Estranha coincidência: os mais ricos da China estão ligados ao Partido Comunista

10/11/2015 07:00 Atualizado: 10/11/2015 01:29

Nove dos dez homens mais ricos da China possuem laços com o Partido Comunista Chinês, segundo um relatório recente da mídia estatal chinesa Beijing Youth Daily, publicado após o lançamento do Relatório Hurun, uma pesquisa anual sobre os mais ricos na China. Esta correlação reforça ainda mais a natureza entrelaçada de negócios e política no país.

Wang Jianlin, o magnata do entretenimento e das propriedades que liderou a lista Hurun, é membro da Chinese People’s Political Consultative Conference (Conferência político consultiva do Povo Chinês – CPPCC), um órgão consultivo político. Além de Wang, Robin Li da gigante da Internet Baidu, Lu Zhiqiang da China Oceanwide Holdings Group, Zhang Jindong da Suning Commerce Group, maior varejista da China, e detentor dos direitos da Red Bull Yan Bin; todos participaram das recentes sessões da CPPCC.

Os representantes do National People’s Congress (Congresso Nacional do Povo), conhecido como a legislatura do regime chinês, incluem: Zong Qinghou, o chefe da Hangzhou Wahaha Group, maior produtor de bebidas da China; Pony Ma, o chefe da empresa de Internet Tencent Holdings; Lei Jun, o fundador da nova empresa de smartphones Xiaomi Technology; e Lu Guanqiu, chefe da empresa de componentes automotivos Wanxiang Group Corporation.

Dois da lista dos mais rico,  Wang Jianlin  e Lu Guanqiu tiveram a honra de participar das sessões do Congresso Nacional, um evento quinquenal em Pequim, onde nomeações políticas pré-arranjadas para altos cargos do Partido são colocadas a voto e formalmente sancionados.

Yan Hao, a sexta pessoa mais rica da China, e fundador da maior empresa privada de construção da China, a Pacific Construction Group, não possui um alto posto político e não é membro dos grupos consultivos mencionados. Entretanto, é atualmente o vice-diretor da associação estatal de negócios privados da China e vice-diretor executivo da Sociedade de Pesquisa Econômica Privada da China.

Os negócios e a política estão intimamente ligados na China comunista. Ter um membro do Partido e laços de amizade com a elite do Partido ajuda os empresários a garantir grandes projetos e investimentos no ambiente de negócios extremamente competitivo do país.

Por sua vez, o Partido coopta estes empresários em suas reuniões e eventos políticos para dar um sinal de inclusão. Por exemplo, quatro membros dos top dez da lista Hurun, Robin Li, Lu Guanqiu, Jack Ma e Pony Ma, faziam parte do grupo de empresários chineses que acompanharam o líder do Partido Xi Jinping em sua primeira visita oficial aos Estados Unidos.

Leia também:
China anuncia que passará a permitir dois filhos por casal
É oficial: ‘espalhar rumores’ na China acarretará até sete anos de cadeia
Regime chinês está cometendo genocídio contra prisioneiros de consciência, revela documentário

Mesmo os indivíduos que parecem não estar conectados com o Partido, o colocam para cima publicamente. Em um discurso na Universidade de Columbia em 2011, Jack Ma, CEO do conglomerado chinês de comércio eletrônico Alibaba, disse que se o Google quisesse ter sucesso na China, deveria “respeitar o governo”. Jack Ma também reconheceu mais tarde ter passado “muito tempo” estudando como o partido comunista chinês funciona.

Em julho 2014, o New York Times publicou que quatro empresas chinesas que investem no Alibaba são dirigidas por filhos ou netos de ex-oficiais de alto escalão do governo da China.

A Alibaba, no entanto, em janeiro foi repreendida pelas autoridades chinesas pela venda de mercadorias de contrafacções e outras violações. O ataque à empresa de Ma foi visto em alguns setores como um “respingo” de uma luta feroz de facção do partido. Alvin Jiang Zhicheng, neto do ex-líder chinês Jiang Zemin, tem uma participação de 5,6 por cento na Alibaba. Jiang, sua família e associados, são os principais alvos na campanha anticorrupção do atual líder do partido comunista, Xi Jinping.

O Relatório Hurun sobre os mais ricos da China teve início com Rupert Hoogewerf, um contador certificado oficialmente e considerado um termômetro confiável das grandes fortunas na China.

O relatório de 2015 encontrou na China 596 bilionários, em comparação, os Estados Unidos possui 537. Estes 1.877 cidadãos chineses da lista empregam algo acima de 1 por cento dos 801 milhões de pessoas da força de trabalho da China, e pagaram 100 bilhões de dólares em impostos.

Hoogewerf, presidente e pesquisador chefe do Relatório Hurun, disse: “Apesar da desaceleração da economia, os mais ricos da China desafiaram a gravidade, registrando o melhor ano da história e criando fortuna que qualquer outro país jamais fez em um ano”.

Os dez mais ricos chineses de acordo com o Relatório Hurun:

1) Wang Jianlin, Wanda Group, $ 34,4 bilhões
2) Jack Ma, Alibaba Group, $ 22,7 bilhões
3) Zong Qinghou, Wahaha, $ 21,1 bilhões
4) Pony Ma, Tencent, $ 18,8 bilhões
5) Lei Jun, Xiaomi Technology, $ 14,4 bilhões
6) Yan Hao, China Pacific Construction, $ 14,2 bilhões
7) Robin Li, Baidu, $ 13,3 bilhões
8) Lu Zhiqiang, China Oceanwide Group of Beijing, $ 13 bilhões
9) Zhang Jindong, Suning Group, $ 12,7 bilhões
10) Lu Guanqiu, Wanxiang Group, $ 10,2 bilhões
10) Yan Bin, Reignwood Group, $ 10,2 bilhões

Frank Fang contribuiu para este artigo