Centenas de manifestantes em Taiwan invadiram as câmaras legislativas do país na terça-feira à noite e barricaram-se no interior, desafiando as tentativas do governo de avançar com um acordo comercial controverso com a China.
A causa imediata da revolta deveu-se à tentativa de um parlamentar do Partido Nacionalista, que está atualmente no poder, de acelerar a aprovação do novo ‘Acordo de Serviços e Comércio pelo Estreito’ com a China. Alguns grupos de Taiwan acreditam que o pacto destruiria empregos e dizimaria as pequenas e médias empresas, a força vital da economia de Taiwan.
A explosão é a demonstração mais tangível até agora do desconforto profundo de Taiwan com o crescimento das relações com a China e o Partido Comunista Chinês, cujo sistema de controles políticos e repressão estão em contraste gritante com as liberdades usufruídas em Taiwan.
Legisladores do Partido Nacionalista (chamado “Kuomintang” em chinês) já haviam concordado com uma deliberação cláusula por cláusula do acordo comercial. Mas em 17 de março, Chang Ching-chung, um legislador dos nacionalistas, em meio a uma gritaria comum no Legislativo Yuan (o Parlamento de Taiwan), declarou a revisão concluída antes mesmo de ter começado.
Na noite seguinte, estudantes furiosos e grupos civis invadiram o Legislativo Yuan e se estabeleceram. Embora haja pouca chance de que a lei não seja aprovada – há 65 deputados nacionalistas nos 113 assentos do corpo –, manifestantes disseram se opor intensamente à tentativa de contornar a revisão legislativa.
As tentativas da polícia de desalojar os ocupantes falharam, e novos oponentes das políticas do governo se juntaram ao protesto. Centenas permanecem no interior das câmaras, bloqueando as entradas com pilhas de cadeiras, enquanto mais de 10 mil se reuniram do lado de fora em apoio.
Um dos manifestantes configurou uma câmera, conectada à internet, direcionada para o Legislativo Yuan. Ela fornece imagens ao vivo e áudio dos eventos na câmara. Jovens sentados ao lado da câmera podiam ser ouvidos conversando sobre o que a polícia e os manifestantes estão fazendo, enquanto outros perambulam, conversam e dormem na câmara legislativa e seus cartazes permanecem pendurados nas paredes ou sobre as mesas.
Preocupação com o tamanho
Taiwaneses temem que o Acordo dê às grandes empresas chinesas acesso ao mercado interno de Taiwan e que as empresas locais não seriam capazes de competir. Uma declaração feita por líderes estudantis na quinta-feira disse: “As pequenas e médias empresas de Taiwan terão de enfrentar a concorrência de empresas chinesas subsidiadas pelo Estado – que têm capital abundante e utilizam modelos de negócios verticalmente integrados.”
E continuou: “Nós protestamos fortemente contra a administração do presidente Ma Ying-jeou – que agora tem baixo apoio da população – por controlar o Legislativo para aprovar o pacto de serviço de forma tão ríspida e entregar o futuro da nação”, segundo uma tradução do Taipei Times.
Taiwan é um país autogovernado que se tornou uma democracia após décadas de regime ditatorial do Partido Nacionalista, que fugiu para a ilha depois de perder a guerra civil na China para os insurgentes comunistas. O Partido Comunista Chinês afirma que Taiwan é parte da República Popular da China e diz que se reserva o direito de usar a força militar para retomar o controle.
Desde 2008, o atual presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, tem promovido uma série de políticas que aproximam Taiwan da China. O apaziguamento das tensões foi bem recebido, mas muitos taiwaneses estão preocupados com projetos políticos do Partido Comunista em Taiwan. Taiwan já se queixa de erosão da liberdade de imprensa por interesses comerciais vinculados à China. A recente onda de ataques à faca por bandidos anônimos em Hong Kong não melhorou as percepções do que uma aproximação maior com a China pode acarretar.
Um turista de Hong Kong, que observou o protesto, foi citado na mídia taiwanesa ETtoday dizendo: “O povo de Hong Kong já perdeu suas habitações. Taiwan deve ficar de guarda.”