Passou-se pouco mais de uma semana desde que a China, mantendo certa base de estabilidade, chocou os mercados ao permitir a desvalorização de sua moeda em 3% em dois dias. Abaixo entenda o que aconteceu, por que aconteceu, e o que o futuro reserva.
O que aconteceu?
A moeda chinesa, o yuan, caiu cerca de 3% em relação ao dólar ao longo de dois dias a partir de 11 de agosto. Três por cento não é muito, especialmente porque outras moedas, como o euro e o iene, oscilam muito mais, às vezes em um único dia.
A principal diferença com a China é que a moeda não é negociada livremente. O Banco Popular da China (PBOC) estabelece oficialmente uma taxa e permite uma flutuação em torno de 2% dessa taxa. Assim, o renminbi (yuan) foi atrelado ao dólar por 10 anos e o PBOC deixou o yuan subir 21% ao longo do período.
Muitos legisladores nos Estados Unidos acham que o yuan deveria estar em um patamar muito mais alto, dado o rápido crescimento econômico da China e o florescimento das exportações para os Estados Unidos. Quando pela primeira vez o Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que o yuan estava bastante valorizado na primavera e, em seguida, o mercado avaliou a moeda como supervalorizada, isso chocou os investidores.
Claro, o PBOC não podia permitir uma flutuação sem controle. Em agosto, disse que manteria a taxa de fechamento na casa de 2%. Na prática, isso significa que o banco ainda irá intervir quando lhe agrade e também o yuan não será capaz de se mover mais do que 2% por dia.
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Por que eles fizeram isso?
Exceto por alguns observadores astutos como Diana Choyleva, da Lombard Street Research, a maioria de Wall Street foi pego de surpresa. Por um longo tempo, Choyleva disse que o yuan estava sobrevalorizado, especialmente considerando a deflação doméstica.
“Como argumentamos, o crescimento diminuiu acentuadamente com um yuan sobrevalorizado, com o excesso de capacidade de produção e condições monetárias apertadas”, disse Choyleva. Lombard Charles Dumas estimou em maio que a taxa de câmbio seria de 15-20 por cento sobrevalorizada em relação a 2010, quando as exportações estavam crescendo fortemente.
As exportações sofreram quedas recentes (queda de 8,3% em relação ao ano em julho), razão pela qual a maioria dos comentaristas atribuíram a mudança de política a uma desvalorização ‘old-school’ com o objetivo de promover as exportações. Essa política econômica míope tem objetivo de baratear as mercadorias nos mercados internacionais simplesmente por baratear, ou seja, desvalorização da moeda.
Esse tática não é de todo errado e as autoridades chinesas certamente apreciariam algum crescimento adicional através das exportações. No entanto, o comércio líquido só aumentou 2,56% do PIB em 2013 e manteve queda desde então.
Em vez disso, o investimento interno em imóveis e infra-estrutura não foram suficiente para manter o crescimento, fazendo que a bolha imobiliária estourasse em 2014. Lombard observa que a China vive um momento ímpar.
Jeffrey Snider, da Alhambra Investment Partners, diz que os bancos e empresas chinesas estão realmente ficando sem dólares e o PBOC deve agir rapidamente para evitar pânico no mercado.
“Os bancos chineses, que anteriormente tinham excedentes de dólares, tiveram de recorrer aos mercados internacionais para obter dólares para as corporações, porque as exportações chinesas começaram a desacelerar em 2012 para financiar o comércio”, disse ele. Isso explicaria o yuan sendo constantemente negociado em um patamar inferior ao definido pelo PBOC para o ano passado.
Isso explica a incessante queima da reserva de moeda estrangeira pelo PBOC para amparar o mercado. As reservas perderam U$ 317 bilhões em Agosto de 2014, segundo a Bloomberg. Snider acredita que até o montante de U$ 4 trilhões da China não durará muito.
“As saídas têm sido enormes. Não há garantia de que isso irá permanecer estável, e se as condições piorarem, isso poderia crescer exponencialmente”, disse ele.
Claro, não são apenas as empresas chinesas que necessitam financiar as suas obrigações em dólar para o comércio ou expansão internacional. Os cidadãos chineses, desde funcionários corruptos até os trabalhadores de classe média querem mandar seu dinheiro para fora do país. Todos têm sido destruídos pelas perdas nos investimentos em imóveis, títulos corporativos, e recentemente, no mercado de ações.
O que vai acontecer?
“Do ponto de vista chinês não há mais qualquer saída, eles estão presos. Não há transformação ordenada aqui”, disse Snider. Por causa dos problemas inerentes dentro da economia e perdas dos investidores em cada classe de ativos, parece que não há caminho de volta. “Eles vão tentar convencer os mercados de que a situação já chegou no limite e que vai melhorar a partir daqui.”
A mudança é muito difícil, mas os chineses têm um aliado: o FMI, que incentiva a China ter uma taxa de câmbio mais livre e flutuante. Claro, quando dizem livre e flutuante, não significa desastre econômico. O veredito ainda será decidido sobre o futuro econômico da China.