Manifestantes estudantis de Taiwan pacificamente desocuparam o Parlamento, chamado ‘Legislativo Yuan’, na quinta-feira à noite, após ocuparem-no por 24 dias em protesto contra a proposta de acordo de comércio do governo de Taiwan com a China, que os manifestantes classificaram como uma preocupante “operação caixa-preta”.
O acordo comercial, que facilitaria investimentos pelo Estreio de Taiwan em setores como serviços financeiros, turismo, telecomunicações, serviços médicos e muito mais, foi assinado em junho passado por políticos chineses e taiwaneses numa conferência em Shanghai. Os opositores na época condenaram a falta de transparência e revisão dos termos em Taiwan.
Quando um parlamentar do Partido Nacionalista, que está no poder em Taiwan, tentou em 17 de março apressar a revisão do pacto no Parlamento – um passo necessário antes que possa ser promulgado – a população se agitou. Um protesto em massa se seguiu, com uma coalizão de estudantes e grupos civis invadindo o Parlamento em 18 de março.
Líderes estudantis discursaram antes de sair do Legislativo Yuan, em torno das 18h de quinta-feira, destacando que o Movimento Estudantil Girassol, como o nomearam, continuará e crescerá.
“Ocupar o Parlamento é apenas o prefácio deste movimento. No próximo capítulo, o movimento será por toda a sociedade, transformando a defesa em ofensiva”, disse o líder estudantil Chen Wei-ting no discurso, segundo uma transmissão da NextTV.
A decisão de acabar com a ocupação do Parlamento foi feita após o presidente da Câmara, Wang Jin-pyng, prometer publicamente no domingo parar a revisão do acordo de comércio antes que uma lei de fiscalização seja aprovada. Wang é conhecido por ser um antagonista político do presidente taiwanês Ma Ying-jeou, mesmo que sejam do mesmo partido político.
O discurso de Wang gerou frustração em seu partido, que o chamou de traidor pela promessa inesperada. Ma Ying-jeou respondeu insistindo que o pacto comercial seja revisado de forma rápida, acrescentando que ele poderia ser aprovado pelo Parlamento simultaneamente ao projeto de lei de supervisão. O Partido Nacionalista detém a maioria no Legislativo Yuan, assim sendo, uma revisão efetivamente transformaria o projeto em lei.
Mas se o Partido Nacionalista quebrar sua promessa, ele enfrentará forte resistência, alertaram líderes estudantis na quinta-feira. “Se um dia, nossa conquista e promessa forem quebradas novamente pelo partido no poder, eu anuncio isso agora: Este movimento se transformará numa resistência em grande escala, uma escala muito mais ampla de ações de protesto”, disse Chen Wei-ting. “Isso não é apenas um movimento estudantil, mas um movimento dos cidadãos desde o início.”
Outro líder estudantil, Lin Fei-fan, acrescentou: “Viemos aqui com ideais e estamos saindo com responsabilidades. Taiwan é nossa responsabilidade. Do governo ao Parlamento do país, tudo pertence ao povo, e também deve ser conduzido pelo e para o povo.”
Os manifestantes estudantis saíram do Legislativo Yuan segurando girassóis, que vieram a simbolizar o movimento, rodeados por uma multidão de repórteres e outros manifestantes. A multidão diminuiu em grande parte por volta da meia-noite, instigada pela polícia de choque.
Analistas do sistema político de Taiwan disseram que o Movimento Girassol tem sido uma força fundamental para cristalizar o senso de democracia de Taiwan.
“O apelo básico do movimento estudantil teve resposta positiva por meio da ocupação, que completou sua missão honradamente”, escreveu Antonio Chiang, um comentarista político e colunista de Taiwan, num artigo do Apple Daily, um jornal de grande circulação. “Isso aprofundou a democracia em Taiwan. A geração mais velha pode ficar à vontade em passar o trabalho para essas gerações de jovens.”