Escondido por trás dos dólares de Hong Kong

22/07/2014 13:32 Atualizado: 22/07/2014 13:32

Grandes intervenções recentes da Autoridade Monetária de Hong Kong (HKMA) nos mercados de câmbio levantam a questão: De onde vem o dinheiro que flui para Hong Kong?

Essa foi a primeira intervenção da HKMA em quase dois anos. No entanto, o grande fluxo de dinheiro para Hong Kong levou a HKMA a vender dólares de Hong Kong (HKD) no valor de HK$5,64 ao longo de julho, a fim de manter a taxa fixada em HK$ 7,75 por cada dólar americano (USD). A HKMA tem autorizado negociações na faixa de HK$ 7,75 a HK$ 7,85 desde 1983.

É incomum que a HKMA intervenha com somas tão grandes. Uma coisa é certa: o dinheiro está fluindo para Hong Kong e há várias teorias sobre sua origem. Alguns suspeitam que o dinheiro seja proveniente da China continental, onde o crescimento no mercado de câmbio diminuiu drasticamente em maio.

O que aconteceu?

A HKMA afirmou num comunicado de imprensa que o fluxo de dinheiro para Hong Kong pode estar relacionado com o pagamento de dividendos corporativos, o que geralmente ocorre nesta temporada. Além disso, o mercado de oferta pública inicial (IPO) em Hong Kong foi movimentado em junho, levantando US$ 3,2 bilhões e atraindo investimentos do estrangeiro.

Por outro lado, alguns analistas acreditam que o mercado de ações de Hong Kong tem estado relativamente calmo nos últimos tempos. Nenhuma grande empresa foi listada na bolsa de Hong Kong na segunda metade do ano. A maioria das empresas listadas é de pequeno ou médio porte e os recursos arrecadados não são grandes.

Stanley Ng Yuet-ning, ex-pesquisador econômico do Banco Hang Seng e analista financeiro independente de Hong Kong, disse que as intervenções em julho eram politicamente motivadas. O governo central pode ter receado que houvesse conflitos políticos em Hong Kong em 1º de julho, um dia de protestos pelo sufrágio universal na cidade.

Dinheiro da China

No entanto, Liao Shiming, um colunista político-econômico de Hong Kong, acredita que a maior parte dos fluxos de capitais provém da China continental. Liao cita estatísticas divulgadas pelo Banco Popular da China em 7 de julho, que dizem que o crescimento em novas reservas cambiais caiu 99%, para US$ 58 milhões (361 milhões de renminbi) em maio.

“Isso significa que, com a turbulência política na China, o capital está fluindo para fora do país”, disse ele ao Epoch Times. “Meu palpite é que Hong Kong é um ponto de transferência ou um pouso temporário para a saída de capitais da China, e o destino final é algum mercado mais maduro no exterior”, acrescentou Liao.

A perspectiva geral é que a economia da China continental atingiu uma crise, disse Liao. “Muitas pessoas estão bastante preocupadas com a estabilidade financeira. Se eles terão lucro é de importância apenas secundária. Portanto, o primeiro passo é transferir o capital para o exterior”, disse ele.

Nos últimos anos, os mercados imobiliário e de ações de Hong Kong têm mantido um alto nível, o que também está relacionado à entrada de capital da China continental.

“O crescimento econômico de Hong Kong não tem sido bom, e as taxas de juros locais não são altas, mas as indústrias de capital intensivo, como os mercados imobiliário e de ações, continuaram a crescer”, disse Liao, explicando que as pessoas estão mais preocupadas em mover o dinheiro para Hong Kong e menos preocupadas com rendimentos ou lucros.

“Se o potencial para lucrar em Hong Kong não é melhor do que em outros lugares do mundo, por que o fluxo de capital internacional para Hong Kong? Obviamente, isso não é necessário. Por isso, esta entrada de capital deve vir da China continental”, concluiu Liao.

Fuga de capital

A Central Chinesa de Televisão (CCTV), a emissora estatal porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), informou recentemente que o Banco da China está envolvido com lavagem de dinheiro há um bom tempo.

O banco comercial estatal ajudou cidadãos chineses a transferirem fundos de investimento para o exterior em quantidades que excedem o limite definido pelo regime chinês. A CCTV acusou o banco de contornar o controle do governo sobre a transferência transfronteiriça de capital. Zhou Xiaochuan, o diretor do banco, tem permanecido em silêncio a respeito até o momento.

Liao disse: “Primeiro, o sistema social da China não dá uma sensação de segurança às pessoas ricas. Em segundo lugar, o crescimento econômico da China tem encontrado obstáculos. Essas pessoas definitivamente querem mover seu dinheiro para fora do país.”

Ele afirma que o serviço de transferência transfronteiriça do Banco da China é um procedimento que foi originalmente criado pelo regime. “Eles estavam preparando alguns métodos que permitiriam que o capital estrangeiro da China deixasse o país”, disse ele.

Segundo a Reuters, o Banco da China declarou enfaticamente que o serviço de transferência transfronteiriça não é ilegal, e por isso não interromperiam o serviço. Normalmente, o regime chinês limita o montante que indivíduos e empresas podem transferir para o exterior. Cidadãos chineses não têm autorização para trocar ou transferir mais de US$ 50 mil por ano. Empresas chinesas podem converter renminbi em moedas estrangeiras sob certas condições, por exemplo, se quiserem investir capital no exterior.

No entanto, este sistema fechado tem muitas lacunas, e as regras são frequentemente ignoradas ou desprezadas. Motivados pela desaceleração econômica e pela instabilidade política interna, os cidadãos chineses mais prósperos estão imigrando cada vez para os Estados Unidos, Canadá e Austrália, fazendo grandes investimentos.

De acordo com o China Business News, há muitos métodos para transferir fundos para fora da China, incluindo “bancos clandestinos”, usar intermediários para transferir fundos, falsificar negociações ou inclusive visitar a cidade-casino de Macau.