A economia da China está em crise. Desde junho, investidores têm se preocupado com a falta de dinheiro no sistema financeiro da China, mas enquanto essa escassez revela muito do que há de errado na economia chinesa, os problemas sistêmicos vão muito além do dinheiro apertado.
A escassez de dinheiro ocorreu porque um aumento na demanda por capital coincidiu com uma redução do dinheiro que entra no sistema e com um aumento do dinheiro que sai do sistema.
Nos últimos anos, os bancos da China têm oferecido produtos de gestão de riqueza (PGR) amplamente. Com esses instrumentos financeiros, os bancos oferecem aos investidores a oportunidade de colocar seu dinheiro em projetos altamente especulativos em troca de uma taxa maior de retorno. Em junho, o investimento dos bancos em PGR fez necessário elevar a liquidez, ou seja, exigiu que o banco central chinês injetasse mais dinheiro no sistema.
Fitch, uma das três principais agências de classificação, divulgou um relatório em 21 de junho, sugerindo que os bancos da China têm 1,5 trilhão de yuanes (US$ 245 bilhões) em PGR que venceram no final de junho, enquanto os bancos de médio porte da China colocaram 20 a 30% de seus depósitos em tais produtos.
Os dados mais recentes de uma pesquisa do Puyi Investing Consulting Co. mostram que, na última semana de junho, um total de 1.592 PGRs oferecidos pelos bancos amadureceu.
A necessidade de pagar 1,5 trilhão de yuanes aumenta significativa e repentinamente a demanda por yuan num curto período de tempo.
Menos entrando
A redução nos últimos anos no excedente de exportação da China reduziu indiretamente a oferta de moeda. Com menos superávit cambial, a quantidade de yuan divulgada pelo Banco Popular da China para a compra de dólares foi correspondentemente diminuída.
Uma tentativa de limpar o sistema cambial pela Administração Estatal de Câmbio tem bloqueado em certo grau a entrada de dinheiro quente na China – dinheiro que entra no mercado em busca de ganhos de curto prazo – o que limita ainda mais a oferta de moeda.
No passado, as empresas apresentavam relatórios falsos de exportação que lhes permitiam trazer divisas para a China. Então, elas lucravam com a arbitragem – negócio que gera dinheiro nas diferenças de taxas de câmbio e taxas de juros.
A nova regra para o fortalecimento da gestão de entrada de divisas reduziu substancialmente a quantidade de divisas trazidas por meio da informação falsa sobre as exportações. Como resultado, a quantidade de yuan que o Banco Popular da China é obrigado a converter em moeda estrangeira foi reduzida.
Mais saindo
Embora menos dinheiro esteja entrando na China, mais dinheiro está saindo, em parte devido à corrupção.
Mais do que qualquer outra iniciativa individual, a administração do novo líder chinês Xi Jinping tem sido marcada por uma agressiva campanha anticorrupção. Temendo perder o que roubaram, muitos altos oficiais transferiram seu dinheiro para o estrangeiro.
A corrupção dos oficiais do Partido Comunista Chinês (PCC) permeia toda a economia chinesa e complica sua gestão. Não há estatísticas sobre a quantidade de dinheiro negro existente ou quanto foi transferido para o estrangeiro. Alguns bancos podem parecer ter um monte de dinheiro em seus livros, mas na verdade são conchas vazias.
O investimento estrangeiro direto (IED) também tem trazido menos dinheiro para a China. De acordo com o ‘Índice de Confiança de IED da A.T. Kearney’, publicado em 26 de junho de 2013, os Estados Unidos são o melhor lugar do mundo para investir atualmente, enquanto a China foi rebaixada para a segunda posição. O panorama econômico da China não é otimista e sua taxa de crescimento econômico esperada é de apenas 7%, muito menor do que no passado.
Dinheiro que teria se dirigido para a China agora está indo para os Estados Unidos. Além disso, alguns investimentos que foram feitos anteriormente foram retirados.
Excesso de capacidade
Com menos dinheiro fluindo para a China, com a crise econômica mundial que reduziu a demanda por produtos chineses e com o fim das altas taxas de crescimento outrora alcançadas pela economia chinesa, as bolhas na economia da China estão aparecendo. Em 2011, a China usou 60% de sua capacidade produtiva.
