Ex-aluno da Universidade Tsinghua de Pequim reconta o 20 de julho de 1999, que marcou o início da perseguição ao Falun Gong
Em 19 de julho de 1999, eu estava num ônibus de longa distância que ia da província de Hebei para Pequim, quando o ônibus foi parado por policiais militares a meio caminho de nosso destino. Eu podia ouvir o que a polícia disse ao motorista: queriam interceptar praticantes do Falun Gong que iam a Pequim para apelar.
Depois que o ônibus chegou à Estação Museu Militar, eu saí e caminhei até o edifício da China Central de Televisão (CCTV). A atmosfera no local era muito tensa, com muitos oficiais, policiais e agentes à paisana presentes. Havia rumores de que a CCTV queria transmitir um documentário que caluniava o Sr. Li Hongzhi, o fundador da disciplina espiritual do Falun Gong.
O filme foi feito em Wuhan, capital da Hebei, e milhares de praticantes do Falun Gong de Wuhan já haviam apelado no edifício da CCTV tentando impedir a transmissão caluniosa.
Eu me graduei na Universidade Tsinghua, frequentemente referida como “o MIT da China”, e esperava começar o programa de doutoramento lá em 1999. Em 20 de julho, eu fui à escola e me conectei ao website recém-lançado do Falun Gong chamado Minghui.
Fiquei chocado: todos os praticantes responsáveis pelos centros de ensino voluntário do Falun Gong e todos os membros da Sociedade de Pesquisa do Falun Gong de Pequim foram sequestrados durante a noite. Muitos praticantes do Falun Gong em Changchun, Shenyang e outros lugares que tinham peticionado a seus respectivos governos provinciais para proteger o ambiente de prática do Falun Gong foram espancados e presos pela polícia.
Apelando em Pequim
Quando comia no refeitório, eu conheci vários colegas praticantes do Falun Gong e decidimos que no dia seguinte iríamos peticionar à Secretaria de Cartas e Apelações do Estado (SCAE), o órgão supostamente aberto a qualquer pessoa na China em busca de reparação por irregularidades do governo.
Era um dia muito quente em 21 de julho; as ruas ao redor da SCAE estavam cheias de policiais à paisana que pediam a identidade das pessoas aleatoriamente. No entanto, muitos companheiros praticantes de Pequim estavam lá sem se intimidar.
Eu vi dois colegas praticantes, que pareciam ser de outra província, sendo enfiados numa viatura de polícia. Um praticante perguntou: “Por que vocês estão me prendendo?” Um policial respondeu ameaçadoramente: “Você descobrirá em breve.”
À medida que mais praticantes se reuniam, o número de policiais também aumentava e ônibus grandes e vazios chegaram um após o outro; e a polícia começou a agarrar e arrastar os praticantes para dentro dos ônibus.
Os praticantes resistiram e ficaram firmes lado a lado e de braços dados. Então, de repente, uma dúzia de polícia correu em direção a um praticante de meia-idade, jogou-o no chão e o espancou brutalmente. Despois que perdeu a consciência, ele foi jogado num ônibus.
Os praticantes gritavam: “Protejam a Constituição, [a polícia] não está autorizada a bater nas pessoas.” Eu disse a um policial que estava perto de mim: “Vocês se consideram o exército do povo, por que vocês batem nas pessoas?” Ele permaneceu mudo. Quando a polícia nos puxava e arrastava violentamente, os músculos do meu peito ficaram feridos.
Mais tarde, os praticantes foram postos à força em grandes ônibus e levados para o Estádio Shijingshan na periferia de Pequim. Eles espremeram mais de cem praticantes em cada ônibus, mas só havia um policial militar, além do motorista, para guardá-los.
Com suas ações, a polícia mostrou que sabia estar prendendo boas pessoas e cidadãos inocentes. O único guarda no ônibus era uma prova de que os praticantes do Falun Gong são boas pessoas que defendem os princípios da verdade, compaixão e tolerância.
Depois de chegar ao Estádio Shijingshan, fomos pressionados contra o chão e em seguida postos para se sentar sob o sol escaldante, enquanto a polícia insultava e humilhava os praticantes. Um praticante foi constantemente derrubado pela polícia, mas repetidamente ele se levantava. A polícia também despejou água nele.
