Escolha e crise enfrentadas pelo regime chinês

02/06/2012 03:00 Atualizado: 02/06/2012 03:00

O conselho editorial do Times Epoch argumenta que os desastres dos últimos 13 anos na China apresentam a cada governo e a todos ao redor do mundo com uma escolha. (Imagem composta: Minoru Iwasaki-Pool/Getty Imagens; Creekmyst/Photos.com)Culpa compartilhada foi a base da facção que governou a China por 13 anos

Numa conferência organizada pela Agência 610 em abril de 2003 na província de Hebei, o método de tortura chamado de “camisa de força” foi anunciado como uma “experiência avançada em transformação” e promovido para ser usado em toda a China.

Os braços dos praticantes do Falun Gong são amarrados e torcidos por trás das costas com uma jaqueta especialmente projetada. Em seguida, os guardas puxam os braços sobre os ombros até o peito, rasgando os ligamentos do ombro. As pernas são amarradas, a boca amordaçada, e fones de ouvido colocados nas orelhas. Uma corda é amarrada ao redor dos braços dos praticantes, sua ponta é enrolada em torno das barras de uma janela alta, e os guardas içam o praticante do solo.

Os ombros dos praticantes, cotovelos e punhos fraturam instantaneamente. Enquanto isso, gravações caluniando a crença do praticante são bombeadas através dos fones de ouvido em alto volume. Se o praticante é deixado pendurado por um período prolongado de tempo, a coluna vertebral fratura, e o praticante morre de dor excruciante.

Depois de lançar a campanha para “erradicar” o Falun Gong em julho de 1999, o ex-líder do Partido Comunista Chinês (PCC), Jiang Zemin, promoveu apenas aquelas pessoas que estavam dispostas a ordenar tais torturas infernais como a citada para serem usadas em praticantes do Falun Gong.

Na China de hoje, existem oficiais que não querem mais ignorar esses fatos enquanto tais horrores continuam.

A crise atual que sacode o regime chinês diz respeito a continuar ou não a perseguição ao Falun Gong. Por trás da luta intensa que ocorre atrás da grande muralha vermelha do complexo da liderança de Zhongnanhai está uma escolha clara entre o bem e o mal.

Facção das mãos ensanguentadas

Quando Jiang Zemin forçou a decisão de iniciar a perseguição ao Falun Gong através do Comitê Permanente do Politburo, os outros seis membros do comitê se opuseram a ele.

Uma vez iniciada, a perseguição não foi mais popular em geral do que foi na elite do Comitê Permanente. Mas Jiang tinha maneiras de empurrar sua campanha adiante.

Jiang tinha poder, e com esse poder ele pôde dar permissão. A ganância, como a do bilionário Bo Xilai, era uma recomendação. Um gosto pelo estupro, como o do futuro czar da segurança pública Zhou Yongkang, poderia ser tolerado. Um gosto por sangue, como o do chefe de polícia Wang Lijun, que relatou num discurso ficar encantado com a visão impressionante da extração forçada de órgãos de pessoas vivas, poderia ser incentivado.

O incompetente Jiang, frequentemente dado a palhaçadas, não poderia liderar seus homens, mas ele poderia agradá-los. Os que ainda tinham escrúpulos aprenderam a abandoná-los, enquanto mergulhavam nas profundezas morais que seres humanos decentes não podem imaginar que existam.

Chantagem e coerção estimulavam os recrutas de Jiang por trás, enquanto subornos e seus vários vícios levavam-nos adiante. Desta forma, Jiang formou a facção das mãos ensanguentadas que realizou sua perseguição.

Sob sua direção, estes chefes do PCC usaram o poder que lhes foi dado para caluniar cidadãos bons e inocentes; para roubar tudo o que os praticantes do Falun Gong tinham de valor, até mesmo tomando sementes de agricultores; para prender praticantes aos milhões, submetendo-os ao trabalho escravo, pouco sono e comida estragada; para quebrar a força de vontade dos praticantes e destruir sua fé no que eles acreditavam ser bom e verdadeiro; para destruir os corpos dos praticantes com torturas tenebrosas; para abusá-las sexualmente, estuprá-las, violentá-las coletivamente; e, por dinheiro, esfolar praticantes vivos e despertos em mesas hospitalares, abrindo-os e extraindo seus órgãos. (Informações detalhadas em: Organharvestinvestigation.net).

