NASDAQ busca reduzir os riscos de fusões reversas chinesas
Normalmente, alguém vai à universidade para aprender uma habilidade produtiva. No entanto, a “escola da fraude” retratada recentemente na China, preenche um nicho lucrativo, ensinando pequenas empresas como fabricar suas demonstrações financeiras para que possam entrar nos mercados de capitais dos EUA e extrair milhões de dólares de investidores desavisados.
A escola foi destacada num artigo de jornal chinês no início de abril. O artigo, intitulado “Desvendando o desastre das ações de ‘conceito chinês'”, refere-se a uma escola da fraude sem nome que o texto diz estar sendo investigada pela polícia chinesa. O autor é referido como John Caines, cujas filiações não são indicadas. O jornal que publicou o artigo, Fortune Today, não respondeu a um e-mail perguntando sobre a identidade de Caines.
A “escola da fraude”, que na verdade é um banco de investimento, aconselha empresas chinesas que querem ganhar dinheiro rápido sobre como jogar no mercado de ações dos Estados Unidos, diz o artigo. O elaborado sistema de fraude inclui falsificar contratos de venda e registros públicos, e burlar demonstrações financeiras. Estes documentos então recebem um aval de credibilidade com a ajuda de um auditor cooperativo. Nesta fase, a empresa ainda é privada, na China.
O lixo é transformado em ouro quando as demonstrações financeiras mostram “superestrelas de crescimento-rápido e grande-fins-lucrativos”, atraindo investidores estrangeiros. O financiamento privado é então obtido, com o passo final sendo o registro nos Estados Unidos. Isso geralmente é feito através de uma “fusão reversa”, em que a empresa chinesa se funde com a célula de uma empresa americana falida que ainda tem ações na bolsa de valores.
A empresa é registrada como um estoque “aberto”, cujos requisitos regulamentares para a venda de ações não são muito rigorosos. Dados financeiros falsos, fornecidos à companhia pela escola da fraude, mantêm a imagem de que a empresa está crescendo. A escola da fraude dá instruções detalhadas sobre como tornar plausível a receita, os lucros e o saldo de caixa. Eles podem ir tão longe quanto dar listas de falsos clientes e números de telefone para os investidores, para que possam “verificar” que a empresa está realmente fazendo negócios. Isso tudo é preparado com antecedência, diz o artigo.
Para a empresa tentar se registrar num mercado de câmbio respeitável como a NASDAQ ou a Bolsa de Nova York, eles têm de encontrar auditores mais respeitáveis e perpetrar falsificações mais sofisticadas. Uma empresa pode, por exemplo, contratar trabalhadores temporários, estoque e caminhões especificamente para mostrar aos investidores ou auditores no momento da inspeção. Quando os inspetores saem, todo mundo vai para casa.
As empresas envolvidas nessas práticas na China são muitas vezes capazes de ir tão longe porque podem comprar a cooperação das autoridades locais. Selos de escritórios do governo mostrando as transações de terras que nunca ocorreram ou um saldo de conta bancária mostrando fundos que nunca existiram são alguns dos esquemas que foram descobertos por investigadores.
O artigo sobre a escola da fraude foi divulgado por Muddy Waters Research LLC, uma empresa de pesquisa especializada em expor o que descreve como empresas fraudulentas. O grupo lucra através de uma prática chamada de venda a descoberto, quando os preços das ações da empresa diminuem, depois que as pesquisas da Muddy Waters são publicadas.
Muddy Waters tentou identificar a escola da fraude em questão, sugerindo estar em Hong Kong com base na Chief Capital LTD, cujo website mostra pelo menos uma empresa que ajudaram a entrar nos Estados Unidos e que mais tarde foi identificada por vendedores a descoberto como uma fraude. Chief Capital não respondeu a chamadas telefônicas em busca de comentários.
O apetite dos investidores por empresas chinesas que entraram nos Estados Unidos através do processo de fusão reversa caiu em 2010 e 2011, após uma série de empresas de alto perfil serem expostas como fraudulentas.
NASDAQ, uma bolsa de valores que num certo momento cortejada empresas chinesas, desde então, tem apertado o cerco na sequência dos escândalos. Numa audiência no início de 2011, Michael Emen, o vice-presidente sênior de Qualificações de Listagem, disse, “O principal desafio regulatório que enfrentamos hoje, NASDAQ, é como efetivamente mitigar os riscos regulatórios e de reputação associados com a listagem das empresas de fusões reversas chinesas.”