Mais tarde, eles nos levaram para o Estádio Fengtai, onde mais praticantes foram reunidos e detidos. Eu vi policiais que usavam capacetes e empunhavam escudos e bastões batendo nos praticantes. Um estudante da Universidade Tsinghua foi espancado até sua camisa virar um trapo. O cinto de outro praticante foi quebrado com o espancamento.
No dia seguinte, fomos novamente apelar. A situação foi similar à do dia anterior. Muitos praticantes foram espancados e presos.
Mentiras e busca de justiça
Na parte da tarde, eu voltei à Universidade Tsinghua para cuidar de algumas coisas. Às 15h, todos os alunos e professores foram informados de que deviam assistir à televisão imediatamente. Uma pessoa cruel com aparência feia apareceu na televisão e anunciou que o Ministério dos Assuntos Civis havia proibido o Falun Gong.
Daquele momento em diante, a mídia estatal começou a atacar o Falun Gong incessantemente. Todos os canais de televisão, jornais, emissoras de rádio e sites da internet foram usados para caluniar o Falun Gong e o Sr. Li Hongzhi.
O clima em Pequim estava extremamente quente naqueles dias e meus amigos da universidade diziam sentir como se estivessem vivendo no inferno. A avassaladora campanha de calúnias na mídia contra o Falun Gong me doeu muito. Tudo o que eu queria era apelar e buscar justiça pelo Falun Gong.
Nos dias que se seguiram, os praticantes do Falun Gong da University Tsinghua, juntamente com os praticantes de Pequim e de outras áreas, esforçaram-se arduamente para informar as pessoas sobre a perseguição que fora lançada. Os praticantes sofreram grandes perdas.
Quase todos na Universidade Tsinghua que praticavam o Falun Gong, incluindo professores e alunos, foram perseguidos. A maioria foi condenada a campos de concentração ou de trabalhos forçados, com a sentença mais longa sendo de 13 anos.
O estudante Jiang Yuan morreu de tortura e maus-tratos. A jovem estudante Liu Zhimei enlouqueceu e agora está inválida. Zhang Lianjun, outro estudante, está paralisado e sofreu danos cerebrais. Estes são apenas alguns exemplos.
Eu fui preso várias vezes e condenado a cinco anos de prisão. Passei dois anos na 2º Centro de Detenção da cidade de Zhuhai e três anos na Prisão Sihui na província de Guangdong. E fui forçado a fazer trabalho escravo.
Os maus-tratos que sofri incluem alimentação forçada, espancamentos, ser eletrocutado com bastões elétricos e privação do sono. Além disso, eu era atormentado com “sessões de críticas” e lavagem cerebral no estilo da Revolução Cultural.
Transformando a China
O sofrimento que os praticantes do Falun Gong da Universidade Tsinghua experimentaram é apenas uma pequena amostra do que os praticantes do Falun Gong em toda a China têm sofrido. Nos últimos 14 anos, muitas histórias comoventes emergiram. Inúmeros praticantes perderam suas vidas defendendo a justiça e sua dignidade.
Mas os esforços pacientes dos praticantes estão mudando as coisas na China. Cada vez mais os cidadãos chineses entendem a verdade e apoiam o Falun Gong. Eles expressam sua desaprovação às autoridades renunciando ao Partido Comunista Chinês (PCC). Alguns até começaram a praticar o Falun Gong.
Nestes 14 anos, a liderança do PCC mudou duas vezes, mas a perseguição continua. O Falun Gong ensina as pessoas a viverem de acordo com os princípios da verdade, compaixão e tolerância e todos os praticantes se esforçam para elevar seus padrões morais.
A perseguição não é apenas dirigida contra o Falun Gong, mas é um atentado contra a própria ideia de ter uma vida moral e tem conduzido a sociedade chinesa à beira do colapso. A perseguição é uma calamidade para toda a nação chinesa.
Desde que o crime hediondo da colheita forçada de órgãos de praticantes vivos do Falun Gong foi exposto, como pode alguém com um mínimo de consciência defender o regime comunista chinês? Esta perseguição tem de acabar.
Huang Kui é engenheiro e mora e trabalha em Peoria, Illinois, EUA, para onde emigrou em 2008