Encontro com chefes da segurança de Hong Kong sinaliza luta política nos bastidores de Pequim

17/09/2013 12:39 Atualizado: 17/09/2013 12:39
Zhang Dejiang ofereceu seu apoio público e inusitado ao chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying (Goh Chai Hin/AFP/Getty Images)
Zhang Dejiang ofereceu seu apoio público e inusitado ao chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying (Goh Chai Hin/AFP/Getty Images)

Uma recente reunião entre o homem número três do regime chinês e os chefes da segurança de Hong Kong merece um segundo olhar, porque a imprensa perdeu uma dimensão fundamental para entender o que ocorreu.

Zhang Dejiang, o presidente do Congresso Nacional Popular e membro do Comitê Permanente do Politburo, reuniu-se em 3 de setembro, no Grande Salão do Povo em Pequim, com Lai Tung-kwok, o chefe da segurança de Hong Kong, e cinco outros diretores das forças de segurança da Região Administrativa Especial (RAE).

Entre outras coisas, o encontro serviu como um incentivo bastante público e altamente incomum ao aguerrido chefe-executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, quando a Xinhua, uma mídia estatal porta-voz do regime chinês, falou do sucesso de Leung e das autoridades centrais na gestão da RAE e mostrou satisfação pelo desempenho de Leung.

A mídia de Hong Kong viu a abordagem da Xinhua sobre a reunião como uma declaração de apoio a Leung e às forças de segurança, que recentemente foram alvo de críticas duras em Hong Kong. Mas a informação sobre a reunião ignorou uma relação fundamental na política entre Pequim e Hong Kong. Zhang Dejiang é leal à facção do ex-líder chinês Jiang Zemin, assim como Leung Chun-ying.

De acordo com uma fonte bem posicionada, após Leung tomar posse em julho de 2012, ele escolheu não ouvir o então líder chinês Hu Jintao e o ex-premiê Wen Jiabao. Após Xi Jinping assumir a liderança do regime em novembro passado, Leung também se recusou a segui-lo ou ao novo premiê Li Keqiang.

Em vez disso, Leung tem seguido as instruções de Zeng Qinghong, uma figura política poderosa e intermediário da facção de Jiang Zemin. Zeng é um patrono de longa data de Leung no Partido Comunista Chinês (PCC) e anteriormente era a autoridade responsável pelas regiões de Hong Kong e Macau, posição que Zhang Dejiang ocupa agora.

Hu Jintao mostrou seu descontentamento com a independência de Leung Chun-ying quando ele humilhou Leung proibindo-o de participar da reunião da APEC em setembro de 2012.

Xi Jinping, da mesma forma, se distanciou publicamente de Leung Chun-ying quando ele e o diretor do Departamento Intermediário da China, Zhang Xiaoming, almoçaram em 16 de julho junto com o Conselho Legislativo de Hong Kong, mas sem notificar o chefe-executivo Leung.

Shi Cangshan, um analista sobre a China baseado em Washington DC, acredita que a atitude exibida por Zhang Dejiang pelos chefes da segurança de Hong Kong indica que a facção de Jiang Zemin está apoiando abertamente Leung Chun-ying e mostrando publicamente seu desafio a Xi Jinping.

Shi Cangshan diz que os três partidários de Jiang Zemin promovidos ao Comitê Permanente do Politburo na transição recente da liderança não exercem poder político real. Os três foram adicionados como parte de um acordo destinado a criar uma trégua entre a facção de Jiang Zemin e aqueles leais a Hu Jintao e Xi Jinping. Agora, Zhang Dejiang, segundo Shi Cangshan, é apenas uma figura de proa para lidar com os assuntos de Hong Kong e Macau.

Albert Chan Wai-yip, um membro do Conselho Legislativo e porta-voz da Aliança Anti-Leung, acredita que o encontro com os chefes da segurança de Hong Kong foi motivado pelo medo de que Hong Kong possa sair do controle no próximo ano.

O movimento ‘Occupy Central’, que ameaça colocar 10 mil manifestantes no distrito central de negócios de Hong Kong em 2014 se Hong Kong não efetivar o sufrágio universal, e a oposição da Maioria Silenciosa, um grupo patrocinado pelo PCC, tem muitos observadores que preveem que o próximo ano possa ser turbulento.

Albert Chan Wai-yip acredita que Zhang Dejiang, cuja mensagem pública de fachada visava honrar a política de “um país, dois sistemas” em Hong Kong, na verdade, queria encorajar as forças de segurança de Hong Kong a continuarem a usar meios ilegais e dissimulados para reprimir qualquer protesto pró-democracia que venha a ocorrer, enquanto procuram impor maior controle sobre esse tipo de ativismo.

Chan Wai-yip acredita que a insatisfação da liderança do PCC com Leung Chun-ying fará com que este seja removido após a Sessão Plenária do PCC em novembro.