Escândalo de suborno eleitoral expõe mais de 600 funcionários chineses

02/01/2014 12:41 Atualizado: 02/01/2014 12:41

Uma grande rede de suborno oficial na província central de Hunan foi reportada pela mídia estatal chinesa recentemente, resultando na exoneração de mais de 500 funcionários municipais e na demissão de 56 legisladores do mais alto escalão que os subornaram.

O escândalo envolveu 518 deputados e 68 de seus funcionários no Congresso Popular Municipal da cidade de Hengyang, a segunda maior da província de Hunan. Eles foram subornados por 56 parlamentares do escalão administrativo logo acima, parte do Congresso Popular da província de Hunan.

Os deputados são ostensivamente eleitos e depois devem participar na eleição dos legisladores de nível provincial, um nível acima na hierarquia. Ao todo, mais de 600 pessoas foram implicadas no escândalo. A notícia foi revelada pelo Comitê Permanente do Congresso Popular de Hunan durante uma grande reunião realizada em 27-28 de dezembro.

Os legisladores teriam subornado quase todos – 518 de 527 – os deputados municipais na cidade de Hengyang. A imprensa estatal disse que as somas envolvidas excedem 110 milhões de yuanes (US$ 18,1 milhões).

A mídia estatal Xinhua colocou a culpa pela fraude em Tong Mingqian, o ex-vice-presidente da Conferência Consultiva Política Popular de Hunan, um órgão consultivo oficial do Partido Comunista.

Tong está sob investigação por “violações graves da lei” desde 18 de dezembro, segundo um anúncio feito pelo departamento disciplinar do Partido Comunista. A Xinhua disse que Tong, que estava no comando da eleição, é “diretamente responsável pelo caso”.

No entanto, eleições fraudulentas são comuns na China, segundo especialistas.

“O suborno eleitoral é generalizado na China”, disse Yao Lifa, um ativista de direitos civis e o primeiro chinês eleito por autonomeação para o nível municipal do Congresso Popular. “Eu tenho participado nas eleições de deputado do Congresso Popular Provincial. Então, eu sei de algumas histórias internas, sobre o controle das nomeações, a manipulação das votações, subornos, etc.”, disse ele em entrevista à emissora NTDTV.

Yao disse que, em vez de chamar o processo de eleição, seria mais correto dizer que os cargos são escolhidos e comprados. “Para as pessoas comuns, a eleição é apenas uma forma e processo. Elas não têm qualquer controle sobre isso.”

A divulgação de um caso de tal escala de suborno foi provavelmente desencadeada por revelações recentes do empresário chinês Huang Yubiao, que foi um dos candidatos excluídos nas eleições do ano passado em Hengyang.

Huang disse que subornou pessoalmente mais de 300 deputados com um total de 320 mil yuanes (US$ 52.700), mas ainda assim não conseguiu ser eleito, porque não deu o suficiente. Huang estava chateado e irritado com a corrupção e por não ser eleito e decidiu expor tudo ao público, segundo uma entrevista que deu ao jornal Beijing News.

Essas revelações de um participante do esquema colocaram as autoridades de Hunan sob pressão para investigar o assunto e dar uma explicação ao público.

A atual liderança comunista chinesa tem realizado uma campanha anticorrupção nos altos escalões nos últimos meses, parte de uma tentativa do regime de combater a percepção de que o Partido Comunista Chinês é irremediavelmente corrupto – uma ideia que seria corrosiva para a legitimidade do regime de partido único.

O ativista Yao Lifa disse que se Huang Yubiao não tivesse escrito numa mensagem de blogue sobre o assunto, as autoridades de Hunan teriam ficado bastante satisfeitas em manter o escândalo escondido.