Especialista propõe alternativas para reparar e salvar o telescópio espacial Kepler

24/07/2013 09:36 Atualizado: 06/08/2013 16:47
O telescópio Kepler parou de funcionar devido a uma avaria, busca-se alternativas para consertá-lo e colocá-lo de novo em operação
Foto artística mostrando o telescópio espacial Kepler (NASA)
Foto artística mostrando o telescópio espacial Kepler (Divulgação/NASA)

A Nasa anunciou oficialmente em 15 de maio que o telescópio espacial Kepler, principal recurso dessa agência para a detecção de planetas fora do sistema solar, sofreu uma falha crítica e que em breve poderá ser desativado.

O telescópio Kepler foi construído para ser extremamente estável, pois só assim é possível obter imagens sem distorção óptica. Ele possui quatro ‘reaction wheels’, que são rodas que funcionam como giroscópios para controle de sua estabilidade. Pelo menos três delas devem funcionar para manter o Kepler estável. Uma falhou há pouco mais de um ano e teve de ser desligada. Recentemente, em maio de 2013, cientistas da NASA anunciaram que uma segunda ‘reaction wheel’ parou de funcionar e que, por causa disso, o Kepler teve sua operação suspensa.

O especialista, Scott Hubbard, professor e consultor de aeronáutica e astronáutica da Escola de Engenharia da Universidade de Stanford, fala sobre possíveis alternativas para colocar o Kepler novamente em funcionamento e também sobre o futuro das sondas caça-planetas. Scott Hubbard pode falar com autoridade sobre o Kepler, pois trabalhou no seu projeto e na sua construção. A entrevista foi realizada pela Stanford News Service.

Stanford News Service: Quão grande será a perda se o telescópio espacial Kepler não puder ser reparado?

Scott Hubbard: O retorno e a contribuição que a Kepler já deu à ciência é surpreendente, mudou nossa visão do universo, pois agora sabemos que há planetas em todos os lugares do universo.

Será lamentável se o Kepler for desativado, pois custou muito aos contribuintes. O Kepler já detectou mais de 2.700 candidatos a exoplanetas (planetas que orbitam em outros sistemas estelares), inclusive planetas que são do tamanho da Terra e que estão dentro de uma zona de orbita onde a vida é possível, onde é possível existir água na forma líquida.

O Kepler já fez o que os gestores do seu programa espacial disseram que ele faria, ou seja, realizar um levantamento de planetas extrassolares. Ele completou com sucesso sua primeira fase de observação e já havia entrado numa fase de exploração cientifica ainda mais avançada quando sua operação foi suspensa. O período atual é muito promissor – há muitas informações valiosas obtidas pelo Kepler ainda por analisar, por isso, mesmo que a operação do Kepler esteja suspensa ou ele seja desativado, os cientistas continuarão a identificar novos candidatos a planeta, pois ainda há material para pelo menos mais um ano e meio de análises e novas descobertas.

Stanford News Service: Como os engenheiros da NASA poderão colocar o Kepler novamente em operação?

Scott Hubbard: Pelo que sei, há duas maneiras possíveis para salvar o Kepler. Uma delas é tentar colocar em operação a ‘reaction wheel’ desligada há um ano. Havia um atrito metal-metal, que interferia em seu funcionamento, porém, se o lubrificante que está lá se depositou calmamente, redistribuindo-se por si só, talvez possa dar certo.

A outra maneira, e isso nunca foi tentado antes, envolve o uso de propulsores e a pressão solar exercida sobre seus painéis solares que desempenhariam a função de uma terceira ‘reaction wheel’ e, assim, proveria uma estabilidade adicional. Eu não investiguei isso, mas a minha primeira impressão é que para que isso funcione como estabilizador será necessário o envio de muito mais comandos operacionais à nave espacial Kepler.

Stanford News Service: Se nenhuma dessas alternativas funcionar, mesmo assim, o Kepler é ainda um incrível instrumento espacial. Ele poderia ser utilizado para realizar outros tipos de experiências?

Scott Hubbard: As pessoas têm perguntado sobre usá-lo para encontrar objetos próximos da Terra, como asteroides. Kepler tem um fotômetro, não uma câmera filmadora, ou seja, foi concebido para observar o brilho de estrelas, por isso, sua óptica deliberadamente desfoca a luz das estrelas para criar uma boa distribuição de luz sobre o seu fotodetector. Portanto, não é o ideal para detectar asteroides.

Se pode ou não funcionar como detector de asteroides é algo que terá que ser estudado, mas como não foi construído para funcionar como uma câmera filmadora, sou cético no que se refere a isso. Esse esse é certamente um assunto para o NASA Ames Research Centers (Centros de Pesquisa Ames da NASA) e o Jet Propulsion Laboratory (Laboratório de Propulsão a Jato), pois neles trabalham as pessoas que mais entendem disso.

Stanford News Service: Qual é o futuro das sondas caça exoplanetas?

Scott Hubbard: Como eu disse anteriormente, há ainda pelo menos um ano e meio de valiosos dados do Kepler que estão por ser analisados na busca de candidatos a planeta, portanto, ainda há muitas descobertas a serem feitas.

No entanto, é importante deixar claro que na fila original de missões espaciais destinadas a encontrar vida em outro lugares, a missão Kepler foi concebida especificamente para determinar estatisticamente se exoplanetas são algo raro ou comum. O Kepler cumpriu incrivelmente bem essa sua principal missão e foi extremamente bem sucedido durante o tempo em que trabalhou para isso. Ele abriu o caminho para missões complementares, tais como TESS – Transiting Exoplanet Survey Satellite – e o TPF – Terrestrial Planet Finder – que, muito em breve, darão continuidade à missão de procurar exoplanetas semelhantes à Terra.

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