Em 27 de novembro, Ethan Gutmann lançou oficialmente seu novo livro no Reino Unido, no Word Power Books, em Edimburgo. O livro chama-se “The Slaughter: Mass Killings, Organ Harvesting, and China’s Secret Solution to Its Dissident Problem” [O Massacre: assassinatos em massa, extração de órgãos e a solução secreta da China para seus problemas com dissidentes].
O livro é sobre os novos métodos de repressão, tortura e execução empregados pelo Partido Comunista Chinês. Foi escrito com base em entrevistas realizadas com as próprias vítimas, principalmente com praticantes do Falun Gong. Gutmann não é praticante do Falun Gong, mas desenvolveu profunda consideração pela difícil situação deles na China.
A turnê de lançamento do livro no Reino Unido incluiu a visita ao Parlamento do Reino Unido, à Assembleia Nacional do País de Gales, ao Parlamento Escocês e a Glasgow.
Ao falar, Gutmann compartilhou a tribuna com políticos e parlamentares britânicos bem como com David Kilgour e David Martas, nomeados para o Prêmio Nobel da Paz e também autores do livro “Bloody Harvest: the killing of Falun Gong for their organs” [Colheita Sangrenta: o assassinato de praticantes do Falun Gong por seus órgãos]. A audiência ouviu também depoimentos de praticantes do Falun Gong sobre suas experiências sob o sistema de repressão e tortura do regime chinês.
Em Edimburgo, Gutmann falou com Rosemary Byfield, do jornal Epoch Times, e fez um acalorado apelo para que as pessoas olhem para o conteúdo do livro.
Pergunta: O relatório de Kilgour-Matas, uma investigação sobre a extração forçada de órgãos de praticantes do Falun Gong na China, foi publicado em 2006. Agora, você escreveu um novo livro sobre isso. O que há de novo no seu livro ‘The Slaughter’?
Ethan Gutmann: Meu livro se baseia quase que exclusivamente em pesquisa de campo. Eu entrevistei ampla e cuidadosamente pessoas por horas – em alguns casos, por dias – para tentar chegar ao fundo da investigação. Além disso, eu passei muito tempo nos “porquês?” Por que o Estado chinês assumiu tão grande risco? O que é de fato a perseguição do Partido Comunista Chinês (PCC) contra o Falun Gong? Eu respondo isso focando no Falun Gong, seu crescimento como prática e como o PCC se mobilizou para impedir esse crescimento.
Meu livro também enfatiza a resistência dos praticantes do Falun Gong nas prisões e envereda para o incidente da emissora de TV de Changchun e outros incidentes do tipo que tiveram profundo efeito sobre o rumo da repressão ao Falun Gong na China. No entanto, em última análise, eu me esforço para escrever de um modo que permita ao leitor tirar às próprias conclusões. Kilgour e Matas são pessoas muito bem estabelecidas. Eu sou apenas um escritor. Sendo assim, o livro foi escrito para que o leitor leia e faça seus próprios julgamentos caso queira. As pessoas devem fazer suas próprias avaliações com base nas evidências apresentadas no livro.
Pergunta: Que evidências são essas?
Ethan Gutmann: O livro tem uma espinha dorsal, mas não posso resumir todo o livro apenas nisso! Eu apresento o relato de muitas testemunhas que foram submetidas a exames médicos altamente incomuns em campos de trabalho e prisões – exames claramente destinados a avaliar a compatibilidade de seus órgãos e tecidos para uso em transplante. Não apenas em praticantes do Falun Gong, mas também em uigures, tibetanos e cristãos.
Pense nisto: Os uigures e os praticantes do Falun Gong não mantêm contato uns com os outros, certo? Os tibetanos mantêm contato com os uigures? Muito pouco. Então, qual é a probabilidade de que as testemunhas desses diferentes grupos descrevam exatamente os mesmos exames médicos?
Mas não temos que nos basear só nesses depoimentos. Existem vários médicos, inclusive um que, com as próprias mãos, realizou extração de órgãos de pessoas ainda vivas. Leia o capítulo nove que é sobre um médico que se deparou com a venda de órgãos de praticantes do Falun Gong antes de as denúncias da extração forçada de órgãos de prisioneiros de consciência vir à tona. Em alguns casos, transplantes de coração foram realizados com dia e hora marcados, como se as autoridades chinesas tivessem a inimaginável capacidade de prever a morte de doadores em acidentes de trânsito e por outras fatalidades. Fica claro que eles tinham um grande estoque de potenciais doadores vivos. Mais uma vez as pessoas podem julgar isso por si mesmas, mas eu considero que as evidências são bastante claras que esse banco de órgãos era formado e povoado principalmente com praticantes do Falun Gong.
