Parte 1
Epoch Times: Sr. Rickards, o que ocorreu no ano passado com o chamado ‘afunilamento’, o aperto monetário do Federal Reserve [ou ‘Fed’, é o Banco Central dos EUA], reduzindo as compras de títulos?
James Rickards: Eu esperei durante todo o verão de 2013 que o Fed não afunilasse dos títulos da dívida em setembro, mas a maioria dos participantes do mercado e analistas tinha certeza que eles fariam isso.
Quando eles não afunilaram, aquilo não foi uma surpresa para mim. Mas, em seguida, em dezembro, eu pensei que o Fed poderia não restringir os títulos, no entando, eles fizeram isso.
Em ambos os casos, eu acreditei na palavra do Fed. Não é que eu tivesse uma bola de cristal. O Fed disse várias vezes que tinha certas metas econômicas em mente no que diz respeito ao crescimento, desemprego, inflação e outras métricas e eu não vi essas metas sendo satisfeitas. Assim, a minha visão era que eles não afunilariam.
[‘Afunilar’ aqui significa readquirir ou comprar os títulos da dívida americana, o que é feito por meio da impressão de moeda, também chamada de ‘flexibilização quantitativa’, uma política inflacionária.]
Epoch Times: Por que eles fizeram isso, então?
Sr. Rickards: Minha conclusão foi que eles devem ter tido outra razão, uma vez que seus indicadores e suas palavras diziam que eles não deveriam afunilar. Com que mais eles estavam preocupados?
Acho que foi um par de coisas. Acho que foi Ben Bernanke tentando amarrar seu legado com um arco. Tendo sido o pai da flexibilização quantitativa [ou ‘QE’, a política monetária de imprimir dinheiro comprando grandes quantidades de títulos do governo americano], Bernanke queria mostrar o caminho, mostrar a estratégia de saída e também amarrar as mãos de Janet Yellen um pouco. Porque Janet Yellen é muito mais dócil e menos propensa a iniciar um afunilamento.
Assim, ele estava limitando-a um pouco. Claro, isso está feito e eles afunilaram novamente em janeiro. Janet Yellen enfrenta um sério dilema, que são as medidas de afunilamento do Fed terem conduzido a um enfraquecimento geral.
Epoch Times: Por que isso é um problema?
Sr. Rickards: Porque eles começaram a afunilar sem satisfazer os próprios critérios de crescimento e inflação. O perigo agora é que isso provoque uma recessão.
Na verdade, eu acho que uma recessão nos Estados Unidos em 2014 é até provável. Minha expectativa é que haverá mais uma rodada de afunilamento na reunião de março do FOMC [Comitê Federal de Mercado Aberto], quando eles provavelmente estrangularão mais US$ 10 bilhões.
Mas até junho se tornará muito evidente que a economia está parando, que o mercado de ações está caindo. Eles arriscam um colapso do mercado de ações. Eu acho que eles pararão por meio de interromper o afunilamento.
Eles não aumentarão as compras de ativos, mas interromperão a queda, o que eu chamo de ‘Pausa’ de Yellen. Mas o mercado espera mais afunilamento, de modo que se eles apenas pausarem, isso será uma forma de flexibilização quantitativa em relação às expectativas. Talvez no final do ano eles aumentem as compras de ativos.
Epoch Times: Como o pode Fed fazer isso?
Sr. Rickards: Claro, a questão sobre ‘flexibilização quantitativa 3’ (QE3), que é diferente da QE2, é que o Fed conferiu a si póprio graus de liberdade para alterar a quantidade e mudar a direção das compras de ativos versus afunilamento. Eles não estão presos a um programa definido em relação ao tempo e quantidade como estavam na QE2.
Epoch Times: Quais são os efeitos do afunilamento?
Sr. Rickards: É muito aparente. Ele começa em mercados emergentes, porque um dos grandes condutores de investimentos em mercados emergentes é o modelo de carry trade [uma forma aplicação financeira que consiste em emprestar dinheiro a certa taxa de juros num país e aplicá-lo em outra moeda, onde as taxas de juros são maiores].
Os investidores emprestarão dólares e em seguida o converterão na moeda de algum mercado emergente, quer se trate de rúpias indianas, rand sul-africano, yuan chinês ou real brasileiro, e usarão isso para comprar ações e títulos globais. Eles fazem isso numa base alavancada e no passado isso produziu retornos muito elevados.