A culpa dos membros da facção das mãos ensanguentadas compartilhada por estes crimes era uma garantia comum. Jiang podia lhes confiar poder, porque nenhum membro da facção poderia responsabilizar os outros pelo que todos haviam feito.

Na longa história de 5.000 anos da China muito se tem experimentado, mas o ridículo Jiang levou esta nação a sua época mais escura e degenerada.

Insustentável

Em 25 de fevereiro, um praticante do Falun Gong chamado Wang Xiaodong foi preso após a polícia encontrar CDs do Falun Gong em sua casa na vila de Zhouguantun, distrito de Fuzhen, cidade de Botou, província de Hebei, ao nordeste da China e na periferia de Pequim.

Depois de inutilmente apelar às autoridades por sua libertação, sua família caminhou pela vila com uma petição solicitando a libertação de Wang. Num dia, 110 assinaturas foram recolhidas. Em poucos dias, 300 moradores locais assinaram seus nomes reais e colocaram suas impressões digitais em cera vermelha. Oficiais locais do PCC adicionaram um selo oficial.

Os aldeões e os oficiais locais sabem muito bem que o Falun Gong foi banido. Eles também sabem as consequências do que pode acontecer com os praticantes do Falun Gong ou os que simplesmente ajudam os praticantes. No entanto, eles se levantaram para se posicionarem em nome de Wang.

O destino dos aldeões reflete a luta de hoje no PCC. Agora, as forças locais de segurança leais à facção das mãos ensanguentadas estão os assediando, mas, num sinal claro de que os aldeões têm amigos na liderança do país, sua petição foi apresentada ao Comitê Permanente do Politburo.

Durante 13 anos, praticantes do Falun Gong têm travado a maior campanha de desobediência civil no mundo. Eles têm ido pacientemente de indivíduo a indivíduo para contar sua história. Eles distribuem panfletos e CDs, e falam sobre suas próprias experiências com a prática espiritual.

Os praticantes contam como vivem suas vidas de acordo com os princípios da verdade, compaixão e tolerância. Eles explicam como aprenderam a pensar nos outros antes de pensar em si mesmos, e considerar paixões e desejos menos seriamente. Eles contam as melhorias extraordinárias na área da saúde que sofreram, com doenças crônicas e graves completamente curadas. E falam de famílias pacificadas, com conflitos substituídos pela harmonia.

Eles pacientemente desmascaram a propaganda que tenta demonizar o Falun Gong e relatam o que é feito a praticantes em centros de lavagem cerebral, campos de trabalho forçado, hospitais psiquiátricos e nas salas de operação, muitas vezes improvisadas, utilizadas para a extração de seus órgãos.

Cada minuto de cada dia dezenas de milhões de praticantes arriscam suas vidas para educar seus conterrâneos chineses sobre o que é o Falun Gong e como o regime os tem perseguido. Ao fazer isso, os praticantes querem apressar o dia em que a perseguição termine, mas eles também têm um propósito ainda mais nobre.

Os praticantes acreditam na verdade do princípio tradicional chinês que diz que as boas ações são recompensadas com o bem e o mal com o mal. Todos os que têm apoiado a perseguição estão em perigo de se tornarem vítimas da perseguição. Eles sofrerão as consequências do mal feito com a realização da perseguição.

Para chegar ao povo da China, os praticantes têm procurado ajudar especialmente os membros da facção das mãos ensanguentadas que foram enganados a fazer o mal.

Os aldeões de Zhouguantun são notáveis no que fizeram, mas esta vila não é a única a rejeitar a perseguição. Em algumas aldeias na China, um sino soa pela manhã, para anunciar que os exercícios do Falun Gong começarão. Em outras aldeias, as forças de segurança locais têm calmamente deixado os praticantes saberem que não estão mais lhes caçando.

Antes do começo da perseguição, o povo da China se reunia para aprender o Falun Gong. Agora, eles estão despertando mais uma vez para sua bondade, apesar das trapaças e ameaças da facção das mãos ensanguentadas.

