Empréstimo P2P pode se tornar próxima bolha da China

23/09/2015 12:36 Atualizado: 23/09/2015 12:36

Haichuan Teng foi um célebre empresário de 22 anos de idade na China. A emissora estatal China Central Television (CCTV) divulgou relatórios entusiasmados sobre como ele abandonou a escola aos 16 anos de idade e começou sua própria empresa de tecnologia em janeiro de 2014.

No entanto, Teng, CEO da empresa Boliya, que atuação no segmento de empréstimos online peer-to-peer (P2P), desapareceu misteriosamente em 8 de outubro de 2014. Sua empresa deve aos investidores mais de 70 milhões de yuans (11 milhões de dólares).

O desaparecimento da Boliya é um sinal vermelho no meio do ‘velho oeste’ do mercado financeiro online chinês, um mercado que tem crescido tão rapidamente que pode tornar-se a próxima bolha da China.

Crescimento P2P

A inovação financeira da internet ainda está engatinhando nos Estados Unidos, onde os serviços financeiros online e móveis estão limitados a transferências e consultas de saldo. Empresas de finanças na internet, tais como um simples banco online e o empréstimo peer-to-peer tem seguidores leais, mas esses serviços estão longe de ser onipresentes.

Na China, no entanto, banco digital, investimento e empréstimos estão muito longe do padrão.

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Em um mercado com mais de 740 milhões de usuários ativos de Internet móvel, pagamentos realizados pelo celular não são uma estupidez. Mas as empresas de tecnologia como a Tencent, Alibaba Group Holdings Inc. e Baidu também estão expandindo sua presença em uma área das finanças pela Internet chamada empréstimo P2P.

Empréstimo P2P consiste em emprestar dinheiro a indivíduos não aparentados, neste contexto através de empresas de Internet, que ligam os investidores (credores) com os mutuários.

O volume bruto de empréstimos P2P no primeiro semestre de 2015 totalizaram 300,6 bilhões de yuans (47 bilhões de dólares) na China, enquanto o mesmo total para todo o ano de 2014 foi de 252,8 bilhões de yuans, de acordo com Wangdaizhijia, um website que contém informações sobre empréstimos na Internet baseada na China. Ele prevê empréstimos P2P no total de 800 bilhões de yuans até o final do ano.

Em 30 de junho, a China tinha mais de 2.000 plataformas de empréstimo na internet, um aumento de 29% desde o final do ano passado.

Tongbanjie é um dos maiores credores P2P, com um número estimado de 3 milhões de usuários ativos mensais.

Um serviço rival, chamado Dianrong, levantou 207 milhões de yuans em sua última rodada de financiamento na semana passada, com o Standard Chartered Bank do Reino Unido como principal investidor. O Dianrong é liderado por Soul Htite, co-fundador e ex-CTO da Lending Club.

Conquistando o mercado

O crescimento dos empréstimos P2P é um caso clássico de oferta atendendo à demanda.

Os bancos estatais da China estão se curvando sob o peso de dívidas incobráveis de empréstimos para governos locais, investimentos em infra-estrutura e empresas estatais nas duas últimas décadas. Eles estão relutantes em oferecer crédito aos consumidores ou pequenas empresas, muitas das quais estão na internet ou no setor de serviços e não têm a garantia física que os bancos desejam. Isso criou uma enorme demanda por crédito.

Do lado da oferta, chineses de classe média estão com o dinheiro, mas sem ter onde investir.

O recente resgate do mercado de ações de Pequim foi em grande parte ineficaz, com o Shanghai Composite Index caindo 38% desde as recentes elevações em 12 de junho. Muitos investidores retiraram dinheiro do mercado de ações e encontraram nos empréstimos via Internet um veículo de investimento alternativo. Os rendimentos médios anuais para os empréstimos P2P, de acordo com Wangdaizhijia, foi de 15%.

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A infra-estrutura necessária para mover fundos está em grande parte no lugar, como os gigantes da Internet WeChat e Alibaba – ambos têm plataformas de transferência de dinheiro online com centenas de milhões de usuários. O serviço Alipay Alibaba construiu um bureau de crédito do consumidor que é usado por muitos credores P2P.

“Quase qualquer um pode abrir um desses”

Empresas como a Tencent e Alibaba são endinheiradas e construíram seu próprio processo de avaliação de crédito, mas é o maciço submundo do mercado de empréstimos P2P que preocupa os reguladores.

Se a taxa de crescimento atual permitir, a China terá mais de 3.000 credores P2P até o final do ano, a maioria dos quais não são confiáveis.

“Atualmente, no âmbito do quadro regulador, é quase nula a barreira para abertura de uma dessas plataformas,” Barry Freeman, co-fundador da P2P chinesa Jimubox, ao Business Insider.

“As pessoas estão lançando essas plataformas realmente apenas com o objetivo de roubar o dinheiro dos outros”, acrescenta Freeman.

Algumas dessas plataformas são fraudulentas, como a Boliya. Outros são essencialmente agiotas que cobram taxas de juros exorbitantes, atendendo a consumidores e pequenas empresas que não são áptos a receberem crédito pela maioria dos bancos.

No ano passado, os usuários relataram problemas com 275 plataformas P2P das 1.500 disponíveis (18%), de acordo com Wangdaizhijia. Durante apenas o primeiro semestre de 2015, 419 plataformas P2P foram acusadas de fraude ou seus investidores foram impedidos de retirar seu capital, de acordo com o Online Lending House, outro site que acompanha o setor.

Um editorial de 14 de agosto do China Daily relatou a ascensão meteórica das plataformas P2P de empréstimos, de 110 empresas em 2012 para mais de 2.000 até o final de junho de 2015.

“Mas, igualmente, eu não ficaria surpreso se o número voltar a quantidade de 2012, em pouco tempo”, disse o editor Si Huan.