O problema é se você espera que as taxas de juros dos EUA subam, e o afunilamento não é o mesmo que o aumento das taxas, mas uma forma de aperto, e isso é o início desse processo, você quer desfazer-se daqueles produtos financeiros muito rapidamente.
O inverso é: Você tem que despejar os títulos de mercados emergentes, ser pago em moeda de mercados emergentes, converter a moeda de volta em dólares, pagar sua dívida em dólares e retornar ao dinheiro, indo para a margem.
Epoch Times: Qual é o efeito sobre os títulos americanos?
Sr. Rickards: Esse é o desenrolar do carry trade, dinheiro entra e dinheiro sai, risco e recuo, de qualquer forma que se chame, é a mesma dinâmica.
Isso está tendo consequências severas nos mercados emergentes, como vemos no Brasil, África do Sul, Turquia, Índia, entre outros.
O que isso está fazendo no curto prazo, está fazendo esses países aumentarem as taxas de juros para defender suas moedas. Vimos aumentos das taxas de juros na Turquia e África do Sul; e acho que veremos essa tendência em outros lugares no futuro próximo.
Isso tenderá a retardar o crescimento. Se isso retarda o crescimento e há menos fluxos de capital, então esses países têm menos capacidade para comprar exportações dos EUA, e a China está desacelerando por razões próprias.
Tudo isso alimenta um enfraquecimento global, desaceleração global, deflação global, e essa é uma das razões por que os títulos norte-americanos estão corrigindo.
Agora, temos também muita volatilidade – 300 pontos para baixo num dia, aumento de 200 pontos no dia seguinte. É o que eu chamo de volatilidade não direcional. Isso não representa um mercado em crescimento, isso não representa uma recuperação, o que isso representa é confusão.
Isto não é surpreendente porque o próprio Fed está confuso e incerto do que está fazendo. O Fed realmente não entende o que está fazendo. Porque eles estão manipulando os mercados, o mundo inteiro está um tanto confuso.
Epoch Times: Então, você espera muito mais volatilidade para 2014?
Sr. Rickards: Correto. 2014 se parecerá mais com 2011 ou com o primeiro semestre de 2012. Se você se lembra, em 2011/2012, a razão da volatilidade não foram os mercados emergentes, mas a crise do euro.
Um dia [a chanceler alemã] Angela Merkel estaria lutando com o ministro das Finanças grego e os mercados cairiam; no dia seguinte, eles se beijariam e fariam as pazes e os mercados subiriam.
O que havia era apenas esta volatilidade impulsionada por investimentos e fugas vis-à-vis à Europa. Agora a Europa está estabilizada, mas vemos a mesma coisa nos mercados emergentes.
Tudo volta ao Fed e ao que os economistas chamam de incerteza do regime. Então, acho que teremos esse tipo de volatilidade no primeiro semestre, mas no segundo a fraqueza dos EUA será aparente, o Fed pode afrouxar o aperto, e então os mercados emergentes podem se recuperar.
Epoch Times: E assim também os títulos dos EUA?
Sr. Rickards: Sim, porque não há nada que os títulos dos EUA gostem mais de que dinheiro livre; assim, quanto mais dinheiro o Fed criar, mais o mercado de ações ficará satisfeito.
E a propósito: A razão pela qual chamamos isso de QE3 é porque tivemos QE2 e QE1. E lembre-se o que aconteceu: Todos disseram que o afunilamento começou em dezembro de 2013, mas na verdade, quando QE1 terminou foi 100% afunilamento e o mesmo em QE2.
Simplesmente não foi gradual; foi tudo de uma vez. Ambos os programas afunilaram para zero e ambos falharam. Eles tiveram que voltar para mais, levando à QE3. Temos dois momentos de dados e o que eles nos dizem é: Afunilamento falha. Então, é esperado que falhe novamente.
Parte 2
Epoch Times: Sr. Rickards, por favor, conte-nos sobre o seu novo livro “The Death of Money”, que sai em abril.
James Rickards: Ele é tanto um prelúdio como uma sequência de “Currency Wars”, meu primeiro livro. É um prelúdio no sentido de que “Currency Wars” abriu com dois capítulos que descrevem um jogo de guerra financeira que ocorreu num laboratório de armas ultrassecreto em 2009.
