A partir da década de 1980, com a intensificação de dimensões como a pobreza perceptiva e o sucateamento de políticas públicas, houve o crescimento do terceiro setor e uma mudança da lógica de intervenção dessas organizações, que passam de filantrópicas para agentes de promoção de capacitação, desenvolvimento social e cidadania.
Como resultado dessa mudança e do amadurecimento da sociedade para uma abordagem empreendedora dos problemas sociais, surge o empreendedorismo social. Esse termo foi difundido nas década de 80 por Bill Drayton, fundador da Ashoka Empreendedores Sociais – organização internacional sem fins lucrativos, pioneira na teoria e prática do empreendedorismo social no mundo. Criada há 26 anos na Índia, a Ashoka desenvolve projetos em mais de 60 países ao redor do globo, incluindo o Brasil.
Segundo Filipe Santos, do veículo Journal of Business Ethics o “Empreendedorismo Social é o processo de procura e implementação de soluções inovadoras e sustentáveis para problemas importantes e negligenciados da sociedade que se traduz em Inovação Social sempre que se criam respostas mais efetivas para os problemas em questão”.
O termo pode se referir a qualquer iniciativa empreendedora feita com o intuito de avançar causas sociais e ambientais. Essa iniciativa pode ser com ou sem fins lucrativos.
Uma iniciativa de Empreendedorismo Social deve demonstrar quatro critérios base:
1. Resolver problemas sociais/ambientais negligenciados (Missão Social / Ambiental)
2. Ter um potencial de transformação positiva na sociedade a nível social/ambiental (Impacto Social / Ambiental)
3. Desafiar a visão tradicional utilizando modelos de negócio inovadores (Inovação)
4. Ter um potencial de crescimento e/ou é reaplicável a outro local geográfico (Escalabilidade / Replicabilidade)
A lógica de ação dominante no empreendedorismo social é a capacitação, vista como a promoção da autonomia e responsabilidade individual dos destinatários da iniciativa. Eles devem assumir um papel ativo na mudança pretendida.
Apesar da terminologia “empreendedorismo social” ser nova, o fenômeno não é. Ao longo da história tivemos muitos empreendedores sociais que não foram assim designados, como:
Maria Montessori, a primeira médica italiana, que nos anos de 1960 começou a trabalhar com crianças e criou um método de educação revolucionário que defendia que cada criança tinha um desenvolvimento único.
Chico Mendes, líder sindical brasileiro que formou uma aliança entre seringueiros e indígenas para criar unidades de preservação dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, a manutenção da atividade econômica.
Como exemplos mais recentes estão os trabalhos destacados na lista da Fundação Schwab sobre o empreendedorismo social no mundo em 2013:
Frederick K.W. Day, Buffalo Bicycle Company, Estados Unidos: criou uma bicicleta especial para os terrenos africanos, facilitando o transporte.
Jim Ayala, Hybrid Social Solutions Inc. (HSSi), Filipinas: criou um sistema de energia solar para a população rural do país.
Cybele Oliveira, Instituto Chapada, Brasil: desenvolveu uma metodologia de atualização para professores e diretores de escolas.
Outra organização que trabalha com o conceito de empreendorismo social no Brasil é o Instituto Elos, que promove ações junto à comunidades para a transformação da realidade física e social de seus ambientes como favelas, cortiços e comunidades caiçaras do litoral paulista. Paralelamente, atua no treinamento de talentos comunitários locais no Brasil e América do Sul para que atuem como agentes multiplicadores dessas transformações em suas próprias localidades.
Se você também tem um projeto de cunho social e deseja tirar sua ideia do papel ou tem interesse em se juntar a um grupo que atue em alguma área do terceiro setor, acesse os sites da Ashoka e do Instituto Elos.
Fontes:
DEES, J. G. O significado de empreendedorismo social. [S.I.: s.n.], 1998. Disponível na página academiasocial.org.br
Filipe Santos, INSEAD 2012 Journal of Business Ethics
Raquel Almeida Campos é graduada em Administração de Empresas pela Universidade de Brasília (UnB). Trabalhou para o Centro de Desenvolvimento Tecnológico (CDT) da UnB e em organismos internacionais como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Foi colaboradora da ONG ambientalista Ipoema, focada em agrofloresta, bioconstrução e educação ambiental.