Empregos públicos se tornam atraentes na China

02/09/2012 04:52 Atualizado: 02/09/2012 04:52
Candidatos entram num centro de testes para o Exame Nacional de Serviço Civil em Wuhan, na província de Hubei. Recém-graduados ansiosos por se tornarem funcionários públicos. (Arquivo Epoch Times)

Regalias extensivas e segurança trabalhista dão aos funcionários do governo uma vida fácil

Empregos públicos chineses estão se tornando cada vez mais populares nestes dias. De acordo com um relatório da ChinaHR.com de 21 de agosto, a escolha de emprego favorita de recém-graduados deslocou-se do setor financeiro para cargos no governo.

No ano passado, a emissora estatal China Central de TV informou que quase um milhão de candidatos participaram do exame para concorrer a 20.000 vagas públicas. Isso significa que apenas um em cada 50 candidatos serão selecionados, uma alta de quatro anos consecutivos na relação de candidatos a empregos públicos.

A Rádio Internacional da China afirmou numa reportagem que os empregos públicos são quentes porque são mais estáveis e incluem todos os tipos de regalias, incluindo benefícios extensivos, bônus e ser capaz de gastar dinheiro público em refeições e viagens. Incluindo todas estas vantagens, a renda é muito maior do que a de um trabalhador médio.

Benefícios

Um exemplo típico é Zhao Xinjie que trabalhava numa agência do governo diretamente associada com o governo central. Seu salário não é alto, mas em tempos de inflação e de preços de imóveis em ascensão, os benefícios não-monetários são o que contam.

De acordo com um artigo de março de 2011 do Semanário do Sul, quando Zhao Xinjie convidou seus ex-colegas para visitarem sua nova residência em Pequim, eles reagiram com sentimentos de inveja, ódio e ciúme.

O apartamento de 90 metros quadrados de Zhao Xinjie foi comprado em 2009 por menos de 300 mil yuanes (47,257 dólares). No entanto, em março de 2011, o preço aumentou para cerca de 1,8 milhões de yuanes (283.376 dólares). Seus colegas de classe, que tinham empregos não-governamentais, não podiam comprar um apartamento em Pequim.

O artigo também disse que a cafeteria no trabalho de Zhao Xinjie oferece uma grande variedade de alimentos, mas o buffet de almoço custa apenas um yuan (0,15 centavos de dólar).

O Diário de Zhenzhou pesquisou este fenômeno de financiamento subsidiado e investigou várias lanchonetes e refeitórios em algumas organizações governamentais ou empresas estatais (EE).

O jornal descobriu que mesmo empregados de nível ministerial, com salários decentes, pagam apenas um ou dois yuanes por almoço no refeitório. A cafetaria do Congresso Nacional do Povo ainda oferece almoço de graça.

Férias

Vários “benefícios escondidos” de funcionários do governo e de EE foram retratados num artigo de 14 de agosto do Semanário Econômico da China, uma mídia afiliada ao jornal estatal Diário do Povo.

Por exemplo, um trabalhador regular numa estatal em Shanghai recebe 6.000 yuanes (945 de dólares) de benefícios de viagem a cada ano, mas o salário médio em Shanghai é de apenas 682 dólares por mês. Portanto, esta vantagem equivalente a um acréscimo de um mês e meio de salário.

Um vice-diretor de uma agência provincial em Henan disse que a cada mês funcionários da agência recebem 3.000 yuanes (473 dólares) de benefícios de combustível, quase o que um trabalhador médio urbano ganha por mês.

Um funcionário de uma empresa estatal em Pequim disse que em seu local de trabalho, “há subsídio para todas as férias”.

O artigo também disse que em Pequim os alojamentos dos empregados de agências do governo e de empresas estatais podem abater o aluguel de funcionários em qualquer lugar de mil a 3 mil yuanes (158 a 473 dólares) todo mês. Se uma pessoa receber um apartamento do local de trabalho, a economia pode ser de mais de um milhão de yuanes (157,503 dólares), o preço que se pagaria para comprar um apartamento.

Custos

Estes benefícios generosos aumentam os custos empregatícios do governo. O Observador Econômico, em abril de 2010, cita uma pesquisa realizada por Zhou Tianyong, o diretor-adjunto do Gabinete de Investigação na Escola Central do Partido Comunista Chinês (PCC), mostrando que 44% dos gastos do governo eram dedicados a funcionários do governo em 2007.

Contrastando essa imagem próspera com o trabalho geral do povo, a proeminente economista chinesa He Qinglian escreveu em julho que não importa quão difícil seja a vida para o chinês médio durante uma crise econômica, o governo não enfrentará qualquer dificuldade.

Atualmente, a China tem o segundo maior PIB do mundo, com um crescimento econômico impressionante. No entanto, segundo pesquisa de He Qinglian, a despesa pública consome um terço do PIB, a maior parte do crescimento econômico é usada para “alimentar” funcionários do governo.

Para entender melhor essa dinâmica, vale a pena analisar as diretrizes de políticas atuais. O governo chinês tem uma categoria de despesas chamada “três gastos públicos”, que se refere aos gastos com hospitalidade oficial, turnês internacionais, uso de veículos do governo e regalias semelhantes.

De acordo com informações recolhidas por He Qinglian de diferentes fontes, em 2006, esses itens totalizaram 900 bilhões de yuanes (142 bilhões de dólares), cerca de 30% das receitas fiscais do governo central. Em 2009, 1,9 trilhão de yuanes (299 bilhões de dólares), ou 60% de todos os custos administrativos, foi para os “três gastos públicos”.

He Qinglian conclui que, com o aumento do número de funcionários públicos, uma fatia maior do PIB será utilizada e eventualmente isso terá um efeito negativo sobre o crescimento econômico da China, já que o gasto não é produtivo.

O professor Frank Xie da Escola de Administração da Universidade da Carolina do Sul Aiken escreveu que há um estranho fenômeno na economia da China agora: empregos públicos são quentes, mas as empresas de outros setores têm tido dificuldade em recrutar pessoas. Funcionários do governo, que são conhecidos por ter produtividade muito baixa, desfrutam de benefícios maiores do que trabalhadores não-governamentais que são produtivos.