Líderes chineses de alto escalão continuam a enfatizar a necessidade de limpar as “empresas zumbi”. Essas empresas são grandes estatais improdutivas e endividadas que sugam os recursos e arrastam a economia para baixo.
No dia 4 de novembro, o premier da China, Li Keqiang, enfatizou a necessidade de “acelerar o ritmo da reestruturação e consolidação das ’empresas zumbi'”, caso contrário elas terão que sair do mercado. “Liu He, um alto oficial em econômica do partido comunista, também enfatizou a necessidade de “aumentar os esforços para limpar as ’empresas zumbi’ e efetivamente resolver o excesso de produção”.
Devido a vários fatores complexos, as empresas zumbi se tornaram uma doença muito difícil de curar, que assola a economia da China.
Por muitos anos, a economia chinesa tem ficado presa em um ciclo vicioso: quanto maior os esforços para resolver o excesso de produção, pior se torna o problema.
Por exemplo, o país tem combatido durante anos o excesso de produção de aço, cimento e alumínio. Mas ao invés da produção nestas indústrias diminuir, ela aumentou. Dados de pesquisa da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, a agência de planejamento econômico da China, indicam que no primeiro semestre de 2014, a utilização da capacidade produtiva foi inferior a 75 por cento em 21 dos 39 setores da indústria.
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Muitas indústrias emergentes na China têm a tendência de produzir muito e rapidamente. Elas se apressaram por causa das políticas de estímulo, e em poucos anos transformaram a escassez em excesso de produção.
A indústria fotovoltaica da China tem um sério problema de excesso de produção. A indústria de energia eólica tem excesso de mais de 70 por cento. A maioria das indústrias com problemas de excesso de produção não são rentáveis, e no entanto, com a ajuda dos bancos ou do governo, elas sempre encontram uma maneira de se manterem, tornando-se assim uma fonte da doença crônica para a economia da China.
Empresas de propriedade do Estado
A maioria das empresas zumbi da China possuem as seguintes características:
1) São grandes empresas estatais. Essas grandes empresas têm muitos empregados, e desempenham um papel importante na economia local. A fim de manter a estabilidade, o governo não permite que estas empresas vão à falência. Entretanto, é difícil ajudá-las a mudar. O status quo é mantido através de infusões contínuas de dinheiro de bancos ou do governo.
2) As empresas zumbi são encontradas, na maioria dos casos, em indústrias com problemas de excesso de produção, como aço, cimento e alumínio eletrolítico, usados para fazer capacitores com uma ampla variedade de aplicações elétricas. Estas indústrias, por um lado, criam uma grande quantidade de PIB local; por outro lado, do ponto de vista econômico, não há nenhuma necessidade de sua existência. Mas, a fim de manter os empregos, as autoridades locais não as deixam ir à falência.
3) A maioria das empresas zumbi são encontradas no setor da manufatura de baixo nível. Elas acrescentam pouco valor agregado, mas emitem muita poluição.
4) A maior parte delas tem recebido excessivas políticas e empréstimos preferenciais, ficando muitas vezes com dívidas pesadas. Por exemplo, a dívida total da indústria do aço ultrapassou 3 trilhões de yuans em agosto de 2014. Dezoito empresas de aço listadas publicamente tinham a razão da dívida superior a 70 por cento.
Dívida corporativa
Uma vez que a economia começa a entrar em recessão e o investimento diminui, o peso da dívida vai causar uma série de efeitos indiretos. Temos que perceber que estas empresas zumbi são como minas terrestres que podem causar uma série de prejuízos para a economia da China. Na atual recessão econômica, a economia do país já entrou em um ciclo de risco.
Os fatores de risco, como a dívida, estão testando a estabilidade do sistema econômico. A dívida corporativa é a ameaça número 1. Desde 2012, a dívida corporativa da China tem sido superior a 113 por cento do PIB, muito superior ao limiar de risco internacional, que é de 90 por cento.
No seu relatório de outubro de 2015, o FMI estima que é de até 3 trilhões de dólares a dívida acumulada por empresas e bancos em países de mercados emergentes, com a China no topo da lista.
O aumento dos empréstimos bancários negativos e o não cumprimento das dívidas de empresas, estão relacionados com o ciclo econômico atual. Dentro disso está o excesso de crédito que as empresas zumbi recebem.
Crise de crédito
As muitas empresas zumbi também têm causado um problema sério de recursos incompatíveis.
Olhando o crédito de outra maneira, desde a crise financeira a China disponibilizou uma grande quantidade de recursos para resolver as dificuldades financeiras das pequenas e médias empresas (PMEs). O estoque de dinheiro M2 da China, uma medida do dinheiro que inclui as contas para salvamento e depósitos similares, é próximo de 135 trilhões de yuan. Agora é muito difícil que as PMEs consigam novos empréstimos.
O custo do financiamento das empresas da China é muito maior do que as empresas da Europa e da América, porque um grande número de empresas zumbi estão acumulando o crédito. Este resultado é um ciclo vicioso: quanto mais crédito é disponibilizado, menor a liquidez e mais caro o financiamento.
Com o governo tentando sustentar estas empresas ineficientes, a competitividade é quebrada. As empresas tiram proveito da obsessão do governo com as políticas do PIB e abusam para beneficiar-se. Portanto, a economia da China persegue a fabricação de baixa qualidade e retorno rápido. Isso tem criado enormes obstáculos à modernização de sua economia.
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As empresas zumbi devem ser reformadas; essa é a chave para otimizar a alocação de recursos da China e realizar um upgrade verdadeiro no lado industrial da economia. Se o governo estiver determinado a se livrar da interferência dos governos locais e permitir que as empresas zumbi sejam eliminadas pelo mercado, em seguida, o empreendedorismo e a competitividade criarão raízes. O fenômeno distorcido das empresas chinesas de qualidade inferior na cadeia industrial global irá naturalmente acabar, e o risco oculto para os bancos também será altamente reduzido.
Esta é uma tradução do artigo chinês que Ma Guangyuan postou em sua conta pública do WeChat, em 30 de novembro de 2015. Ma Guangyuan é um economista independente bem conhecido na China. Apareceu como um comentarista financeiro na China Central Television e suas colunas foram publicadas no Financial Times chinês, no Semanário do Sul e em outros lugares.