo de nove anos publicado em 2004 seguiu 824 padres católicos, monges e freiras. Apesar de nenhum apresentar sinais de Alzheimer no início do estudo, no final do estudo 151 tinham desenvolvido Alzheimer.
A análise estatística demonstrou que desses, os que foram diagnosticados com diabetes tipo 2 registaram um aumento de 65% de probabilidade de desenvolver Alzheimer. Mais tarde descobriu-se também que este risco acrescido se aplica para ambos os tipos de diabetes: tipo 1 e tipo 2.
O diabetes tipo 1 ocorre frequentemente antes dos 20 anos devido a anticorpos que destroem o pâncreas, o órgão produtor de insulina. Portanto, esse tipo de diabetes tem uma característica auto-imune. Este tipo de diabetes ocorre em 10% a 15% dos diabéticos.
No diabetes tipo 2, que ocorre em 85 a 90% dos diabéticos, a principal causa é resistência à insulina, que é quando as células do corpo vão se tornando menos sensíveis à ação da insulina. A insulina é um hormônio fabricado pelo pâncreas, cuja função é facultar a entrada da glicose dentro das células.
O diabetes tipo 2 tem um forte componente genético, mas pode ser prevenida com mudanças na dieta e no estilo de vida.
No Brasil existem cerca de 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos de idade; 6 % delas sofrem do mal de Alzheimer, segundo dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).
Em todo o mundo, 15 milhões de pessoas têm Alzheimer. Nos Estados Unidos é a quarta causa de morte de idosos entre 75 e 80 anos. Perde apenas para infarto, derrame e câncer. Quase 26 milhões têm diabetes e perto de 80 milhões são pré-diabéticos. Enquanto os cuidados para diabéticos representam 174 milhões de dólares em custos de saúde, o custo estimado para os 5,4 milhões de americanos que sofrem de Alzheimer passa dos 180 milhões de dólares.
A Suécia publicou um estudo em 2008 que revela que homens com baixa produção de insulina aos 50 anos de idade eram 1,5 vezes mais susceptíveis de desenvolver Alzheimer do que pessoas sem problemas de insulina. Esse estudo também revela que a probabilidade mais forte dos diabéticos desenvolverem Alzheimer é daqueles que possuem o gene APOE4. Acredita-se que esse gene aumenta o risco de desenvolver Alzheimer.
Os diabetes podem também levar as pessoas a desenvolver deficiência mental ligeira (DML), que é um estado de transição entre características cognitivas próprias do envelhecimento normal e problemas mais sérios resultantes do Alzheimer ou outros tipos de demência. Por exemplo, porque os diabetes danificam os vasos sanguíneos, já se sabe que constituem um fator de risco para a demência vascular que se caracteriza por problemas de memória e cognitivos.
O que explica a associação entre estas duas graves doenças? Estudos desenvolvidos nos últimos anos demonstram que tanto o diabetes como o Alzheimer partilham de determinadas moléculas extremamente lesivas conhecidas como produtos de glicação avançada (AGE, em inglês). Uma vez produzidas, estas substâncias afetam a estrutura e as funções de importantes proteínas no corpo.
É possível afetar o diabetes alterando os níveis de insulina? Ao induzir níveis altos de insulina em adultos saudáveis de idade entre 55 e 81 anos, os investigadores conseguiram elevar alguns marcadores da Alzheimer no cérebro.
Então e se os níveis de insulina forem propositadamente reduzidos? Poderia isso também produzir o efeito? Pesquisadores da Universidade de Saúde Pública de Boston relataram que indivíduos que usaram tiazolidinedionas (TZD), drogas para baixar os seus níveis de açúcar, diminuíram o risco de ter Alzheimer. De 142.328 pacientes que receberam uma primeira prescrição de TZD ou insulina sem terem consumido outros medicamentos previamente, foram registados 20% menos casos de Alzheimer em comparação com pacientes que não medicados.
Estes importantes estudos sugerem que prevenir ou tratar eficazmente a diabetes pode baixar o risco de desenvolver Alzheimer. Os efeitos positivos das mudanças na alimentação sobre a diabetes, assim como o exercício físico, são bem conhecidos. Agora existe uma razão adicional para fazer bom uso dos mesmos.
Dr. César Chelala realizou trabalho de pesquisa em bioquímica, genética molecular e farmacologia