Essa foi a primeira vez que o Pentágono fez um jogo de guerra em que as únicas armas que poderiam ser empregadas eram instrumentos financeiros – ações, títulos, derivativos, moedas.
Como eu me envolvi nisso? No livro, eu começo a falar sobre envolvimentos anteriores em matéria de segurança nacional e que isso levou até o jogo de guerra. Essa parte é o prelúdio.
A continuação é que em “Currency Wars” eu também tratei de muita história. Havia cinco capítulos de história e eu pensei que isso era muito importante.
Se você vai falar sobre ouro com o leitor, muitas vezes, se você pular direto para o ouro, as pessoas pensam que você é uma espécie de louco. Acho que se você narrar os acontecimentos por meio da história as pessoas podem ver o ouro num contexto, e quando você falar sobre isso, não parece tão estranho.
Em meu novo livro, “The Death of Money”, não há razão para repetir a história – está tudo em “Currency Wars” – então é mais inclinado para frente, e fala mais sobre o futuro do sistema monetário internacional, um colapso a caminho.
E não apenas um colapso, porque muitas pessoas estão correndo por aí falando com tristeza e melancolia, sobre o fim do dólar e tudo mais. Posso até concordar com isso, mas não acho que isso tenha muito conteúdo.
O que tento fazer é fornecer uma análise mais aprofundada descrevendo o que virá a seguir, como o futuro sistema monetário internacional se parecerá.
Eu saliento que o sistema monetário internacional já entrou em colapso três vezes nos últimos 100 anos – 1914, 1939 e 1971 – e que outro colapso não seria de todo incomum. Mas não é o fim do mundo. É simplesmente a ocasião em que as grandes potências se sentam e reformam o sistema. Eu falo sobre o que seria a reforma.
Então essa é a sequência ou a continuação da história olhando para o horizonte. Algumas coisas que estão antes de “Currency Wars” e outras que vem depois. E algum conteúdo sobre a situação contemporânea na Europa e na China, então espero que as pessoas gostem.
Epoch Times: E quanto ao ouro?
Sr. Rickards: O ouro possui uma série de vetores. Tecnicamente, ele está configurado para uma grande recuperação. Deixe-me separar os fundamentos das tecnicalidades.
Fundamentalmente, meu preço-alvo para o ouro está na faixa de 7 a 9 mil dólares por onça. Isso não é algo que acontecerá de imediato, mas também não é uma previsão de 10 anos. É uma previsão de 3 a 5 anos, para o preço subir cerca de 5 a 6 vezes.
Epoch Times: Em que se baseia a análise?
Sr. Rickards: Ela se baseia num colapso da confiança no dólar e em outras formas de dinheiro de papel. Para restaurar a confiança há dois meios: Inundar o mundo com liquidez do Fundo Monetário Internacional (FMI) na forma de Direitos Especiais de Saque [DES, uma forma de moeda emitida pelo FMI], ou voltarmos ao padrão-ouro.
A inundação do mercado com DES seria altamente inflacionário, de modo que isso colocaria o ouro numa posição superior. Se voltarem ao padrão-ouro, eles terão de assumir um preço não deflacionário.
As pessoas dizem que não há ouro suficiente no mundo. A resposta é que sempre há ouro suficiente no mundo. É apenas uma questão de preço. Agora, em 1300 dólares a onça, não há ouro suficiente para apoiar o comércio e as finanças mundiais. Mas em 10 mil dólares a onça, há ouro suficiente. Não se trata de ouro, mas do preço.
Se voltarmos ao padrão-ouro temos de evitar o erro que a Inglaterra cometeu em 1925, ao voltar ao padrão-ouro pelo preço errado, o que provou ser altamente deflacionário, e contribuiu para a Grande Depressão. Eu fiz as contas sobre isso e o preço não deflacionário para um padrão-ouro hoje é cerca de 9 mil dólares a onça.
Epoch Times: Em que se baseira o seu preço-alvo?
Sr. Rickards: Ele é baseado em sustentar a oferta de papel-moeda com ouro. Isso seria usar M1 [notas de papel, moedas e contas correntes] como a base monetária, com um suporte de 40%. Se você fosse usar M2 [M1 mais contas de poupança e fundos do mercado monetário] com um suporte de 100%, isso equivaleria a 40 mil dólares a onça.
Epoch Times: Investidores em ouro fariam a festa!
