O ex-chefe da segurança chinesa Zhou Yongkang foi acusado de vazar segredos de Estado e especialistas em China estão especulando o que seriam essas informações privilegiadas.
À meia-noite de 5 de dezembro a mídia estatal Xinhua anunciou que Zhou foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC) por uma série de crimes, incluindo violar a disciplina do Partido, usar sua posição para ganhar dinheiro ilegalmente, aceitar suborno, abusar do poder, causar enormes prejuízos e danos aos ativos do Estado e “vazar segredos do Partido Comunista e do Estado”.
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Zhou foi até recentemente um dos homens mais poderosos da China. Ele dirigiu a organização do PCC que tinha autoridade sobre quase todas as partes do sistema de segurança interna, incluindo 1,5 milhão de policiais militares. Um ex-membro do Comitê Permanente do Politburo, o órgão máximo do poder no regime chinês, Zhou é o mais alto funcionário comunista a ser purgado desde o fim da Revolução Cultural em 1976.
Devido a seu antigo poder e posição, Zhou tinha acesso a muitos segredos do Estado. Diferentes especialistas em China têm especulado sobre os segredos que ele é acusado de ter vazado.
Informação financeira
Zhong Weiguang, um conhecido estudioso do totalitarismo, disse ao Epoch Times que os “segredos” são provavelmente as informações financeiras de outros líderes do PCC que foram vazadas para a mídia fora da China.
Em junho de 2012, a Bloomberg publicou um artigo detalhando a riqueza da família de Xi Jinping, na época o vice-presidente do PCC e que se tornou o novo líder chinês em novembro do mesmo ano.
Em outubro de 2012, o New York Times expôs a riqueza da família do então primeiro-ministro Wen Jiabao, matéria pela qual Barboza ganhou um prêmio Pulitzer.
Zhong Weiguang disse que o vazamento de informações financeiras foi provavelmente usado por Zhou como uma estratégia para atacar líderes rivais na luta de poder no PCC. Zhou era uma figura de destaque na facção do ex-líder chinês Jiang Zemin.
No verão e outono de 2012, Wen Jiabao e Xi Jinping seriam considerados inimigos da facção de Jiang. Wen Jiabao havia assumido a liderança no sentido de instar que Bo Xilai, um membro da facção de Jiang, fosse investigado. Xi Jinping, que era o próximo na sucessão pela liderança do PCC, era visto como um obstáculo pela facção de Jiang que buscava de toda a forma retomar o poder no PCC.
A riqueza dos líderes do PCC é considerada informação altamente sensível – o PCC entende muito bem o profundo ressentimento que essa informação pode provocar no povo chinês. As reportagens do New York Times e da Bloomberg foram interpretadas por analistas sobre a China como informação que enfraqueceu Wen e Xi.
Em janeiro de 2014, o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) revelou documentos vazados sobre parentes próximos dos principais líderes chineses que possuem empresas offshore secretas em paraísos fiscais. Entre os registros estão informações sobre famílias das elites mais poderosas da China, como o atual líder chinês Xi Jinping, o ex-líder chinês Hu Jintao, o ex-primeiro-ministro Wen Jiabao, etc.
Muitas mídias têm apontado que ninguém das famílias do ex-líder chinês Jiang Zemin e de seus aliados Zhou Yongkang e Zeng Qinghong foi mencionado no documento vazado, embora eles tenham a reputação de terem obtido riqueza extraordinária por meio da corrupção.
A conhecida economista chinesa He Qinglian publicou um artigo de opinião na Voz da América indicando que é possível que Zhou tenha vazado a informação no relatório do ICIJ para a mídia fora da China.
“Zhou tinha a poder para apagar as informações relacionadas às famílias de Jiang Zemin, Zeng Qinghong e inclusive a sua, e em seguida vazar a informação para o estrangeiro”, escreveu He Qinglian.
Aviso para Bo Xilai
Wen Zhao, um comentarista político da NTDTV, opinou que os “segredos vazados” também poderiam se referir a Zhou Yongkang ter compartilhado as decisões da alta liderança com Bo Xilai, um ex-chefe do Partido Comunista em Chongqing que atualmente cumpre prisão perpétua, após Wang Lijun, seu braço-direito e vice-prefeito de Chongqing, fugir para o consulado dos Estados Unidos em Chengdu em fevereiro de 2012 tentando desertar. Wen Zhao acredita que Zhou Yongkang ordenou que Bo Xilai capturasse Wang Lijun.
Wang Lijun, enquanto estava sob custódia do consulado dos EUA e depois sob custódia de funcionários disciplinares de Pequim, teria fornecido provas de que a esposa de Bo Xilai assassinou o empresário britânico Neil Heywood, além de informações implicando Bo Xilai em diversos crimes.
O jornal japonês Yomiuri Shimbun citou um funcionário do Ministério da Justiça da China que indicou que Zhou, que era o maior apoiador de Bo Xilai, primeiramente vazou informações secretas envolvendo os casos de Wang e de Bo para Bo Xilai.
Bo foi demitido após o incidente de Wang Lijun. Mais tarde, ele foi a julgamento e condenado em setembro de 2013 à prisão perpétua por aceitar subornos e abuso de poder.
“Bo Xilai também admitiu durante o julgamento que recebeu instruções do escalão superior [para lidar com o incidente de Wang Lijun], muito provavelmente de Zhou Yongkang. O PCC quer conectar os casos de Bo e Zhou por meio dessa pista. O funcionário [do Ministério da Justiça] afirmou que, na verdade, Bo e Zhou são parceiros”, disse Wen.
O Epoch Times reportou anteriormente, citando fontes no PCC, que Bo e Zhou conspiraram para remover Xi Jinping do poder depois que ele fosse nomeado secretário-geral.
Alerta para Jiang Zemin
O analista político Zhang Tianliang acredita que a acusação de “vazar segredos do Partido Comunista e do Estado”, revela uma divisão nos altos escalões do PCC. Embora o Partido tenha decidido divulgar essa acusação, não é esperado que ela seja abordada num tribunal ou julgamento.
“São segredos de Estado afinal de contas”, disse Zhang. “Se isso for levado ao tribunal, isso exporia mais e mais escândalos. Assim, não acho que isso seria mencionado num tribunal.”
Zhang acredita que a divulgação dessa acusação serve para alertar o grupo de Zhou que este não é o fim, e que mais pessoas poderão ser derrubadas.
“Agora que Zhou Yongkang caiu, derrubar [o ex-líder chinês] Jiang Zemin e [seu aliado político] Zeng Qinghong está cada vez mais próximo”, disse Zhang. “Eles definitivamente tentarão seu melhor para contra-atacar.”
O advogado chinês Sui Muqing disse ao Epoch Times que a acusação de “vazar segredos de Estado” contra Zhou é parte da luta de poder em curso. Sui disse que essas acusações são por vezes utilizadas como forma de vingança. Por exemplo, o jornalista chinês veterano Zhou Yu foi detido em abril deste ano por “vazar segredos de Estado para o estrangeiro”. Essa acusação usada contra um funcionário de alto escalão é mais óbvia, disse Sui.