Robert Gates, o ex-secretário de Defesa do presidente americano Barack Obama, poderia muito provavelmente dar ao presidente alguns insights sobre o que está ocorrendo esta semana na China, enquanto líderes políticos mundiais se reúnem na capital de Pequim e seus respectivos representantes militares se reúnem na cidade de Zhuhai, no Sudeste da China.
Gates se reuniu com os líderes militares na China em janeiro de 2010 para o que ele acreditava que seria um diálogo amigável e necessário. Cerca de seis meses antes de sua viagem, ele minimizou a ameaça sobre a próxima geração do avião caça chinês J-20, dizendo que esse modelo não estaria em serviço na China até a década de 2020.
Enquanto Gates estava na China em 2010, o regime chinês realizou seu primeiro teste de voo do J-20. A comunidade de Defesa interpretou isso como uma mensagem, não para o público, mas com um propósito claro e agressivo.
O regime comunista chinês está novamente fazendo o mesmo jogo. Enquanto a atenção do público e da mídia global está na reunião de cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) de 2014 em Pequim, o regime chinês está realizando uma exibição armamentista em Zhuhai para os líderes militares e de segurança global.
A mídia estatal chinesa está promovendo uma linha comum que esta cimeira da APEC representa um marco: a reunião da APEC anuncia um papel maior chinês na política global. Desde a Xinhua até o Diário do Povo e o Global Times, a mídia estatal chinesa está retratado o regime chinês como um país poderoso pronto para expandir sua influência.
Enquanto a mídia estatal retrata a China como um país pacífico que toma seu lugar de direito na política global, os Estados Unidos é descrito como um causador de problemas que tenta impedir a China de alcançar seus objetivos legítimos.
Assim, enquanto o regime chinês usa a APEC para apresentar uma imagem de paz e prosperidade global, ao mesmo tempo ela usa seu show aéreo em Zhuhai para projetar mais alto do que nunca uma mensagem de agressividade e poderio militar.
“Você não precisa colocar todo esse material novo em exposição, a menos que você esteja tentando fazer uma grande declaração”, disse William Triplett, ex-conselheiro-chefe do Comitê de Relações Exteriores do Senado dos EUA e especialista em segurança nacional, numa entrevista por telefone.
Em Zhuhai, o regime chinês parece não poupar esforços. Ele revelou mais de uma dúzia de sistemas de armas de ponta que poderiam desafiar o predomínio militar dos EUA, incluindo armas que especialistas de Defesa acreditavam que a China estaria longe de completar.
Entre as novas armas há um míssil supersônico antinavio, novos projéteis de artilharia guiados por GPS, novos lasers táticos, uma nova versão de exportação de seu avião caça furtivo e seu avião cargueiro pesado Y-20, que poderia ajudar o regime militar a expandir seu alcance.
“Eu vou a shows de armas em todo o mundo, e você não vê uma exibição tão ampla”, disse Triplett. “Isso não acontece. Normalmente isso não ocorre dessa forma. Eu já vi todas estas coisas.”
Quando visto no contexto da China revelando seu J-20 durante a visita de Gates em 2010, disse Triplett, a apresentação do regime chinês dos novos sistemas de armas, todos de uma vez, enquanto os líderes mundiais estão na cúpula da APEC em Pequim, envia uma mensagem muito clara.
“É como se tivéssemos duas realidades, ou uma realidade e um fantasma”, disse Triplett. “O fantasma é a APEC, e o que é realmente sólido e concreto é Zhuhai.”
Decodificando Zhuhai
Desembaraçar o que é real e o que é para exibição exige que os Estados Unidos desejem compreender a mensagem que está sendo apresentada em Zhuhai.
De acordo com Richard Fisher Jr., pesquisador sênior do Centro Internacional de Avaliação e Estratégia, a decodificação de um evento como Zhuhai para o governo dos EUA pode ter um preço.
O Navy Times revelou ontem que um líder sênior da inteligência da Marinha dos EUA foi removido de sua posição por advertir os líderes dos EUA sobre uma ameaça militar da China. O capitão James Fanell foi o diretor de operações de inteligência e informação na Frota do Pacífico dos Estados Unidos.
“Basicamente, foi-lhe dito que dizer a verdade é um erro”, disse Fisher, que observou que o momento da advertência é percebido nas forças armadas como um sinal de que a pressão da China pode inclusive penetrar nos militares dos EUA.
“Fanell é um analista altamente respeitado”, disse Fisher. “O tratamento que ele recebeu demonstra de fato os perigos que qualquer americano enfrenta em sua carreira ao dizer a verdade sobre a China. Há dezenas de nós que sofreram profissionalmente porque temos dito a verdade sobre a China.”
O quadro geral é que o regime chinês está exibindo duas faces durante a atual reunião da APEC em Pequim – uma para o consumo público e outra voltada para a comunidade de Defesa.
“Estes eventos não são acidentais”, disse Fisher, referindo-se a exibição chinesa de numerosos sistemas de armas durante a cimeira da APEC. “Isso não ocorre por acaso.”
“O regime chinês é especialista em combinar várias mensagens para vários públicos”, disse ele. “Isso é parte de práticas históricas de longa data de guerra psicológica.”