Em setembro do ano passado, começou o debate na Argentina pela instalação, na província de Neuquén, de uma “estação do espaço longínquo” construída e gerida pela República Popular da China. Parlamentares da oposição e ex-funcionários questionaram o acordo, alegando que este violaria a soberania nacional, e também cogitaram o seu possível uso para fins militares.
Um dos maiores argumentos para essa última hipótese é que a empresa chinesa que irá construir e gerenciar a estação, a China Satellite Launch and Trackng Control General (CLTC), depende diretamente do Departamento Geral de Armamento do Exército Popular de Libertação, e a tecnologia que será utilizada na estação pode ser utilizada tanto para fins civis quanto para militares.
A CLTC apresenta-se como uma empresa dedicada às operações de telemetria, rastreamento e comando de operações espaciais, a exemplo do programa de Exploração Lunar da República Popular da China. Mas a oposição, incluindo o senador da UNEN Fernando “Pino” Solanas e o ex-vice-chanceler Roberto Garcia Moritan, têm apontado que a sua tecnologia e o potencial de operação podem ser utilizados para fins militares, como por exemplo, “escaneamento de comunicações, rastreamento e detecção de satélites, controle de lançamento em escala global, e, caso necessário, controle de mísseis, drones e outras atividades militares”, disse o ex-vice-chanceler em uma coluna do jornal Infobae.
O Epoch Times vem denunciando há muito tempo a estratégia militar chinesa e seus programas conhecidos como “por baixo da manga” ou “garrote vil”. Ao analisar estas estratégias, não é difícil entender o contexto da instalação desta estação e seu verdadeiro propósito.
O coelho branco
Na China, o regime chinês e sua estratégia militar são conhecidos como “coelho branco com a barriga preta”, que possui significado semelhante ao da expressão ocidental “lobo em pele de cordeiro”, e refere-se à natureza enganosa do regime, que à primeira vista parece inofensivo, mas esconde intenções sombrias.
Para entender a relevância desta analogia e o verdadeiro propósito da estação espacial, a primeira coisa a ser compreendida é que a estratégia militar da China não se baseia no uso da força, mas na dissimulação e enganação.
Frente às potências mundiais, o exército chinês não parece tão ameaçador. Apesar de seu grande contingente, seus navios e aviões são da era soviética, sua tecnologia não acompanhou o ritmo de outros exércitos que possuem tecnologia de ponta, e os equipamentos ‘Made in China’, como todos sabem, não são de boa qualidade.
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É por isso que a estratégia da China não é baseada em incrementar os armamentos, mas sim no desenvolvimento e aplicação de tecnologias que podem anular ou interferir os equipamentos inimigos. É neste ponto que entra a tecnologia espacial.
As armas antissatélites integram o que a China chama de “por baixo da manga” ou “garrote vil”. São sistemas que permitem o exército chinês desarmar os outros exércitos que utilizam tecnologia de satélite para comunicações, GPS e outras aplicações.
Um relatório de setembro de 2010, emitido pelo Centro Nacional de Inteligência Terrestre dos EUA, afirma que “Estas armas modernas, as ‘por baixo da manga’ ou ‘garrote vil’, permitiram que as forças de baixa tecnologia da China prevalecessem sobre as forças de alta tecnologia dos EUA, em um conflito localizado”. O relatório também cita os ciber-ataques, o uso de radiação de micro-ondas e os pulsos eletromagnéticos como outras armas utilizadas neste tipo de estratégia.
O tenente-general Ronald L. Burgess, diretor da Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, advertiu no início de fevereiro de 2012 sobre a estratégia chinesa de focar na guerra espacial. Burgess disse que, além de armas antissatélites, a China também está “desenvolvendo sistemas de interferência e armas de energia dirigida para missões ASAT (antissatélites)” e frisou que “raramente Pequim reconhece as aplicações diretas de seu programa espacial, referindo-se a quase totalidade de seus lançamentos de satélites como científicos ou civis”.
O último desses casos ocorreu em 12 de maio do ano passado, quando a China testou uma das suas armas antissatélites, a Dong Ning-2, e afirmou que tratava-se de uma missão científica.
Por que a NASA não colabora com os programas espaciais da China
As preocupações sobre as intenções do programa espacial chinês começaram em janeiro de 2007, quando a China destruiu um de seus satélites com uma arma antissatélites, sem aviso prévio. Informações do Departamento de Estado dos EUA, que vieram a público pela Wikileaks, detalham que a China “não ofereceu nenhuma resposta razoável” a qualquer uma das nações que questionaram a razão do teste.
Ainda foi esclarecido pelas informações vazadas que os EUA decidiu suspender a cooperação da NASA com a China, observando que “uma das principais razões para esta postura é a contínua falta de transparência da China em relação à vasta gama de atividades espaciais”.
A estratégia espacial do Exército Popular da Libertação
Ao contrário da maioria dos países, em que as organizações dedicadas à exploração espacial são ligadas à ministérios civis ou são independentes, na China, é o Exército de Libertação Popular (EPL) que supervisiona diretamente todo o programa espacial. Um relatório de 2013 do Pentágono tem como foco a estratégia militar chinesa direcionada à utilização do espaço.
“Os estrategistas do EPL acreditam que a capacidade de usar o espaço e negar o acesso ao espaço aos adversários é o ponto central para iniciar uma guerra moderna e informatizada”, afirma o relatório, que também salienta que “publicamente, a China tenta dissipar qualquer ceticismo sobre as suas intenções militares no espaço”, no entanto sua doutrina interna comprova isso. O relatório cita um analista do EPL dizendo que “o espaço é o centro de operações no campo de batalha cibernético” e “destruir ou capturar satélites e outros sensores… irá restringir a iniciativa do adversário no campo de batalha e [dificultará] o emprego pleno de suas armas teleguiadas”.
O relatório também cita documentos do EPL que “enfatizam a necessidade de destruir, danificar e interferir com satélites de comunicação … e reconhecimento do inimigo”.
Diante disso, não há nenhuma possibilidade de que o CLTC, empresa que instalará a estação espacial em Neuquén, não siga as diretrizes do EPL sobre o uso militar do espaço e não utilize a estação como parte da estratégia global da China em sua “guerra computadorizada”.