Sr. Rickards: Isso não significaria que o ouro valeria mais [em termos reais]; isso significaria apenas que o dólar entrou em colapso. Mas de fato você faria mais dólares por onça. Isso seria uma previsão para 3 a 5 anos.
Para o próximo ano, esses fundamentos não são susceptíveis de emergir em um ano. Mas as tecnicalidades podem. Tecnicamente, o ouro está configurado para valorização devido à diminuição da oferta flutuante.
Epoch Times: Será que isso tem a ver com a queda do ouro no ano passado?
Sr. Rickards: Houve 500 toneladas retiradas do depósito GLD [Spider Gold Trust ETF] pelos bancos de ouro. Essa foi uma retirada física maciça do mercado. As pessoas realmente não entendem como o GLD ETF funciona. Quando as pessoas estão comprando o GLD, elas não estão comprando ou vendendo ouro; elas estão comprando e vendendo ações.
O ouro fica num armazém e só está disponível para os participantes autorizados. Se você olhar a lista de participantes autorizados e a lista de bancos de ouro, eles são praticamente os mesmos: Goldman Sachs, Citigroup, JPMorgan, Morgan Stanley, Deutsche Bank, HSBC etc.
Os bancos têm a capacidade de comprar ações, tomar ações, trocá-las e obter o ouro físico. E eles estavam fazendo isso e enviando o ouro para Shanghai para apoiar o comércio e o arrendamento em mercado de ouro de Shanghai. Então, quando você pega 500 toneladas e despeja no mercado, isso é cerca de 20% da oferta anual de mineração. Isso é uma injeção física maciça.
O outro fator é apenas a pura e simples manipulação, o que é muito visível nos preços de futuros do Comex (mercado de commodity). Eu vi algumas análises estatísticas que demonstram a manipulação do mercado, sem sombra de dúvida.
Epoch Times: Um duplo golpe…
Sr. Rickards: Então, a questão é que entre a manipulação do banco central por meio dos futuros do Comex e o despejo físico dos bancos de ouro, e com a limpeza do depósito GLD, e, aliás, também do depósito Comex, há uma enorme quantidade de ouro que entrou no mercado em relação às tendências de fornecimento normais, colocando enorme pressão de venda no Comex.
Então, isso foi uma combinação ruim, mas o problema é que isso não é sustentável.
Epoch Times: Então, e agora?
Sr. Rickards: Você não pode saquear o depósito duas vezes. Uma vez que você retire todo o ouro, você não pode retirá-lo de novo. O cofre do JPMorgan está baixo, o cofre de Comex está baixo e o cofre do GLD está baixo.
Epoch Times: Para onde o ouro está indo?
Sr. Rickards: Um dos grandes movimentos agora é o ouro se deslocando de lugares como UBS, Credit Suisse e Deutsche Bank para depósitos privados como G4S, ViaMAT e Brink’s. Isso não aumenta a oferta de ouro de forma alguma. Mas o que isso faz é que diminuir a oferta flutuante disponível para negociação.
Se eu tivesse o meu ouro no UBS, o UBS normalmente tem o direito de re-hipotecagem. Mas se eu retirar o meu ouro e movê-lo para o ViaMAT, ele está apenas sentado ali e não está sendo comercializado ou re-hipotecado.
Então, se eu mover o ouro do UBS para o ViaMAT, não há mais ou menos ouro no mundo. Eu ainda sou o dono, e é a mesma quantidade de ouro. Mas da perspectiva do mercado, a oferta flutuante diminuiu.
O maior jogador nisso é a China. A China está comprando milhares de toneladas de ouro secretamente por meio de fraude e usando recursos de inteligência militar, operações secretas etc.
Epoch Times: Então, por que o preço do ouro continuará subindo?
Sr. Rickards: Há uma oferta total de ouro no mundo. Mas para encurralar um mercado ou espremê-lo, você não precisa comprar todo o ouro, você só precisa comprar a oferta flutuante. Pense em todo o ouro do mundo, é cerca de 170 mil toneladas. Pense num pedacinho em cima disso que é a oferta flutuante disponível para negociação.
O ouro que está nos cofres do Comex, JPMorgan ou GLD está disponível para negociação. O ouro comprado pelos chineses não verá a luz do dia novamente pelos próximos 300 anos, e não está disponível para negociação. Assim, com o ouro indo do Ocidente para o Oriente, e do GLD para a China, a quantidade total de ouro mantém-se inalterada, mas a oferta flutuante está declinando rapidamente.