Pergunta: Como tem sido a reação a seu livro?
Ethan Gutmann: Os comentários têm sido fortes. Um crítico comparou-o a uma “bomba atómica”. Esse reconhecimento está aumentando. Em Taiwan, onde um dos testemunhos citados no livro é de alguém que concorre a prefeito de Taipei (atualmente eleito), a reação tem sido particularmente forte. Espero que isso ocorra também com a edição chinesa. Dentro dos EUA, o lançamento do meu livro foi realizado no National Endowment for Democracy (Fundação Nacional para a Democracia). O local estava lotado. No Canadá, na Amazon, o livro recentemente ocupou a posição número um entre os livros sobre a China.
Mas eu considero que a maior prova disso é que o relatório de Kilgour-Matas saiu em 2006. Para muitas pessoas, mesmo para as pessoas que ainda não leram o livro, a simples ideia de que alguém ter publicado em 2014 um novo livro sobre o assunto indica que o que Kilgour e Matas fizeram não foi em vão, eles tocaram de verdade em algo muito profundo. Nenhum jornalista em perfeito juízo colocaria tanto esforço, sete anos, para escrever um livro sobre um assunto se não fosse assim.
Pergunta: O que você gostaria de dizer aos leitores do Epoch Times?
Ethan Gutmann: Obrigado por me perguntar isso, embora isso possa não ser agradável para nenhum de nós. Eu sinto muito por isso. Mas prepare-se.
Um segmento crescente de jovens tem se condicionado cada vez mais à ideia de que tudo que deve estar disponível na internet deve ter menos 900 palavras e, é claro, ser grátis.
Bem, o meu livro tem 355 páginas. Ele tem mais de 70 imagens. Digo que um livro pode fazer algo mágico, muito profundo, algo que um artigo de 900 palavras não conseguiria – você terá que perceber isso por si mesmo, em vez de simplesmente aceitar as minhas palavras. E quanto à velocidade de download, o livro na versão digital pode ser baixado da Amazon em menos de três minutos. Eu sei, eu sei, eu odeio quebrar o ciclo da gratificação instantânea, mas três minutos não é muito tempo. E, por último, temo que a editora cobre por isso.
Escrever este livro exigiu de mim sacrifício financeiro. Então, alguns livros não vendidos aqui ou ali não farão diferença a esta altura. Então, se você quiser, compre um exemplar usado, peça emprestado, roube-o; eu não me importo. Mas pelo amor de Deus, abra o livro, comece a lê-lo, até mesmo deixe cair ketchup nas páginas, faça o que quiser! Mas comece a lê-lo. Eu não escrevi o livro simplesmente para ser usado para apoiar direitos humanos. Foi para ser lido, e sim, foi para fazer você pensar, não para que ele pense por você. Na verdade, eu me pergunto se fará que as pessoas se importem com o que está ocorrendo na China.
O que ocorreu com os potenciais leitores praticantes do Falun Gong? Eu me pergunto se o problema é que eles acreditam que já conhecem a história. Mas eles ainda não consideraram a ideia, a possibilidade, de que, na realidade, eles podem não conhecê-la tão bem quanto acreditam conhecer? Poderão ser surpreendidos com o livro? Isso seria necessariamente algo ruim? Sinto que alguns praticantes se preocupam quanto a eu poder ser desrespeitoso de alguma forma ou simplesmente rude. Bem, podem ajudar o fato de que praticantes assim como não praticantes ajudaram a revisar o livro? Não é segredo; está nos agradecimentos do livro.
Ou talvez os praticantes ou dissidentes chineses achem que vão ficar entediados? Mas quem me conhece sabe que eu não teria me empenhado para no fim escrever um livro maçante ou um compêndio sobre leis ou um livro didático. Eu sinto que subjacente a todas as perguntas sobre “se realmente aconteceu?”, a verdadeira questão é: “Por que eu deveria me importar?”
Essa é a espinha dorsal do livro. Foi me aproximar das pessoas, chegar perto o suficiente das testemunhas para poder tocá-las e até mesmo sentir o suor delas.
