Era uma vez o Maracanã

14/07/2013 02:10 Atualizado: 14/07/2013 08:17
Vasco x Manchester United no estádio Maracanã em 8 de janeiro de 2000 durante o Campeonato Mundial de Clubes (GettyImages)
Vasco x Manchester United no estádio Maracanã em 8 de janeiro de 2000 durante o Campeonato Mundial de Clubes (GettyImages)

Sem bandeiras, sem fogos, sem instrumentos musicais. Não pode tirar a camisa nem assistir ao espetáculo de pé… Sejam bem-vindos ao mais novo teatro inaugurado na cidade do Rio de Janeiro: o “Teatro Jornalista Mário Filho”, mais popularmente conhecido como “Teatro Maracanã”. Empreendida por Delta, Odebrecht e Andrade Gutierrez a um custo de mais 1 bilhão de reais aos cofres públicos, a obra teve início em 2010. No local, funcionava um antigo estádio, demolido para a construção do novo teatro, com capacidade para 78 mil pessoas. Talvez o maior teatro do mundo.

Pois é, amigos. É com essas palavras que deveriam ser anunciadas as medidas “anti-violência” do Consórcio Maracanã S/A para as partidas do Campeonato Brasileiro. Na verdade, o efeito disso tudo foi o contrário: o Maracanã foi duramente violentado. Não é mais o mesmo. Durante os os jogos a que assisti na nova arena, México x Itália e Espanha x Taiti, pela Copa das Confederações, guardava a esperança de que a alma do velho Maraca tivesse sobrevivido, de que, com os jogos dos clubes, não teríamos uma ‘plateia’ no estádio. Mas eis que o sr. Eike Batista e seus muquepes trataram destruir essa esperança.

Em São Paulo, já temos uma experiência do tipo. Lá, também já são proibidos bandeiras, fogos e instrumentos musicais nos estádios. O resultado, todos já sabem. No caso do Rio, porém, impressiona a proibição em relação aos sem-camisa e aos que ficam em pé. Afinal, há uma ditadura também no esporte? Será que isso tudo não faz parte de um processo ferrenho de elitização do público que aprecia o futebol? Isso fica ainda mais escancarado quando vemos os preços prévios que o consórcio impôs nos melhores setores do estádio para jogos do Fluminense: nada mais, nada menos que R$ 100,00 e R$ 220,00.

Outro crime é a instalação de grades para a divisão das torcidas. Ou esses caras não pensam ou têm preguiça de pensar. Já que o receio é com as torcidas organizadas, por que não separá-las por um cordão humano, como será feito hoje (14) no jogo entre Flamengo e Vasco no Mané Garrincha? Não impedindo a mistura das torcidas nos setores inferiores, como ocorria no antigo estádio: um diferencial do então Maracanã em relação aos demais estádios e motivo de orgulho para os torcedores cariocas.

Por que não fizeram como no Mineirão, em que foram mantidos os dois lances de arquibancadas? O impacto seria bem menor e o torcedor não sentiria tanto a falta da magia do Maraca. Sem contar que o custo seria provavelmente bem menor que os absurdos 1,049 bilhão de reais, pois o estádio já havia passado por duas reformas.

Toda essa modernização, apesar de necessária, da forma como foi feita teve o seu preço. Estamos na era das arenas, em que a torcida deve ter comportamento de plateia, com seus lugares marcados. Esta é a dura realidade. E a verdade é que essa total descaracterização do estádio e de seu entorno é o só o começo de uma bola de neve.

A canção de Neguinho da Beija-Flor parece já não fazer mais sentido. Sérgio Cabral não vendeu o Maracanã. Ele simplesmente o demoliu. A um alto preço.

Rafael Souza é bacharelando em jornalismo pela UERJ, apaixonado por futebol e dono do blog Planeta Pelota

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