Como os aldeões de Zhouguantun, o povo da China está fazendo uma escolha. Eles já não querem ser associados com a loucura que Jiang trouxe ao país. A petição em Zhouguantun traz essa mensagem entre suas linhas: A perseguição é insustentável, e seu fim é apenas uma questão de tempo.

Bode expiatório falho

Essa mudança no povo chinês tem amadurecido ano após ano. Jiang e sua facção podiam ver como as pessoas estavam virando as costas para sua campanha contra o Falun Gong e sabiam o que isso anunciava. Um dia a perseguição acabaria, e a facção das mãos ensanguentadas seria levada a justiça por seus crimes.

Em fevereiro de 2011, a revista Frontline de Hong Kong publicou um artigo que pretendia reportar duas coisas que Jiang se arrependera ao longo de sua vida. Uma delas foi dita ser a perseguição ao Falun Gong. O artigo descreve o ditador Jiang assumindo uma postura flexível em direção à democracia e à liberdade política. O desagrado manifestado sobre a perseguição faz parecer que sua continuação depois da aposentadoria de Jiang em 2002 seja totalmente responsabilidade de seu sucessor Hu Jintao.

Com esse artigo da revista, Jiang ou sua facção procuram associar Hu à perseguição e fazer dele um bode expiatório. Se Hu fosse culpado, então, ele nunca poderia permitir que Jiang e sua facção fossem responsabilizados.

Mas o estratagema falhou. Recentes mudanças no PCC, incluindo a remoção de Bo Xilai de suas posições no PCC e a investigação de Zhou Yongkang, indicam que Hu e o primeiro-ministro Wen Jiabao querem acabar com a facção das mãos ensanguentadas.

Eles ainda têm tempo para reverter a política de Jiang de perseguir o Falun Gong. Se Hu e Wen assim fizerem, eles inaugurarão uma mudança histórica na China.

Continua na próxima página… Golpe fracassadoUma oportunidade


Golpe fracassado

A falha em comprometer Hu e Wen deixou a facção das mãos ensanguentadas com apenas uma opção: continuar tentando manter-se no poder do PCC.

Jiang tinha arranjado para sua facção dominar o PCC, mesmo depois de se aposentar. No 16º Congresso do Partido em 2002, que marcou o fim do mandato de Jiang como secretário-geral, Jiang opôs-se ao costume do Partido e expandiu o Comitê Permanente do Politburo de sete para nove membros.

Jiang acrescentou Luo Gan e seu aliado de longa data Zeng Qinghong, e forçou o altamente respeitado Li Ruihuan a sair do comitê. Além disso, Jiang mudou o regime de governo do Comitê Permanente. Em vez de o Comitê Permanente obedecer ao secretário-geral, ele passaria a operar por consenso.

Com esses movimentos, Jiang assegurou que continuaria a comandar o PCC, apesar de Hu e Wen ocuparem as posições superiores do Partido e do governo.

Luo Gan era o chefe do Comitê dos Assuntos Político-Legislativos (CAPL). Na década de 1980, o CAPL foi um pequeno órgão do PCC, mas depois do Massacre da Paz Celestial (Tiananmen) em 1989, o CAPL assumiu o papel de reprimir a dissidência doméstica e começou a ganhar poder.

A Agência 610, encarregada por Jiang de erradicar o Falun Gong, fazia parte do CAPL e utilizou seus recursos para fazer cumprir a perseguição ou, nos lugares onde não havia a Agência 610, o CAPL aplicava diretamente a perseguição. Jiang e Luo usaram a perseguição como uma oportunidade para expandir o tamanho, o poder e o alcance do CAPL.

Em 2007, no 17º Congresso do Partido, Luo se aposentou e Jiang o substituiu com Zhou Yongkang, que também se tornou diretor do CAPL. Zhou continuou a expandir o poder do CAPL. Hoje, o CAPL tem autoridade sobre o 1,5 milhões de oficiais sob seu comando, na Polícia Popular Armada, na Secretaria de Segurança Pública, nos tribunais, no Ministério Público, advogados, nas prisões e nos campos de trabalho forçado, e a vasta rede de vigilância voltada para a população chinesa.

Com um orçamento maior do que os militares, Zhou tornou o CAPL num segundo centro de poder dentro do PCC, ameaçando a capacidade do Partido Central de governar.

