Certa vez, ao transitar pelos corredores do Fórum, fui chamado por um dos juízes ao seu gabinete.
– Olha só que erro ortográfico grosseiro temos nesta petição!!! Estampado logo na primeira linha do petitório lia-se: “esselentíssimo juiz”.
Gargalhando, o magistrado me perguntou :
– Por acaso esse advogado foi seu aluno na Faculdade?
– Foi sim – reconheci.
Mas onde está o erro ortográfico a que o senhor se refere?
O juiz pareceu surpreso:
– Ora meu caro, acaso você não sabe como se escreve a palavra excelentíssimo?
Então expliquei-me:
– Acredito que a expressão pode significar duas coisas diferentes. Se o colega desejava se referir a excelência dos seus serviços, o erro ortográfico efetivamente é grosseiro. Entretanto, se fazia alusão a morosidade da prestação jurisdicional, o equívoco reside apenas na junção inapropriada de duas palavras.
O certo então seria dizer “Esse lentíssimo juiz“.
Depois disso, aquele magistrado nunca mais aceitou, com naturalidade, o tratamento de excelentíssimo juiz. Sempre pergunta:
– Devo receber a expressão como extremo de excelência ou como superlativo de lento?