O mundo acaba de ganhar sua mais nova e hilariante piada internacional. Para variar um pouquinho, essa comédia conta com ingredientes que, em si mesmos, não são nada engraçados: depreciações da liberdade de expressão e um ditador totalitário da pior espécie. Mais uma vez, a piada envolve aquele que provavelmente é o país mais fechado em si mesmo de todo o mundo: a Coreia do Norte.
Não há nenhuma grande novidade nisso. Desde o advento do atual regime norte-coreano – regido por uma variante nacional do bom e velho comunismo conhecida como “ideologia Juche”, uma caricatura de religião que alça o líder supremo a um papel quase divino -, com o falecido King Jon-il, a “Best Korea” – referência satírica feita à inimizade com o vizinho capitalista, a Coreia do Sul, um Tigre Asiático de economia incomparavelmente pujante porque apostou no caminho certo – vem protagonizando os mais ridículos espetáculos perante a comunidade internacional. Especialmente quando resolvem bradar aos quatro ventos que promoverão grandes retaliações aos EUA e à civilização ocidental, invariavelmente apenas para choramingar as mesadas que permitem que a coisa por lá não fique mais insustentável do que já é, com toda sorte de miseráveis e famintos. Desde que o ditador foi substituído por seu filho, King Jong-un, a comédia atingiu níveis “estratosféricos”, rendendo histórias bizarras sobre unicórnios e cortes de cabelo para a imprensa deitar e rolar.
Desta vez, a bronca do pitoresco tirano é com Hollywood. Em uma clara afronta ao politicamente correto, escassa nos dias de hoje, a comédia “The Interview”, com lançamento previsto para outubro nos cinemas americanos, tem o “ditador bebê chorão” como personagem. Na trama, estrelando Seth Rogen e James Franco, os dois são integrantes de um programa de TV. O ditador norte-coreano é fã do programa e, sob o pretexto de entrevistá-lo, os dois são envolvidos num grande plano para ASSASSINÁ-LO. Sim, é isso mesmo que você leu. O filme narra uma tentativa de assassinato a King Jong-un.
Pode-se discutir se é de bom tom debochar de um governante de outro país em uma produção desse gênero – mas, convenhamos, se alguma autoridade dá razões para ser alvo de piadas, é o soberano esquentadinho da “Best Korea”. Mas não deveria ser posta em cheque, em hipótese alguma, a liberdade de expressão, pilar da ordem liberal simbolicamente representado entre os valores fundantes americanos – que a Coreia do Norte absolutamente desconhece. King Jong-un aproveitou a oportunidade, é claro, para dar seu show particular. Em comunicado divulgado pela agência estatal de notícias, KCNA (naturalmente que a manifestação seria por essa via), um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores ameaçou: “Se a administração dos Estados Unidos tacitamente aprovar ou apoiar o lançamento deste filme, vamos tomar uma contramedida decisiva e impiedosa”. Se não conhecesse a insanidade daqueles psicopatas, diria que isso só poderia ser brincadeira – mas, ao contrário do filme, que promete provocar gostosas gargalhadas, essa não tem graça nenhuma. Muito provável é que, na realidade, isto não se torne um verdadeiro ato de guerra, mas seja apenas mais uma manifestação da velha tradição Juche de suplicar pela esmola dos “ianques”.
Pensando melhor, talvez Hollywood não tenha feito tão bem em colocar mais holofotes sobre esse fascínora. No fundo, no fundo, ele deve até gostar desse “estrelato”… No meio dessa confusão toda, já preparo minha pipoca para conferir as tiradas de Rogen e Franco, que estarão nos melhores cinemas. Ah, quer dizer, não em todos. Os melhores cinemas, é claro, devem estar na Coreia do Norte, o melhor país do mundo. Lá o filme não deve passar…
Lucas Berlanza Correa é acadêmico de Jornalismo e especialista do Instituto Liberal
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