Estatísticas oficiais chinesas apresentam um cenário econômico sinistro

08/02/2013 16:53 Atualizado: 08/02/2013 16:53
Contêineres estocados no Porto de Ningbo, China, em 21 de junho de 2012 (Peter Parks/AFP/Getty Images)

Pouquíssimas pessoas consideram as estatísticas provenientes da China ao pé da letra. O regime chinês e os governos locais têm um longo histórico de manipulação ou até mesmo de completa falsificação dos dados econômicos.

No entanto, embora dados mais confiáveis não estejam disponíveis, aqueles publicados pela Secretaria Nacional de Estatísticas da China continuam a ser os únicos utilizáveis para análise. Independente do quão confiável sejam, esses dados ainda podem permitir espreitar a realidade econômica da China.

PIB

De acordo com números da Secretaria, o crescimento do PIB diminuiu drasticamente em 2012, pelo menos em comparação com os últimos anos. A taxa de crescimento de 2012 de 7,8% é a menor nos últimos 13 anos.

Considerando esses 7,8% literalmente, a questão que permanece é se a China pode voltar ao crescimento de dois dígitos no futuro. Acredito que é muito improvável que a taxa de crescimento econômico da China possa se recuperar para os níveis da década passada.

Isto porque outras estatísticas ilustram claramente que a desaceleração do crescimento econômico da China em 2012 é generalizada e multifacetada. Não é apenas o investimento; outras áreas, como exportações e imóveis, mostram um crescimento muito mais lento. Além disso, a estrutura demográfica global do país mudou substancialmente. A expansão contínua da força de trabalho alimentou o crescimento ao longo das últimas décadas. Esta tendência agora se inverteu e a população da China em idade produtiva está encolhendo.

Ao olhar para cada aspecto do combinado de crescimento, podemos ver que um retorno ao crescimento de dois dígitos é praticamente impossível.

Exportações

Observemos as exportações primeiro. As exportações da China em 2012 cresceram 7,9%, abaixo dos 25 e 31% de crescimento em 2011 e 2010, respectivamente. Durante os últimos 20 anos, as exportações chinesas têm tido uma taxa de crescimento superior a 20% ano a ano. Na verdade, o boom econômico da China foi em grande parte devido ao crescimento rápido das exportações.

Há várias razões que retardam o crescimento das exportações. A queda da economia global é certamente um fator. O aumento do custo de produção reduziu a competitividade da China. Como a população em idade produtiva estabilizou, os custos trabalhistas têm aumentado rapidamente nos últimos anos.

Além disso, ao manter o yuan atrelado ao dólar a uma taxa artificialmente baixa, a China também sofre com a inflação dos preços das commodities quando o preço do dólar aumenta. Como a China não tem grandes quantidades disponíveis das commodities mais comuns – carvão e terras raras são notáveis exceções –, o país necessita importar e pagar o preço. Um yuan mais elevado faria mercadorias importadas mais baratas, mas, ao mesmo tempo, tornaria os produtos chineses mais caros no mercado mundial, enfim, uma dilema.

Mercado de trabalho

A inflação salarial é em parte devido à força de trabalho que está atualmente encolhendo. Pela primeira vez, em 2012, a força de trabalho entre 15 e 59 anos diminuiu em 3,45 milhões ou 0,4%, quando comparada com a de 2011. Se a velocidade de declínio continuar a mesma, isso terá um enorme impacto nos salários e no crescimento econômico futuro.

Durante as últimas três décadas, as exportações da China se beneficiaram muito com sua mão de obra barata, graças à abundante oferta de uma mão de obra chinesa faminta por trabalho que se mudava do campo para as cidades em expansão. No entanto, a mudança demográfica é um dos principais fatores que elevaram o custo trabalhista.

Em outras palavras, a política do filho único, que gerou o chamado “dividendo demográfico” e permitiu o crescimento do PIB da China no passado, agora tem uma influência negativa. No momento, a força de trabalho está diminuindo e a tendência perdurará por várias décadas antes de uma reviravolta, assumindo uma reviravolta seja possível.