Isto significa que o papel-ouro que fica em cima da oferta flutuante está se tornando cada vez mais instável e vulnerável a um estrangulamento, porque não há ouro físico suficiente para apoiá-lo. Então isso provavelmente provocará colapso em certo ponto, levando a um estrangulamento rápido e compras pesadas.
Parte 3
Epoch Times: Sr. Rickards, em nossa última entrevista (parte 1, parte 2), falamos sobre o ouro e por que ele poderia valorizar. Você também mencionou que os chineses estão por trás da compra de enormes quantidades…
James Rickards: Eu encontrei-me com a maior refinaria de ouro do mundo, o chefe de operações de metais preciosos. Ele recentemente expandiu sua capacidade; eles criaram toda uma nova área em sua fábrica e é altamente automatizada. E ele está trabalhando em turnos triplos, ele está trabalhando 24 horas por dia para produzir ouro.
Ele está produzindo 20 toneladas por semana e metade disso vai para a China. Então, isso equivale a 10 toneladas por semana, o que é cerca de 500 toneladas por ano. E isso é apenas uma refinaria, sem contar todas as outras, isso é muito ouro.
Ele disse que os chineses querem mais, mas ele não fornecerá porque tem clientes regulares. Ele supre os relógios Rolex e outros indivíduos de alto patrimônio líquido e instituições, que são todos clientes de longa data. Ele não pode recusar a preencher suas ordens.
Ele disse: “Estou fazendo todo o ouro que posso, trabalhando 24 horas por dia, enviando tanto ouro quanto posso para a China, 500 toneladas por ano, e os chineses ainda querem mais.”
Epoch Times: Como o suprimento pode se manter?
Sr. Rickards: Então, de onde vem o ouro? Ele vem da produção mineradora, sucatas e barras de 400 onças. Os chineses estão basicamente virando as costas para o mercado de ouro de Londres e criando um novo padrão. Então, o velho padrão eram barras de 99% ouro puro de 400 onças, o novo padrão são barras de 99,99% ouro puro de um quilograma.
Desta forma, o que as refinarias estão fazendo é que elas estão pegando as barras de 99% ou 400 onças, e refinando-as em barras de 99,99% ou de um quilograma, porque essa é a única coisa que a China quer.
Eles estão pegando barras de 400 onças, que pesam 25 libras ou 11,34 kg, e transformando-as em barras de 1 kg. Os chineses gostam de 1 kg, porque há muita demanda por isso, e é muito melhor para contrabandear. Há uma enorme fuga de capitais saindo da China.
O Shanghai Gold Exchange está em processo de substituir Londres como o centro de comércio de ouro do mundo, e eu mencionei alguns aspectos disso [em minhas entrevistas anteriores].
Um deles é que muito do abastecimento flutuante está se deslocando para lá; segundo, os chineses mudaram o padrão de barras de 400 onças para de um quilo, e estão facilitando a negociação e a construção de grandes cofres em Shanghai e têm suas próprias refinarias. Assim, considerando todas essas tendências juntas, fica muito claro que o centro de comércio de ouro está se deslocando de Londres para Shanghai.
Epoch Times: E sobre a compra chinesa do cofre de ouro do banco JPMorgan em Nova York?
Sr. Rickards: Eu não ponha muita credibilidade na compra do cofre do JPMorgan, aquilo foi uma transação imobiliária. Eles compraram todo o arranha-céu Chase Manhattan. Mas há um cofre no subsolo. Eu não posso imaginar que eles gastaram mais de um bilhão de dólares num prédio para que pudessem obter um cofre. Tenho certeza que foi um negócio imobiliário, e o que eles queriam era o edifício, mas de fato há um cofre lá.
Além disso, se você é chinês, por que você desejaria seu ouro em Nova York, você preferiria que estivesse em Shanghai. Mas o que está ocorrendo em Shanghai é muito significativo. Basta dizer que a China está se tornando o poder mundial do ouro. Em termos do sistema monetário mundial, Shanghai está se tornando o centro de comércio mundial de ouro em lugar de Londres e, colocando essas duas coisas juntas, você tem de se perguntar por quê?
Epoch Times: Por quê?
