Instituto valoriza a floresta amazônica e ajuda produtores rurais a gerar renda
Apesar de ser uma missão desafiadora, é possível manter a floresta em pé em harmonia com as necessidades do homem. Um instituto com sede em Manaus tem, desde 2004, desenvolvido pesquisas, implementado projetos e contribuído para criação e aperfeiçoamento de políticas públicas.
O Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam) é uma organização não governamental estabelecida formalmente por um grupo de pesquisadores da Amazônia. A missão do instituto é usar e valorizar a floresta, propondo alternativas inovadoras para consolidação de uma economia de baixo carbono – que visa contribuir para o desenvolvimento social, evitar o desmatamento e consequente liberação de gases de efeito estufa para a atmosfera – baseada no uso sustentável dos recursos naturais.
O Idesam trabalha com três frentes de projetos. Uma frente é de pesquisas e estudos sobre conservação ambiental, redução do desmatamento, onde tem mais de 10 projetos.
Outra vertente é a construção de políticas públicas envolvendo redução do desmatamento e manejo florestal, trabalhando com as necessidades da população local.
A última frente foca-se na relação direta com a sociedade: é a implementação de projetos que ajudam a sociedade a se desenvolver de forma econômica e social em harmonia com o meio ambiente.
Gabriel Cardoso Carrero, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais, que trabalha desde 2007 em Manaus, aponta os maiores desafios para implementar projetos que visem manter a floresta em pé e, ao mesmo tempo, ajudar a sociedade a viver da floresta. Um deles é a mudança de hábito, e o outro é manter uma mudança contínua em que o produtor receba benefícios reais, seja na melhoria da produção ou na criação de uma nova fonte de renda.
“A gente tem um bom contato com o produtor, fruto de uma interação de alguns anos. Ainda assim, muitos [produtores rurais] não têm confiança de que o projeto dê certo. Já existiram vários projetos antes dos que o Idesam trabalha, em que as pessoas prometeram [implementar mudanças] e nada aconteceu. Mas também existem projetos que realmente levam à mudança”, explica Gabriel.
Ele explica que, em geral, o perfil do produtor rural e do ribeirinho é o costume de uma cultura parternalista e assistencialista.
“Por um lado precisa haver a eficiência daqueles que implementam o projeto, mas por outro é preciso o comprometimento de quem está sendo beneficiado. Sem essa união e clareza, as coisas não andam. O desafio parte dessa harmonização entre os dois lados. Tem que haver uma parceria real para que os projetos sejam implementados”
Outro desafio são as políticas públicas e orientações do governo. Segundo ele, os projetos deveriam ser construídos considerando as necessidades do produtor rural, o que normalmente não acontece, aponta.
“Acho que o governo precisa ser mais realista para fazer suas ações, pois geralmente elas não são muito conectadas com o que acontece no campo” explica.
A pesquisadora do Programa de Mudanças Climáticas que lidera a pauta de Políticas Públicas, Mariana Pavan, disse que a questão do desmatamento é uma questão econômica.
“A realidade amazônica é que as pessoas desmatam porque precisam ter uma forma de vida. A floresta hoje, infelizmente, não dá dinheiro para essas pessoas”, afirma Mariana.
“A partir do momento que o produtor rural começa a viver do trabalho dele na floresta, ele começa a perceber a mudança daquilo, então ele muda a visão dele”, explica.
Mariana dá o exemplo de um produtor rural, um dos primeiros que foi ajudado pelo Programa Carbono Neutro Idesam (PCN). O programa, lançado em 2010, visa compensar emissões de gases de efeito estufa de empresas até pessoas físicas por meio de recuperação de áreas degradadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã. Para tanto, o Idesam implanta Sistemas Agroflorestais que unem benefícios socioambientais, como geração de renda para os produtores rurais e moradores da reserva. Os sistemas agroflorestais consistem em consórcio de espécies florestais e agricultura.
O produtor, segundo Mariana, desmatava a floresta, mas mudou completamente a mentalidade dele quando viu que conservar a floresta pode ser uma boa opção, porque ele tem sua própria agricultura para se alimentar e emprego.
Segundo o site do Idesam, Ademir Queiroz, produtor rural, é um grande conhecedor da floresta. Senhor com nove filhos, que outrora via a floresta como fonte de madeira para derrubada de árvores, agora vê com outros olhos as árvores. Agora Ademir adora caminhar em seu Sistema Agroflorestal.
“Vender madeira ilegal é ilusão e o Idesam me ajudou a enxergar isso. São meus parceiros de vida”, afirma o produtor rural.
“A partir do momento que a floresta começa gerar recursos, as pessoas olham diferente para ela”, conclui Mariana.
Ticiane Rossi é engenheira florestal e mestre em Ciências pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo. Atualmente faz doutorado no programa de Recursos Florestais também na ESALQ.
—
Este artigo faz parte do Especial Amazônia. Para conhecer os outros artigos, clique aqui.
—
Epoch Times publica em 35 países em 20 idiomas.
Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/EpochTimesPT
Siga-nos no Twitter: @EpochTimesPT