Encontro sino-norte-americano destaca desejo da China por mais poder

05/06/2013 14:32 Atualizado: 05/06/2013 14:32
O primeiro porta-aviões chinês, uma embarcação ex-soviética reformada e renomeada Liaoning, é um novo instrumento das aspirações de poder mundial do regime comunista (STR/AFP/Getty Images)

Uma manchete recente no Diário do Povo, uma mídia porta-voz do Partido Comunista Chinês (PCC), lê: “Acadêmico diz que estabelecer uma nova relação de grandes poderes exige abandonar a mentalidade da Guerra Fria e não disputar por hegemonia”.

Os leitores do Diário do Povo sabem claramente quem o artigo sugere abandonar a mentalidade da Guerra Fria e parar de se proclamar como potência hegemônica: evidentemente, esse seria os Estados Unidos.

As últimas semanas têm visto adendos diários à coleção teórica e análise da relativamente nova doutrina de relações de grandes poderes. Ainda não está claro se isso seria apenas slogans vazios ou um esforço concertado da República Popular da China (RPC) para estabelecer relações com os Estados Unidos sobre o que dizem ser bases mais justas e igualitárias.

Uma coisa é certa, porém: os canais da mídia estatal da RPC e seus facilitadores teóricos estão publicando editoriais sobre o conceito de forma incisiva a caminho da visita do novo líder chinês à Califórnia.

“Eles querem ser reconhecidos como uma superpotência ao lado dos Estados Unidos”, diz Chen Pokong, um analista independente de assuntos do PCC. “Isso serve como propaganda interna e como uma jogada para ganhar um status mais forte em sua relação com os Estados Unidos.”

Um dos componentes-chave da teoria das novas relações de grandes poderes (NRGP) é que ela deve ser baseada na “igualdade, confiança mútua, inclusão e tolerância, aprendizado mútuo, cooperação e win-win”. Isso está expresso num slogan de 12 caracteres chineses que aparece em quase todos os editoriais sobre o assunto. (Na verdade, a frase já havia aparecido antes de ter sido inserida na teoria emergente das NRGP, no discurso de despedida o ex-líder chinês Hu Jintao no 18º Congresso Nacional, quando este entregava o poder a Xi Jinping. Ideias similares também têm sido expressas há um longo tempo.)

Slogans

Os slogans que estão no coração da teoria e das novas expectativas da RPC sobre os EUA, exigem alguma explicação.

De acordo com Chen Pokong, a parte sobre igualdade e confiança mútua significa que os EUA não devem interferir nos assuntos regionais, como o expansionismo do regime chinês no Mar do Sul da China.

A parte sobre inclusão e tolerância significa que os EUA devem “reconhecer o sistema político do PCC e sua abordagem dos direitos humanos. Mesmo que o PCC não tolere seu próprio povo tendo diferentes pontos de vista”.

A parte sobre cooperação e win-win é uma tentativa de fazer os EUA darem maior ênfase a sua relação econômica com a China, com a esperança de afastar a proteção de segurança norte-americana aos países da região da Ásia-Pacífico.

Todas as explicações da teoria na imprensa estatal e revistas ideológicas da RPC se inclinam em direção a uma posição mais forte da China em relação aos Estados Unidos e ao mundo. “As NRGP são relações de igualdade”, diz uma longa análise no Diário do Povo.

Além de ganhar status de igualdade com os EUA, o Diário do Povo diz: “No novo modelo de relações de grandes poderes […] os países devem respeitar outros sistemas sociais escolhidos e caminhos de desenvolvimento e não tentar forçar seus próprios sistemas de valores, sociais e econômicos sobre os outros. E menos ainda eles deveriam usar todo o tipo de desculpas para interferir nos assuntos internos dos outros.”

‘Candor’

A discussão nos EUA, na véspera da visita, tem ocorrido em linhas bem diferentes, menos ideologicamente fervorosas.

Num telefonema com a mídia, um funcionário da Casa Branca disse que, ao trazer Xi Jinping a uma propriedade confortável na Califórnia por alguns dias, o presidente Obama espera conhecer o novo líder chinês num “contexto informal que permita uma conversa real e algum candor”.

As questões a serem abordadas, segundo as expectativas da administração, incluem a Coreia do Norte, a segurança marítima e as disputas territoriais no Mar do Sul da China (a RPC geralmente está no centro dos conflitos) – bem como a série de importantes ciberincursões no governo dos EUA e em instituições de negócios que ninguém mais duvida que se originem de atores afiliados ao Estado chinês.

Mas a resposta do PCC sobre as numerosas evidências de que seus militares têm liderado os ciberataques foi simplesmente negá-los e, invertendo a lógica, dizer que a China é a vítima.

Randall Schriver, o presidente do Instituto Projeto 2049, uma instituição de pesquisa sobre a segurança na Ásia, disse num painel de discussão em Washington DC em 4 de junho que a resposta do regime foi “completamente insatisfatória”.

“Isso prejudicará a relação, se não tivermos uma discussão honesta, sincera e direta a respeito”, disse Schriver.

Mas, após apelos em abril do subsecretário de Estado norte-americano Robert Hormats de que a China e os EUA precisam “cooperar ao invés de se confrontarem” sobre a questão, a mídia porta-voz das forças armadas chinesas, o Diário do Exército da Liberação Popular, respondeu com um editorial alucinante.

“Se os Estados Unidos falam sobre cooperar no ciberespaço ou promover o desenvolvimento de ferramentas de internet, ele não pode disfarçar o fato de que seu objetivo é manter a hegemonia em nome da cooperação”, disse o editorial, assinado por Zhao Shixing, que detém uma posição em estratégia militar da Universidade de Defesa Nacional em Pequim.

O artigo, que foi publicado em portais de grande tráfego na internet chinesa, acrescentou que os esforços dos EUA para controlar o ciberespaço são “uma parte importante de os EUA consolidarem e protegerem sua hegemonia global”.

Cooperação

Apesar das muitas leituras diferentes da situação atual entre os Estados Unidos e a China, ambos parecem concordar que a relação não é tão cooperativa como deveria ser.

O Diário do Povo citou Wu Xinba, o vice-presidente de relações internacionais da Universidade de Fudan: “A China e os EUA sempre dizem que precisam cooperar, mas a forma como as relações se desenvolveram nos últimos anos não é ideal. Há mais concorrência do que cooperação.” Ele chega a sugerir que o novo modelo de relações de grandes poderes possa ajudar a “mudar as coisas”.

Randall Schriver observou que, em geral, grande parte da discussão sobre a relação EUA-China é “desonesta em seu núcleo”.

“Nós de fato não trabalhamos um com o outro”, disse ele. “Podemos ter uma relação que é totalmente transacional para lidar com a prevenção de conflitos e isso é bom, mas há um custo de oportunidade.”

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