Estranha conferência de imprensa é censurada na China, mas reportada no Ocidente

10/01/2014 16:44 Atualizado: 10/01/2014 16:44

Consideremos o seguinte cenário hipotético: Warren Buffett convoca uma conferência de imprensa em Nova York. Primeiro, ele canta karaokê. Então, por 10 minutos, ele apresenta suas opiniões sobre questões internacionais.

Finalmente, ele explica por que convocou a conferência: ele está pagando US$ 2 milhões para a cirurgia de reconstrução de duas mulheres, que diz se dizem ex-cristãs, que se puseram em chamas há 13 anos. Ele traz as duas mulheres gravemente desfiguradas ao palco e remove as ataduras de seus rostos devastados pelas queimaduras. E eles passam a difamar o cristianismo.

Os jornalistas presentes ficariam perplexos e horrorizados: o que este homem está pensando? No entanto, um empresário chinês afiliado ao regime comunista da China fez exatamente isso num evento para a imprensa em Nova York na terça-feira. Em vez do cristianismo, as mulheres atacaram o Falun Gong, uma prática espiritual pacífica que é brutalmente perseguida na China. E tudo foi devidamente relatado pela impassível mídia ocidental.

Na China, o desdobramento foi diferente: a história foi censurada online. Permitir que a conferência de imprensa fosse reportada teria dado nova vida a uma facção que a liderança atual do Partido Comunista Chinês (PCC) está tentando tirar de jogo.

O executivo chinês que convocou a conferência de imprensa nada ortodoxa no JW Marriott Essex House Hotel é chamado Chen Guangbiao. Entre sua coleção de títulos em seu cartão comercial estão: “Mais conhecido e amado ideal chinês” e “Maior especialista em demolição e preservação ambiental da China”.

Um camarada do Partido

Em outras palavras, Chen está no negócio de demolição e também no negócio de reciclagem. Segundo a imprensa chinesa, ele recebeu grande apoio do PCC. Uma anedota retransmitida numa reportagem do Sohu, um portal chinês de notícias, dizia que o prefeito de Nanjing entregou a Chen 80% do trabalho de demolição na cidade após ter ficado impressionado com sua generosa atividade filantrópica.

Em websites pertencentes a uma de suas empresas, Chen pode ser visto agradecendo e louvando efusivamente o Partido Comunista. Uma circular incentiva sessões de estudo sobre a teoria marxista e o socialismo com características chinesas. Sua empresa também organizou uma “comemoração com canções vermelhas”, em que os participantes cantavam canções revolucionárias em louvor ao regime comunista.

Repórteres do Epoch Times descobriram todas essas histórias e muito mais claramente visíveis em seus websites. Mas reportagens da mídia ocidental – devido à falta de pessoal em língua chinesa ou desconhecimento institucional de como a riqueza e o poder estão inextricavelmente entrelaçados na República Popular da China – falhou quase que inteiramente em documentar os laços de Chen com o Partido Comunista.

O Business Insider ainda permitiu que Chen declarasse sem contestação: “Não há nada relacionado ao governo… Por causa do meu grande destaque nos últimos anos, os funcionários do governo e as pessoas ricas não gostam de interagir comigo.” Mas isso não é o que o registro mostra na internet em língua chinesa.

China Central de Televisão

Um dos contratos de demolição mais notáveis de Chen foi para derrubar em 2010 parte do Edifício Norte do Centro Cultural da CCTV, a emissora de TV estatal, que pegou fogo. Os contratos com quaisquer instituições estatais são conhecidos por serem repartidos entre amigos e aliados na China, segundo especialistas no funcionamento da burocracia chinesa.

“Normalmente, um homem de negócios precisaria de um relacionamento muito forte para conseguir um trabalho de demolição relacionado à CCTV”, disse Heng He, um analista político da NTDTV, uma emissora chinesa independente sediada em Nova York.

O Diário do Povo, o jornal oficial do PCC, publicou uma entrevista exclusiva com Chen sobre o trabalho de demolição que ele realizaria.

Imolação

Uma década antes, o vice-diretor da CCTV era o funcionário Li Dongsheng. Ele ocupou esse cargo de 1993 a 2000, e passou a maior parte do período trabalhando no show “Focus Talk”. O programa procura realizar uma investigação, estilo “60 Minutes”, e depois se segue o noticiário da noite.

Em 2000, Li foi transferido de função, para vice-diretor do ‘Escritório do Grupo da Liderança Central para Lidar com a Questão do Falun Gong’, e ficou encarregado da propaganda. O Partido Comunista frequentemente estabelece comissões e agências ad hoc e pequenos grupos de liderança com amplos poderes para lidar com questões políticas prementes.

De seu novo poleiro, Li começou a afiar a propaganda que era usada para atacar a prática espiritual do Falun Gong. O grupo era perseguido desde 1999, mas a campanha de difamação não conseguiu mobilizar o público.

Então, em 23 de janeiro de 2001, a mídia estatal chinesa começou a publicar uma enxurrada de reportagens dizendo que cinco (mais tarde revisto para sete) praticantes do Falun Gong haviam colocado fogo em seus corpos na Praça da Paz Celestial, mas não em protesto contra a perseguição, o que teria inspirado simpatia, e sim porque queriam “entrar no céu”.

Os ensinamentos do Falun Gong proíbem o assassinato e o suicídio. Analistas apontaram inúmeras inconsistências nos relatos oficiais do governo e da mídia chineses, argumentando que era obviamente uma encenação elaborada usada para incitar o ódio contra o Falun Gong.

As autoridades chinesas “usaram isso como pretexto para aprovar o uso sistemático da violência e do encarceramento extrajudicial contra praticantes do Falun Gong, elevando exponencialmente o número de mortes devido a torturas e abusos sob custódia das autoridades”, segundo o Centro de Informações do Falun Dafa.

Em sua coletiva de imprensa em Nova York em 7 de janeiro, Chen Guangbiao disse que trazia duas vítimas de queimaduras daquele incidente e que ele estava pagando todo o procedimento cirúrgico reconstrutivo. Devido ao controle hermético da informação na China, não há como verificar a alegação de que as mulheres com cicatrizes que ele exibiu tem qualquer relação com o falso incidente de imolação. Contudo, isso foi relatado como fato em muitos artigos da mídia ocidental.

Censura imediata

Relatos da mídia chinesa que foram escritos sobre a conferência de imprensa foram apagados da internet horas depois de terem sido publicados. QQ News, Twenty-First Century Business Herald, Observer, First Financial e outros republicaram os artigos, mas todos foram removidos.

De acordo com Heng He, isso provavelmente tem a ver com o fato de que no final de dezembro, Li Dongsheng, o mentor do incidente de imolação e da propaganda feroz que se seguiu, foi afastado do cargo e colocado sob investigação disciplinar pelo Partido Comunista. Sua carreira política acabou.

As autoridades chinesas de propaganda rapidamente reprimiram a história, porque, segundo Heng He, “isso teria enviado um sinal errado às pessoas no Partido Comunista”, que a facção política da qual Li Dongsheng faz parte estaria ressurgindo.

“Não é que eles queiram fazer algo de bom pelo Falun Gong”, comentou Heng He, “e sim que eles não querem que as pessoas tenham a impressão errada sobre o cenário político.”