Enquanto trabalhava para duas companhias norte-americanas da área química, um cientista chinês roubava segredos comerciais e partilhava-os com seus cúmplices para projetos posteriores, assistindo os objetivos estratégicos em longo prazo do Partido Comunista Chinês no campo científico, de acordo com documentos de um tribunal num caso recente.
O chinês Huang Kexue foi acusado por espionagem econômica e roubo de segredos comerciais em agosto de 2011, de acordo com um comunicado de imprensa do FBI de 18 de outubro. Se condenado, ele pode pegar até 15 anos de prisão.
Huang conduziu os roubos nas empresas Dow AgroSciences e Cargill Inc., companhias do ramo de biotecnologia, química e agricultura, nas quais tinha posição de responsabilidade e supervisão de projetos de pesquisa.
Em julho de 2010, Huang foi acusado do primeiro roubo, cometido na Dow; em novembro de 2010, foi acusado formalmente por roubo na Cargill. As acusações admitem culpa em ambos os crimes.
Em 2005, durante sua temporada de 2003 a 2008 na Dow, Huang liderou a pesquisa da companhia sobre um tipo particular de pesticida orgânico, mas também contrabandeou material biológico que pesquisava para cúmplices na Alemanha e China, encaminhando-o depois para posterior pesquisa que beneficiasse a Universidade Normal de Hunan, na China.
Huang trabalhou com cientistas da Universidade Normal de Hunan, da Fundação Nacional de Ciência Natural da China e do Programa 863, todas as três instituições fundadas pelo Estado chinês; este último é um projeto de longo termo do PCCh para alcançar e competir com os países ocidentais em ciência e tecnologia.
A pesquisa roubada à Dow ajudou a Universidade Normal de Hunan a receber uma bolsa da Fundação Nacional de Ciência Natural da China. Em seguida, contrataram estudantes universitários para conduzir novas pesquisas com o material roubado, orientados por Huang.
Os investigadores publicaram seus resultados baseados nos segredos roubados nos jornais científicos da China glorificando a reputação da Universidade Normal de Hunan e “posicionando a universidade para ganhos táticos e estratégicos”, de acordo com o documento do caso.
Huang também tentou identificar fábricas na China onde sua pesquisa roubada pudesse ser transformada em produtos para venda no mercado mundial. Documentos do tribunal não indicam se companhias do Estado ou privadas conduziram a operação.
Se bem sucedido, o plano colocaria as firmas chinesas em competição direta com a Dow, usando segredos roubados da mesma empresa, uma táctica comum na estratégia de desenvolvimento econômico da China na sua luta competitiva com o Ocidente.
Em março de 2008, Huang foi contratado pela Cargill, um mês depois de ter terminado sua ligação com a Dow.
Aproximadamente um ano depois, a Cargill apanhou-o removendo informações de sequências de ADN de um disco da rede de dados comum da empresa para um drive particular. Os sistemas da Cargill também detectaram que ele copiou informações para um drive USB. Ele foi demitido em julho e recebeu uma carta da companhia no dia 10 do mesmo mês lembrando-o de suas obrigações de confidencialidade.
Em outubro, Huang enviou a sequência de ADN roubada a um estudante na Universidade Normal de Hunan que ele orientava enquanto trabalhou em Boston.
As companhias trabalharam com o FBI e procuradores para reunir as provas necessárias para uma condenação. Conforme documentos do tribunal, a operação incluiu a leitura dos e-mails de Huang e pelo menos uma operação de apreensão na Alemanha em agosto de 2010, onde um aluno universitário a quem Huang passou informações confidenciais estava a trabalhar.
Os roubos de Huang custaram às empresas um total entre 7 a 20 milhões de dólares de acordo com os documentos do tribunal.
“O Sr. Huang usou seu status de colaborador em duas das maiores empresas de desenvolvimento agrícola dos EUA para roubar valiosos segredos e usá-los posteriormente em seu país natal, a China […] Estes crimes representam um perigo para a economia dos EUA e põem em risco a liderança em inovação da nação”, afirmou o Procurador-Geral Breuer, de acordo com um comunicado de imprensa do FBI.
O FBI, a Dow Agrochemical e a Cargill não puderam ser contatados a tempo para esta publicação; Jamie Edgar, o advogado de Huang, não fez comentários.