Investimento

O investimento em infraestrutura e capital de produção costumava ser o principal motor de crescimento do PIB da China. Entretanto, a taxa de crescimento do investimento do ano passado caiu de 24-25% para 20%. A diminuição foi especialmente visível no setor imobiliário; que caiu de 27-28% para 16%. Estes são todos fatores-chave que afetam o crescimento do PIB da China e não podem ser revertidos facilmente.

Penso que o modelo chinês de crescimento guiado pelo investimento, que tem operado por um longo tempo, precisa mudar. Nos últimos dez anos, depender de grande investimento para empurrar o PIB causou grave poluição ambiental. Sem controlar a qualidade do investimento e melhorar o ambiente natural, haverá um impacto negativo substancial sobre a sociedade, o equilíbrio ecológico, a economia chinesa e, especialmente, sobre a qualidade de vida das pessoas.

Consumo

Quanto ao consumo, sua contribuição percentual para o PIB está diminuindo ano a ano. Ele desceu de 50% nos anos 1960/70 para 30% agora. A razão para a queda, acredito eu, é a desigual distribuição de renda.

A desigualdade evidencia-se no coeficiente Gini da China. Um coeficiente Gini de 0,4 significa que a renda está injustamente distribuída. Se for maior que 0,4, isso mostra grande diferença nos níveis de renda e alta probabilidade de agitação social.

O coeficiente Gini publicado oficialmente pela China de 0,47 já é bastante alto. No entanto, de acordo com a Universidade Sudoeste de Finanças e Economia, esse valor já atingiu 0,61 em 2010. Isto significa que a imensa maioria do povo chinês não se beneficia com o crescimento econômico.

O aumento real da renda da população, ajustado pela inflação, é mínimo. Preços imobiliários exorbitantes significam que uma grande porcentagem de renda das pessoas é necessária para comprar uma habitação. Eles também precisam pagar por seguro de saúde e educação. Como o rendimento disponível real não está crescendo, o percentual de consumo no PIB está diminuindo ano a ano.

Ironicamente, os salários nominais continuam a aumentar, elevando os custos de muitas empresas. No entanto, as pessoas comuns não estão se beneficiando, pois seus aumentos salariais estão sendo devorados pela inflação no setor de alimentos, imobiliário e de serviços essenciais.

Renda

Olhando mais de perto as estatísticas de renda da China de 2012, o aumento da renda média para áreas rurais e urbanas é de cerca de 10%, o que é muito impressionante. No entanto, uma pesquisa realizada pelo Diário da Manhã da China mostra uma figura completamente diferente.

Setenta por cento das pessoas na pesquisa disseram que sua renda não aumentou em 2012. Por um lado, as estatísticas nacionais dizem que a renda média aumentou 10% ou mais, por outro lado, 70% das pessoas dizem que sua renda não aumentou de forma alguma, uma fortíssima contradição.

Na verdade, não há qualquer contradição, pois os números oficiais representam apenas a renda “média”. Apenas um número pequeníssimo de pessoas com grandes crescimentos na renda aumentou o número médio. Uma música popular na China explica vividamente este processo: “Há um Zhang rico em nossa aldeia que tem dezenas de milhões; há também nove caras que não têm nada. Se calcularmos em média, todos são um Zhang milionário.”

A injustiça na distribuição da riqueza na China é causada pelo distorcido modelo de desenvolvimento econômico e por problemas enraizados no sistema social chinês – corrupção, nepotismo, repressão financeira, poder de monopólio e empréstimos usurários. Os problemas se agravaram ao longo dos anos e a injustiça na distribuição da riqueza se tornou mais e mais severa.

A injustiça social é um tema quente que é falado por pessoas de todos os níveis sociais, tanto fora quanto dentro do círculo político. Muitos protestos e manifestações estão relacionados a isso e os conflitos sociais estão se intensificando. O regime chinês tem de enfrentar todos esses problemas se quiser retornar ao crescimento de dois dígitos.

Tianlun Jian, PhD, escreve regularmente sobre a economia chinesa e aconselha o Epoch Times sobre questões econômicas. Seu blogue é Chineseeconomictrend.blogspot.com.

Epoch Times publica em 35 países e em 21 idiomas.

Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT

Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT