Empresas imobiliárias associadas a ex-líder chinês estão em apuros

12/12/2014 15:18 Atualizado: 12/12/2014 15:18

Empresas imobiliárias não estão a salvo da campanha anticorrupção do líder chinês Xi Jinping, que tem por objetivo investigar os aliados de seu rival Jiang Zemin e eliminá-los do Partido Comunista Chinês (PCC).

Mais de 50 funcionários provinciais e ministeriais foram demitidos na campanha de Xi Jinping, a maioria deles pertencentes à facção do ex-líder chinês Jiang Zemin. Agora, uma série de empresas imobiliárias associadas à facção de Jiang também está em apuros.

Após a campanha de Xi derrubar o ex-chefe da segurança Zhou Yongkang, um dos principais aliados de Jiang, empresas do setor imobiliário na China continental conectadas a Zhou começaram a ter problemas.

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De acordo com fontes familiarizadas com a situação, a queda de muitos altos funcionários está associada a negócios imobiliários. A limpeza de Xi Jinping direcionada à facção de Jiang Zemin se estendeu à esfera econômica, e espera-se que haja grandes ajustamentos de política econômica e que a riqueza seja remanejada, disseram as fontes.

As empresas e os funcionários associados com a facção de Jiang serão gradualmente limpos e os contratos assinados pela facção de Jiang com governos e empresas estrangeiros podem muito bem se tornar inúteis no futuro, disseram as fontes.

Listagem do Grupo Kaisa suspensa

Em 3 de dezembro, o Kaisa Group Holdings sediado em Hong Kong declarou de repente que a negociação de seus títulos no mercado de ações seria suspensa. A razão para a suspensão ainda não foi divulgada, mas a empresa é suspeita de envolvimento com Zhou Yongkang.

No dia anterior, mais de 2 mil anúncios de imóveis do Kaisa na cidade chinesa de Shenzhen foram “bloqueados” ou retirados do mercado por autoridades de Shenzhen. Analistas disseram que era praticamente inédito na China continental que anúncios de imóveis de empresas listadas tivessem suas vendas suspensas por autoridades locais. O preço das ações da Kaisa caiu 8,54% naquele dia.

Na noite de 3 de dezembro, cerca de 900 anúncios perto do Kaisa Holiday Plaza foram restaurados para vendas normais, mas os 1.300 anúncios restantes permanecem bloqueados.

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A Comissão de Planejamento da Terra de Shenzhen (CPTS) disse que não era conveniente divulgar o motivo e a ocasião do bloqueio. No entanto, a mídia estatal China Times citou fontes da Secretaria da Terra do distrito de Longgang, dizendo que a CPTS orientou o distrito de Longgang na semana passada que bloqueasse anúncios de imóveis não vendidos do Kaisa.

As fontes disseram que não era devido a um problema específico de projeto. “Caso contrário, eles não nos pediriam para bloquear tudo”, disse ele. “Nossa análise é que o Grupo Kaisa tem algumas irregularidades, e que o bloqueio temporário visa a impedir a transferência de ativos.”

A mídia chinesa informou que o Kaisa estava envolvido num projeto imobiliário com a Zhongxu Investment Corporation, uma empresa controlada por Zhou Bin, o filho de Zhou Yongkang.

Outras empresas

Chen Zhuolin, o presidente do conselho da Agile Property Holdings e identificado como afilhado de Zhou Yongkang, foi colocado sob vigilância residencial em 30 de setembro. A negociação das ações da Agile foi subitamente suspensa em 3 de outubro, pouco antes da abertura da bolsa de valores.

Quando sua negociação foi restaurada em 13 de outubro, o preço de suas ações sofreu um sério revés e seu valor de mercado perdeu HK$ 3,4 bilhões (US$ 439 milhões) em um dia. Seus negócios na China continental também foram gravemente afetados.

A Fantasia Holdings, outra empresa relacionada com Zhou Bin, é um negócio da família de Zeng Qinghong, o ex-vice-presidente do PCC e forte aliado de Jiang Zemin. Sua fundadora Zeng Baobao, a sobrinha de Zeng Qinghong, também está sob investigação.

Wu Xu, o presidente da empresa imobiliária Hyupshin Group, foi preso por envolvimento no caso de Song Lin, o presidente da China Resources, outro funcionário que foi deposto por corrupção.

Wang Shi, presidente da grande empresa imobiliária chinesa Vanke, disse: “Os empresários imobiliários da China continental podem ser facilmente colocados na prisão; condená-los por suborno é muito fácil. Porque eu não pago suborno, eu não consigo terras em bons locais.”

A facção de Jiang e seus grupos de interesse associados controlaram grande parte do sistema econômico da China. Eles têm acumulado riquezas enormes por meio de negócios imobiliários e de terra corruptos.

O website do Comitê Central de Inspeção Disciplinar (CCID) do PCC afirmou em outubro que o mercado imobiliário é a área mais atingida pela corrupção oficial. O conluio entre funcionários do governo e empresários para ocupar residências e espaços de escritório é um fenômeno generalizado; 20 das 21 províncias inspecionadas pelo CCID apresentaram corrupção imobiliária.

Risco para investidores

Lawrence Ye, o vice-presidente da empresa de investimento imobiliário IPD da MSCI, disse que, devido à situação do mercado imobiliário na China continental, “o risco político é o fator mais importante para os investidores estrangeiros levarem em consideração”.

Ye disse que o setor imobiliário no continente envolve questões de terra e requer a aprovação do governo, de modo que empresários de imóveis e oficiais do governo estão intimamente relacionados. Portanto, rumores de corrupção no mercado imobiliário abundam.

Porque os investidores estrangeiros não entendem o mercado chinês, frequentemente eles precisam trabalhar com empresas do continente para entrar no mercado da China continental. No entanto, eles percebem cada vez mais que não entendem o ambiente político da China e podem incorrer em sérias perdas se escolherem os parceiros errados.

Ye disse que a incerteza política, a desaceleração econômica na China, os lucros muito reduzidos e outros fatores levaram à desaceleração do investimento estrangeiro na China continental.