Arqueólogos explicaram como o reino de Kerma, também conhecida como Núbia, floresceu no norte do Sudão e sobreviveu à grande seca catastrófica que devastou as famosas dinastias do Egito e Mesopotâmia há 4.200 anos.
Três canais do rio Nilo que estão secos hoje deram vida a este reinado famoso na fronteira nordeste com o Egito.
O estudo mostra que, entre 2500-1.500 a.C., Kerma floresceu graças aos leitos de canais do Nilo, que não eram nem muito altos nem muito baixos.
Esta cultura, que se crê proveniente dos anos 7500 a.C. devido a seus túmulos, construiu suas maiores cidades, centros religiosos e erigiu grandes muros nos séculos seguintes.
Mais tarde, no ano 1000 a.C., a civilização Kerma chegou ao fim quando os níveis da água elevaram-se demasiadamente e o sistema de canais secou.
Ainda assim, Kerma surpreendeu o mundo quando sobreviveu à seca catastrófica que devastou o Egito cerca de 4.200 anos atrás, o que criou caos por quase um século. Na mesma época, as civilizações do Oriente próximo e da Mesopotâmia também foram severamente afetadas pela seca.
“A relação entre a mudança climática e o desenvolvimento das antigas civilizações fluviais do mundo é pouco conhecida devido a dados inadequados que dificultam a integração efetiva dos registros arqueológicos, fluviais e climáticos”, disse o Prof. Jamie Woodward da Universidade de Manchester.
Mas agora, destacou o Prof. Mark Macklin da Universidade de Aberystwyth, trata-se do “trabalho conjunto de dados arqueológicos e paleoambientais mais completo já compilado até a data, ao longo do deserto do Nilo”.
“Em Núbia, há quatro mil anos, o povo Kerma cultivava, porque as inundações do rio eram grandes o suficiente para sustentarem a agricultura, mas não tão grandes a ponto de danificarem os assentamentos costeiros”, disse Woodward.
Nesse período, eles puderam florescer, desenvolvendo habilidade de artesanato notável, enquanto seus rivais no Egito enfrentavam conflitos ambientais, sociais e políticos, diz o arqueólogo.
De acordo com o relatório da Universidade, a equipe utilizou métodos de ponta de datação geológica para analisar os canais secos a 20 quilômetros de seu curso e foi a primeira vez que inundações individuais no deserto do Nilo foram datadas. Macklin e Woodward observaram centenas de poços profundos de irrigação escavados por modernos agricultores sudaneses.
Em alguns locais, os antigos leitos dos canais do Nilo ainda estão bem preservados e afloram na superfície do solo atual. Eles têm entre um e três quilômetros de largura, com os sítios arqueológicos dos Kerma em suas margens.
De acordo com Derek Welsby do Museu Britânico, que liderou a pesquisa arqueológica, “o sucesso de Kerma também foi devido a sua dependência das práticas de criação de animais que são menos suscetíveis à mudanças no nível da inundação; eles são mais móveis e mais capazes de lidar com o estresse ambiental”.
“Eles eram uma civilização verdadeiramente notável, produzindo algumas das cerâmicas mais extraordinárias no Vale do Nilo.”