Estudante-espião chinês deserta para Austrália

01/08/2012 03:00 Atualizado: 01/08/2012 03:00

Um estudante chinês que trabalhou como espião enquanto estudava no exterior recebeu visto de proteção australiano depois de afirmar que será perseguido se retornar à China.

O homem, cujo nome permanece desconhecido, apresentou um pedido de revisão ao ‘Tribunal de Revisão para os Refugiados’ (TRR) do governo australiano depois que lhe foi inicialmente negado um visto de proteção pelo Departamento de Imigração.

A decisão inicial do Departamento de Imigração foi indeferida pelo Tribunal, que o reconheceu como uma pessoa protegida sob a Convenção dos Refugiados.

A história do jovem começou numa cidade chinesa na província de Fujian, onde se ele juntou à Academia de Polícia depois de concluir o segundo grau. Na academia, ele foi selecionado pelo Departamento de Segurança Nacional (DSN), também conhecido como o Ministério da Segurança do Estado, para estudar no exterior com todas as despesas pagas pelo gabinete.

Havia apenas uma condição, em troca da bolsa de estudos no exterior, o homem foi obrigado a monitorar os alunos chineses com sentimentos anticomunistas e informar sobre as atividades dos praticantes do Falun Gong.

O homem e seu pai assinaram um contrato dizendo que se ele não cumprisse seus deveres, ambos seriam obrigados a devolver o dinheiro e estariam sujeitos a “punição”.

Apesar de assinar o contrato e comprometer seriamente sua família, o homem admitiu ao RRR, “Eu só queria ter a oportunidade de estudar no exterior… Eu nunca quis fazer nada para o DSN.”

O jovem estudante foi então submetido a um mês de treino intenso em língua e cultura ao lado de muitos outros estudantes recrutados pelo DSN.

O estudante foi então enviado para um país não revelado no exterior, onde deveria informar regularmente a dois contatos, ou “supervisores”, que atribuíam aos alunos tarefas específicas para coletarem informações.

Quando o aluno não conseguia fornecer a inteligência, os supervisores ameaçavam forçar sua família a pagar o dinheiro de acordo com o contrato.

A situação do aluno tomou um rumo inesperado quando ele fez amizade com um dos colegas com quem dividia a casa, uma jovem que ele logo descobriu ser uma praticante do Falun Gong após vê-la praticando os exercícios de meditação.

Ele achou a jovem uma pessoa “muito gentil e amigável” e optou por não denunciá-la a seus supervisores, ao invés disso, ele a alertou que havia espiões da China no país e que ela precisava “cuidar da própria segurança”. A mulher retornou mais tarde à China e os dois mantiveram contato.

Mais tarde, os supervisores solicitaram que o jovem espião descobrisse a identidade de outro estudante que havia enviado a China cópias dos livros do Falun Gong e uma série de artigos do Epoch Times, os ‘Nove Comentários sobre o Partido Comunista’.

A série de artigos, vista pelo Partido Comunista Chinês (PCC) como “anticomunista”, está vinculada ao movimento global de “Sair do PCC”, que já permitiu que mais de 120 milhões de chineses declarassem sua renúncia ao PCC e suas organizações afiliadas.

O estudante que tinha enviado o material era de fato um amigo da praticante do Falun Gong. Numa conversa telefônica, o jovem espião contou a sua amiga a verdade, revelando seu papel para o DSN e dizendo que ela deveria alertar seu amigo.

Este vazamento de informação chamou a atenção do DSN, que marcou o jovem como traidor e procurou sua família na China para punição.

Seu pai foi levado para interrogatório e disse que por causa das atividades “antigoverno” e “anticomunistas” de seu filho, a família agora deveria pagar 500 mil yuanes (c. 75 mil dólares) ao regime chinês.

Foi dado três meses a família para reembolsar o montante impossível, o que os obrigou a fugir, indo de um lugar para outro para evitar as autoridades.

A jovem também foi presa pelo DSN em Heilongjiang.

O estudante mostrou remorso em seu depoimento à TRR, dizendo, “Eu detesto profundamente no meu coração o governo comunista que sempre viola os direitos humanos básicos dos cidadãos chineses e acredito firmemente que todos têm o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião.”

Uma gravação da audiência do TRR e a decisão podem ser acessadas em: www.austlii.edu.au.