Sabendo que Zhou seria forçado a se aposentar no 18º Congresso do Partido no final deste ano, a facção das mãos ensanguentadas preparou Bo Xilai, o então chefe do Partido da cidade provincial de Chongqing, no centro-oeste da China, para assumir seu lugar no Comitê Permanente e como diretor do CAPL.

Bo foi uma escolha segura para carregar o estandarte da facção das mãos ensanguentadas, porque estava profundamente envolvido na perseguição. Quando Bo Xilai foi prefeito na cidade de Dalian (1999-2001) e governador (2001-2004) na cidade de Shenyang, província de Liaoning, nordeste da China, dezenas de milhares de praticantes do Falun Gong de todo o país foram encarcerados nesses lugares.

Um grande número de praticantes morreu. A cidade de Shenyang foi transformada num local experimental para a extração de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong. Bo nunca conseguiria responsabilizar os outros membros da facção por seus crimes na aplicação da perseguição sem destruir a si mesmo.

Enquanto Jiang esperava que Bo pudesse de fato ser nomeado sucessor de Hu, de acordo com os procedimentos habituais do PCC, Bo estava dois passos abaixo do posto de secretário-geral. O salto de Bo para assumir o cargo não era considerado possível.

Jiang relutantemente aceitou Xi Jinping, o ex-governador da província de Zhejiang e diretor da Escola Central do Partido, na crença de que ele era fraco e poderia facilmente ser posto de lado. Xi, porém, não tinha tomado parte na perseguição, e Jiang nunca poderia ficar tranquilo com a perspectiva de Xi assumir o poder.

Num esforço desesperado para manter a facção das mãos ensanguentadas no poder, nasceu a ideia de Zhou e Bo de conspirar um golpe para derrubar Xi depois que ele assumisse o poder.

Este golpe poderia ter avançado, exceto que Bo não podia confiar na culpa de seu braço direito Wang Lijun, apesar de tudo. Bo temia o que poderia ser revelado na investigação de Wang pelo Partido Central e se voltou contra ele. Em 6 de fevereiro, Wang fugiu para o consulado dos EUA em Chengdu para salvar sua vida, revelando a trama, e desde então o PCC está envolvido numa luta amarga.

Uma oportunidade

Como o assédio dos aldeões de Zhouguantun demonstra, a facção das mãos ensanguentadas continua lutando. Se a facção não puder evitar perder o poder, isso pode continuar por um tempo criando caos.

A facção das mãos ensanguentadas luta porque seus membros estão profundamente amedrontados. Os pequenos tiranos, que calmamente ordenaram a tortura e a colheita de órgãos, agora temem que um tribunal solene em breve possa julgá-los.

À medida que a facção continua a atacar, Hu, Wen e Xi permanecem em perigo e a sociedade chinesa estará em tumulto. Esse período angustiante oferece a todos uma oportunidade preciosa de mostrarem justiça, moral e coragem.

Os oficiais do PCC enfrentam um conflito urgente de vida ou morte. Enquanto eles brigam entre si, eles podem pensar que estão lutando para salvarem a própria pele e manterem-se no poder. Na verdade, a escolha fundamental enfrentada pelos oficiais do PCC não é sobre a autopreservação ou o poder. A escolha é entre o bem e o mal.

Os princípios da verdade, compaixão e tolerância são universais e constituem nossa humanidade. Ao perseguir o Falun Gong, a facção das mãos ensanguentadas colocou-se contra a natureza humana e contra a base moral da sociedade chinesa.

Optar por continuar tais atos, como apoiar amarrar praticantes do Falun Gong em camisas de força é escolher a barbárie ao invés da civilização, trata-se de optar por trazer o desastre e a vergonha para a China. Opor-se à perseguição do Falun Gong é escolher um futuro baseado no que há de melhor na humanidade.

Embora os acontecimentos recentes mais dramáticos na China possam causar distração, esta escolha é simples para que todos possam ver. Cada oficial do PCC deve se posicionar, assim como cada cidadão chinês. Além disso, cada governo ao redor do mundo e as pessoas do mundo têm de fazer a mesma escolha.

Este momento, antes da perseguição terminar, permite que todos reflitam sobre o que foi mostrado na China. É a chance de escolher um bom futuro.