Pessoalmente, a coisa mais decepcionante para mim, algo devastador, é descobrir que há pessoas por aí, especialmente no Reino Unido, inclusive pessoas que eu gosto e admiro, pessoas que são realmente dedicadas a esta questão, pessoas que consideram que a extração forçado de órgãos é um crime contra a humanidade, mas que ainda encontram desculpas e justificativas sem fim para evitarem sentar e ler algo que eu não só dediquei significativa parte de minha vida, mas que também pode ajudá-las muito num esforço coletivo para pôr um fim nesse crime monstruoso. Não encontro palavras para descrevar isso…
Pergunta: Você levantou a questão de se importar …
Ethan Gutmann: Mas eu não posso forçar as pessoas a se importarem. Sim, eu quero que as pessoas se sensibilizem rompendo fronteiras, barreiras linguísticas e culturais. E é por isso que existe arte em meu livro e não só ciência. E as testemunhas são pessoas interessantes, muitos delas com vidas mais interessantes que a minha vida. Eles arriscaram suas vidas e as vidas de seus familiares para estarem neste livro. Essas pessoas estão esperando por você, como fantasmas que não podem ser postos em liberdade até habitarem em sua mente. Se você se importa, você deve abraçá-las.
Pergunta: E sobre os governos, o que você quer deles …?
Ethan Gutmann: Eu não estou tão preocupado com os governos porque sei que seus assessores leem o assunto tratado no livro. Eles têm tempo para ler. Se não lerem, serão despedidos. Em minha turnê pelo Reino Unido com Kilgour e Matas, em geral, fomos bem recebidos pelos governos, porque o pessoal dos governos leu nossas coisas e sabem que são realmente sólidas. Nos dias atuais, os jornalistas não têm tempo suficiente para se aprofundar nos assuntos. Não importa. O livro foi principalmente escrito para o público em geral.
Pergunta: É um livro muito comovente, é um livro humano.
Ethan Gutmann: Bem, não é uma questão jurídica. Na China, não há realmente justiça. Por necessidade, é um livro sobre a luta humana. No livro, eu não apresento o Falun Gong simplesmente como vítimas.
Eu não estou dizendo que o livro é a história definitiva sobre o Falun Gong na China ou que é a melhor coisa já escrita ou a palavra final sobre o assunto. De modo nenhum! Contudo, eu digo que é uma história que merece ser lida e discutida e, sim, também contestada.
Quanto a essa política de atrocidades do regime chinês, estou alegremente mais otimista de que em breve veremos mudanças. Estivemos recentemente no País de Gales. Na verdade, pela segunda vez. E fomos muito bem recebidos em comparação com a primeira vez. Ficou evidente que eles querem fazer algo no âmbito político para resolver o problema: bem… a verdade é que eles sempre souberam que muitas das coisas ditas no livro são verdadeiras.
Peguemos como exemplo o caso dos gulags soviéticos. Em todo o Ocidente sabíamos que os gulags existiam. Foi escrito um livro sobre isso; Alexander Solzhenitsyn escreveu o “Arquipélago Gulag”. No primeiro capítulo, compara-se os gulags a um sistema de tratamento de esgoto. Foi uma poderosa metáfora! Se o Ocidente só tivesse lido esse capítulo, já seria suficiente para dar às pessoas a um novo olhar para os gulags, para encararem a verdade. Bem, não estou me comparando a Alexander Solzhenitsyn. De modo nenhum! No entanto, gostaria de salientar que você pode ler todo o meu primeiro capítulo pela Amazon sem gastar um centavo. E quando eu ouço as pessoas dizerem “bem, será que eu vou achar o livro perturbador demais, muito chocante?” Eu lamento. Todos temos que fazer nossa parte. A coisa mais perigosa que enfrentamos como espécie – além do Ebola, vírus e pragas – é a própria tendência humana de fechar os olhos para os genocídios.
E isso está acontecendo agora. Em meu livro, eu entrevisto uma praticante do Falun Gong que, em maio de 2013, foi submetida com outros 500 prisioneiros a exames médicos voltados a transplante, principalmente praticantes do Falun Gong. Ela tem 56 anos de idade, a mesma idade que eu. Ninguém vai viver para sempre. Não deveríamos escutar o seu testemunho? Se não for agora, quando será?
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O National Review descreveu Ethan Gutmann como um “grande denunciante político-sociológico”. Seu livro “Losing the New China” ganhou os prêmios “Espírito de Tiananmen”, “Melhor livro do ano” pela New York Sun e o prêmio “Chan’s Journalism Award” por seu excepcional conteúdo. A ampla investigação sobre a vigilância da internet na China, o Sistema Laogai, o apoio de empresas ocidentais a objetivos militares chineses tem recebido atenção e apoio de Washington, Londres e Bruxelas tanto no âmbito do governo como da inteligência nacional.