Sr. Rickards: Acho que eles vêem algo que a maioria das pessoas não vê. O sistema monetário internacional baseado em moedas de papel é frágil e suscetível de entrar em colapso, e, quando o sistema precisa ser reformado, o povo com a maior voz na mesa será aquele com mais ouro.
Epoch Times: Certo, mas mesmo incluindo esta compra frenética, os chineses têm uma menor porcentagem do seu abastecimento de dinheiro reservado em ouro do que os Estados Unidos.
Sr. Rickards: Eu concordo com isso, o que me diz que eles continuarão comprando. Acho que eles adquiriram três ou quatro mil toneladas em segredo, mas não acho que estejam satisfeitos.
Epoch Times: A China pode abastecer o mundo com uma moeda de reserva?
Sr. Rickards: Não com o yuan. (a) Eles não querem abrir sua conta de capital; (b) O yuan não pode ser moeda de reserva global. O yuan está se expandindo em uso como moeda de comércio, mas a maioria das pessoas não entende a diferença entre uma moeda de comércio e uma moeda de reserva. A moeda de comércio é apenas uma forma de manter a contagem no mecanismo da balança de pagamentos.
Entre o Brasil e a China, se o Brasil se compromete a aceitar o yuan pelos produtos brasileiros, e a China se compromete a aceitar reais em troca de produtos chineses, está tudo certo. Isso satisfaz a relação e resolve as transações de tempos em tempos. Isso é uma moeda de comércio ou troca.
Mas ser uma moeda de reserva significa que os países que têm reservas têm de investir em alguma coisa, então você precisa de um lastro líquido significante de ativos de investimento. A China não tem isso. Não há mercado de obrigações chinês. Há alguns títulos Dim-Sum e algumas outras coisas, mas não existe um mercado de títulos do governo chinês, e levaria de 10 a 15 anos para desenvolver um.
Mas não é simplesmente uma questão de emitir dívida. A China não precisa obter empréstimo, porque eles têm muitas reservas. Se eles não emprestam, então, não há obrigações, e, se não há títulos, não pode haver uma moeda de reserva, porque não há nada em que investir.
Mesmo que eles fizessem isso, não há estado de direito na China, então como você confiaria que os chineses não roubariam seu dinheiro? Então, com tudo isso junto, eles não estão nem perto de ser uma moeda de reserva.
Epoch Times: Então, o que os chineses estão fazendo?
Sr. Rickards: O que a China quer são os DES [‘Direitos Especiais de Saque’, um instrumento monetário internacional que funciona como um tipo de dinheiro entre os governos], porque eles não controlam o dólar. Os DES são emitidos pelo FMI, e a China está simultaneamente fazendo lobby para mais votos no FMI.
A China está tentando usar sua disposição de emprestar dinheiro ao FMI para comprar notas de DES do FMI e assim dar dinheiro ao FMI para socorrer a Europa. Ela está tentando usar isso como alavanca para conseguir mais votos. Se ela tiver mais votos, ela se sentiria confortável usando os DES como moeda de reserva, porque seu uso seria regulado pelos membros do FMI e isso faria a China o segundo maior membro, depois dos Estados Unidos.
Os Estados Unidos estão se opondo a isso, mas a francesa Christine Lagarde [chefe do FMI] está pressionando fortemente pelo aumento da participação chinesa. É um jogo mundial complicado.
Se você me perguntasse se a China quer se livrar do dólar como moeda de reserva global, a resposta é sim. Mas a maioria das pessoas pensa que é porque eles querem o yuan. Mas não é. E sim os DES.
Epoch Times: O que os Estados Unidos podem fazer sobre o dinheiro devido à China?
Sr. Rickards: Tudo o que temos de fazer é inflar nossa moeda e pagá-los de volta em dólares mais baratos e isso se refletiria numa transferência de riqueza da China para os Estados Unidos. Assim, a China é completamente vulnerável a isso, e é por isso que eles estão comprando ouro para criar um fundo.
Se inflarmos, então o ouro subirá. Então, o que eles perdem no papel, eles ganham com o ouro.
Epoch Times: Sr. Rickards, muito obrigado pela entrevista.
James Rickards é autor do best-seller “Currency Wars” e do vindouro “The Death of Money”. Ele é gerente de portfólio da West Shore Group e consultor sobre ameaças econônicas e financeiras internacionais do Departamento de Defesa e da comunidade de inteligência dos EUA. Seu twitter é @JamesGRickards
A entrevista foi editada para concisão e clareza.