A Universidade de Hong Kong (HKU) defendeu seu prêmio de doutorado honorífico deste mês a um dos arquitetos do muito criticado sistema de transplante de órgãos da China após a União dos Estudantes da HKU criticar a decisão.
Depois de se reunir com o ex-vice-ministro da Saúde da China, Huang Jiefu, a União emitiu a declaração crítica, apontando para a admissão de Huang que o regime chinês tem extraído órgãos de prisioneiros condenados à morte. Um porta-voz da União dos Estudantes, disse que Huang lhes disse que não sabia de onde os órgãos vinham, que ele representava apenas o destinatário, uma posição que não parece se enquadrar com suas próprias admissões de remoção de órgãos de prisioneiros executados.
Defendendo a posição da HKU, um porta-voz da universidade disse: “A universidade é contra qualquer prática de coerção em transplantes de órgãos, que é uma violação dos direitos humanos básicos”, mas não abordou diretamente as atividades de Huang como ex-vice-ministro da Saúde.
A afirmação de Huang de não saber a origem dos órgãos parece vazia, uma vez que ele é o arquiteto do sistema de transplante de órgãos na China e, numa entrevista à Australia Broadcasting Corporation no ano passado, admitiu ter ele próprio extraído órgãos de prisioneiros executados.
Ele também disse numa Conferência Nacional de Transplante de Órgãos em 2004, em Shenyang, que um dos maiores obstáculos do sistema de transplante de órgãos na China era a grave escassez de doadores voluntários de órgãos, segundo a mídia estatal.
No entanto, em dois anos, o problema de doadores foi aparentemente resolvido, quando a mídia estatal citou Huang, que disse que a maioria dos órgãos para transplante vinha de prisioneiros executados, informou o Los Angeles Times. Esta foi essencialmente a mesma afirmação que o Ministério da Saúde emitiu novamente em 2012.
Muitos analistas do sistema de transplante da China acreditam que as autoridades chinesas só começaram a identificar prisioneiros executados como fonte de órgãos para transplante após uma perspectiva mais preocupante chegar à atenção do público: a de que a principal fonte de órgãos eram prisioneiros de consciência executados.
Provas que sustentam esta conclusão foram reunidas por dois pesquisadores canadenses em 2006, como a publicidade de hospitais sobre o curtíssimo tempo de espera de uma semana, e médicos admitindo em conversas telefônicas gravadas secretamente que executaram praticantes do Falun Gong que foram a fonte dos órgãos.
Ethan Gutmann, um pesquisador do sistema de transplante, acredita que mais de 60 mil órgãos foram extraídos de praticantes do Falun Gong entre 2000-2008. As autoridades chinesas, incluindo Huang Jiefu, nunca abordaram a evidência associada a estas conclusões.
No mês passado, um novo programa de doação de órgãos foi anunciado na mídia estatal Xinhua, retratando a Comissão Nacional de Saúde e Planejamento Familiar, o ex-ministro da Saúde, em conjunto com a Sociedade da Cruz Vermelha da China, e o ex-vice-ministro da Saúde Huang Jiefu servindo como diretor do comitê.
“Estou confiante de que em pouco tempo todos os hospitais credenciados deixarão de usar órgãos de prisioneiros”, disse Huang sobre o novo programa, em entrevista à Rádio Nacional da China.
Mas ele foi citado na mídia chinesa dizendo efetivamente o oposto. “Os órgãos judiciais e Ministérios de Saúde locais devem estabelecer relações e permitir que prisioneiros no corredor da morte doem órgãos voluntariamente e sejam adicionados ao sistema de dados de alocação de órgãos”, disse ele em declarações amplamente divulgadas. Os familiares seriam compensados financeiramente neste esquema, uma prática que médicos éticos consideram coercitiva e permissiva a abusos graves.
Esta não é a primeira vez que uma universidade tem sido criticada por honrar Huang Jiefu. No ano passado, um grupo de médicos exigiu que a Universidade de Sydney, Austrália, revogasse os títulos honoríficos que a instituição concedeu a Huang, citando sua admissão em ter se envolvido pessoalmente com extração de órgãos de prisioneiros.