As principais indústrias atingidas pelo excesso de capacidade incluem produtos químicos, ferro e aço, cimento, alumínio eletrolítico, vidro plano e células fotovoltaicas.
Por exemplo, a indústria de ferro e aço. Este ano, a demanda por aço e ferro foi estimada em cerca de 700 milhões de toneladas, enquanto a capacidade de produção é de cerca de 1 bilhão de toneladas. Em maio deste ano, a produção de aço bruto foi de 67 milhões de toneladas na China, que correspondeu a quase metade da produção global.
De acordo com um relatório elaborado pela mídia estatal Beijing Times, a empresa Pingte Iron & Steel Co. Ltd., da província de Jiangxi, faliu recentemente porque não podia obter crédito.
Na verdade, essa empresa operava com perda há um longo tempo. Se a empresa parasse a produção, a crise seria imediatamente exposta. Assim, a empresa continuou a produção na esperança de convencer os bancos a acreditarem em sua capacidade de dar lucro. No entanto, os bancos não emprestaram dinheiro e a empresa faliu.
Muitas outras empresas siderúrgicas pequenas na China, como a Pingte, se deparam com o fechamento ou já fecharam. De acordo com Mysteel.com, portal de internet chinês dedicado à indústria de ferro e aço, o levantamento de 163 empresas de aço em 8 de março mostra que 66,87% das empresas de ferro e aço estão operando com perda.
O fechamento de fábricas é resultado do excesso de capacidade, do excesso de estoque e da perda de crédito. O excesso de capacidade não só desperdiçou dinheiro, mão de obra e recursos nacionais, mas também levou a demissões em massa de trabalhadores, resultando em instabilidade social. Grandes quantidades de crédito dos bancos para essas empresas se tornaram empréstimos ruins e incobráveis.
Mercados abalados
A falta de dinheiro é uma parte visível sobressalente dos problemas sistêmicos que assolam o sistema financeiro da China.
O gatilho mais direto para a crise em junho foi o fracasso do Banco China Everbright em pagar um empréstimo ao Banco Industrial. Ninguém sabe quantos bancos e instituições financeiras enfrentam situação semelhante à do Everbright.
Depois da inadimplência do Everbright, a taxa de juros de curto prazo, a taxa básica e a taxa semanal subiram acentuadamente, com a taxa básica saltando de 2% para 3% e então para 13,44%.
De acordo com a Rádio Som da Esperança, as taxas de juros oferecidas por muitos bancos para produtos financeiros e empresas de gestão de riqueza na China subiram de repente recentemente.
Por exemplo, um PGR de 36 dias na filial de Zhengzhou do Banco Huaxia tem uma taxa de juros de 7%, enquanto um PGR de 31 dias do Banco Industrial de Shenzhen tem taxa de 7,5%. A taxa de mercado antes de junho era normalmente de 3 a 4%.
A falta de dinheiro reduz o crédito bancário e a confiança das pessoas na economia. Enquanto os bancos têm tido problemas sucessivos recentemente, o mercado acionário chinês tem ido inflexivelmente na descendente.
Em certo ponto em junho, o mercado de ações havia caído 19%. Em 24 de junho, o mercado de ações caiu 5,3% em um dia e sofreu outra queda de 5,8% logo após a abertura em 25 de junho.
Após a intervenção do Banco Popular da China, o mercado de ações se recuperou um pouco. Na verdade, essa intervenção pode estabilizar temporariamente o mercado, mas não pode resolver fundamentalmente os problemas de longa data na indústria financeira da China.
Normalmente, a taxa de juros de longo prazo se move para cima quando as pessoas têm uma perspectiva econômica positiva e a taxa de juros de curto prazo sobe quando aumenta a demanda de capital ou a oferta de moeda diminui.
Como a taxa de crescimento do PIB da China neste ano deve ser de apenas cerca de 7%, muito inferior aos anos anteriores, o retorno esperado sobre o investimento naturalmente será menor do que antes. No entanto, a China agora tem uma baixa taxa de juros de longo prazo e uma taxa de juros de curto prazo que é muito maior do que a taxa de longo prazo. Essa estrutura, chamada de curva de rendimento invertida, mostra que o mercado não está otimista sobre a economia chinesa.
Tianlun Jian, PhD, escreve regularmente sobre a economia chinesa. Seu blogue é: Chineseeconomictrend.blogspot.com.
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