James Chanos, fundador da Kynikos Associates LP, notou pela primeira vez a existência de uma bolha imobiliária na China em 2009. Foi então que ele previu, corretamente, a desaceleração na economia chinesa, que começou em 2010. Agora, ele tem mais uma má notícia para as pessoas que estão tentando salvar o país.
“A tendência é inconfundível. É para baixo. Surpresas vão vir do lado negativo”, disse ele em um debate no Instituto China, em Nova York, na terça-feira passada (22).
Convincentemente, ele dissipou noções de que a economia estaria passando de um modelo no qual ‘investimento leva a crescimento’, para um modelo focado no consumidor.
“A China está passando por reformas e eles estão em fase de transição … para uma economia do consumidor. Eu tenho ouvido isso há cinco anos”, disse ele, apontando que o investimento no PIB só caiu 2 pontos percentuais desde 2010. “Apenas dizer que isso vai acontecer não significa que, de fato, irá acontecer. ”
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Dívidas excessivas
Chanos também está cauteloso sobre a capacidade da China para escapar da ‘armadilha da renda média‘ pela inovação. “Nós ainda estamos esperando isso ser concretizado”, disse ele.
Sua tese principal sempre foi que a China usa muita dívida para financiar o crescimento, sem prestar atenção aos retornos. “Qualquer entidade que cresce rapidamente, mas abaixo do seu custo de capital, está criando a própria derrota”, disse ele. “Os retornos são mais baixos que o necessário … Eles terão que passar por um incidente de crédito.”
Chanos não acredita no ponto de vista de que o crescimento histórico da China tem sido um milagre econômico: “Não há um muita magia aqui se você simplesmente pega dinheiro emprestado”.
No entanto, isto não significa que a economia enfrentará um colapso completo amanhã, de acordo com Chanos.
“Este vai ser um desdobramento em câmera lenta, muito semelhante ao Japão, só que mais intenso. Isto não levará o país às ruínas amanhã, mas a recuperação dará muito trabalho para a liderança chinesa.”
Má administração do mercado de ações
Quanto ao mercado de ações, Chanos recomenda para ficar longe das ações do tipo A. Ele citou um amigo dizendo que o mercado acionário chinês “é como um porco drogado, você não sabe para onde vai correr”.
As ações possuem pouquíssima correlação com a economia subjacente, e a empresa de Chanos, a Kynikos, não assume posições neste mercado. Parte da razão é a intervenção a mão de ferro por parte das autoridades chinesas.
“Muitos observadores ficaram perplexos com a sofisticação da elite tecnocrática, que era uma prioridade para 2015”, disse ele. Muitas pessoas foram a falência por confiar no governo que estimulava os cidadãos a colocarem dinheiro no mercado.
“Havia uma visão subjacente de se o governo encorajar a colocar dinheiro no mercado de ações, isso significa que não haverá perda de dinheiro.”
As ações chinesas negociadas em bolsas de valores no exterior, como a Alibaba Inc., melhoram? Sim, mas ainda é preciso agir com cautela.
“Se você compra a ação através de uma troca ocidental, você não adquire os ativos operacionais da empresa. Você possui a empresa em algum lugar do Caribe, que tem um acordo operacional com a empresa no continente, que controla os ativos. Você realmente não tem como recorrer aos ativos no continente”, diz ele.
Apesar do cenário pessimista a curto prazo, Chanos ainda pensa que a China vai ser um “lugar incrível” a longo prazo – após se livrar de seu vício por dívidas.