Segundo historiador, assim como o ex-presidente americano, Mandela conquistou prestígio mundial
Americanos conectam a trajetória de Nelson Mandela à do ativista Martin Luther King. Entretanto, de acordo com John Mason, professor de história Africana da Universidade da Virgínia, a vida de Mandela tem mais pontos em comum com a do ex-presidente George Washington.
O especialista afirma que Washington foi praticamente amado e venerado de maneira universal, assim como Mandela tem sido: “Há muitas pessoas que vão lamentar profundamente a morte dele, mas que odeiam o ANC (Congresso Nacional Africano)”, disse Mason.
O dia-a-dia em um shopping center retrata de forma assertiva a admiração coletiva pelo ex-presidente sul-africano. Um pátio no shopping Sandtown, em Johanesburgo, abriga uma estátua de Mandela. Logo no início da manhã, trabalhadores passam por ela e agradecem o que o ex-presidente fez por seu país.
“Entre as virtudes dele está o importante papel de colocar um fim ao domínio da minoria branca com sabedoria e paciência, em um contexto que teria grandes chances de se tornar um caos sangrento. Assim como Washington, ele definiu o rumo para seu país emergente”, afirma o historiador.
Mandela fez um compromisso com o Estado de Direito, com uma imprensa vigorosa e com a liberdade de expressão. Defensor do procedimento parlamentar, Mandela acreditava que “o político não pode se agarrar ao poder”.
Washington se aposentou do cargo após dois mandatos, um precedente que permaneceu até Franklin D. Roosevelt. “Mandela também se aposentou, mas assim como Washington, ele poderia ter ficado no poder pelo resto da vida”, disse Mason.
Mason destaca que Mandela aplicou sua maior sabedoria para desenvolver o país a partir de seu 1º mandato em 1994. “Ele sabia o que precisava fazer para se tornar um símbolo em torno do qual todas as pessoas da África do Sul poderiam se unir. Ele fez uma série de gestos, bebendo chá com as viúvas de líderes africanos e apoiando a equipe de rugby Springboks”.
Embora a filosofia sul-africana tenha influenciado o movimento americano dos direitos civis, Mandela teve uma abordagem diferente para a não-violência do que a aplicada por Martin Luther King.
Os dois países têm uma conexão exclusiva. O apartheid foi modelado sobre as práticas do Jim Crow do Sul, e as táticas não-violentas do movimento americano pelos direitos civis foram parcialmente inspiradas pela ética sul-africana, chamada de “Ubuntu”, que pode ser aproximadamente definida como uma visão de mundo humanista que abraça a generosidade.
Mahatma Gandhi soube do “Ubuntu” quando ele era um jovem advogado na África do Sul. Ele levou consigo o conceito de volta à Índia, onde o aliou ao princípio da Ahimsa (não-violência) para potencializar o trabalho de libertar seu país do domínio britânico.
As ideias de Gandhi influenciaram as ações de Martin Luther King, que as estudou durante a faculdade. O King Center, em Atlanta, abriga uma estátua do líder indiano.
“Mandela considerou a não-violência como uma estratégia, mas para King tratava-se de uma postura moral”, defende o especialista. “Ao contrário de King, ele não tinha, em princípio, o compromisso da não-violência. Você não pode pedir às pessoas para marcharem se a polícia está se aproximando só para derrubá-las”.
No início de 1950, Mandela e o ANC tentaram desafiar as leis injustas aceitando as consequências, mas para que isso funcionasse, “deveria existir um mínimo de engajamento social”, disse Mason.
Mandela percebeu que a desobediência civil não-violenta não surtia mais efeito após o Massacre de Sharpeville, onde manifestantes reunidos em todo o país queimaram seus documentos, o que simbolizou ódio ao apartheid. Durante o ato a polícia matou 69 pessoas e feriu 180, o que trouxe repercussão internacional.
“Depois desse episódio, Mandela não invocou mais a desobediência não-violenta. Ele manteve a ideia de resistência armada, basicamente como moeda de negociação” ressalta Mason. Mandela foi condenado à prisão por ação militar e passou 27 anos em detenção. “Uma das coisas que aconteceram na prisão foi que ele envelheceu. Ele se tornou mais paciente e mais prudente. Ele desenvolveu uma visão mais ampla”, afirma o historiador.
A pequena casa que abrigou Mandela em sua juventude em Soweto, Johanesburgo, se transformou em museu. Enquanto planejava acabar com o apartheid, opositores alvejaram a casa com tiros. As marcas da violência permanecem visíveis em suas paredes.
Apesar da simplicidade da construção, há um toque luxuoso no antigo lar de Mandela: uma pele de leopardo jogada sobre uma cama, o que simboliza sua linhagem real. Seu clã, Madiba, da tribo Xhosa, é de líderes tradicionais. Mandela manteve sua herança de líder nato quando livrou sua nação da segregação racial e promoveu a reconciliação na África do Sul.
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