Enquanto Santos e seu bando de aduladores celebraram com bandas e fanfarras, que as FARC se prestaram para a farsa de fazer um “acordo” sobre o ponto 2 da agenda acerca da presumível participação política, com o qual o jogador de pôquer do Palácio de Nariño ratificou seu veleidoso desejo de ser reeleito, mesmo que ele não saiba para quê, nem sirva para maior coisa no cargo. O importante para ele e sua casta é que a Colômbia o reeleja e ponto. É um direito natural para ele e os de sua coorte. Os demais colombianos são seus vassalos históricos.
Politiqueiro como sempre foi em toda a sua vida, além de inepto como demonstrou ser na condição de vice-presidente, ministro da Justiça e em 1991 nos diálogos de Caracas e Tlaxcala, Humberto de la Calle assumiu com obediência de cão amestrado, todas as ordens do quase monarca hereditário de Palácio para dizer que tudo está bem, que as conversações vão por bom caminho e, evidentemente, para tomar um longo mês de descanso com seus assessores mudos, devido ao “stress” das intensas conversações em Havana.
Por sua parte, as FARC, que contam com toda uma trama política, propagandística, jurídica, de organizações de apoio ao terrorismo, braço político próprio e um plano estratégico coerente para seus objetivos a curto, médio e longo prazo, aproveitaram esse longo mês sabático dos adoradores reeleicionistas de Santos, para fazer um plano ampliado com os guerrilheiros-cabeças das Frentes, bem-vindos como sempre em Cuba.
Em sessões políticas apadrinhadas pela ditadura cubana, os terroristas que dirigem as Frentes examinaram com os negociadores das FARC em Cuba, o bom, o mal e o feio do que se fez até agora, estudaram a situação operacional e administrativa de cada Bloco de Frentes, confrontaram avanços e retrocessos políticos e armados em torno ao Plano Estratégico das FARC, e evidentemente redefiniram procedimentos políticos para a mesa nos temas vindouros e armados com as quadrilhas na Colômbia, assim como as tarefas para seus estafetas em ONGs e até no Congresso, pautas para as milícias bolivarianas e missões concretas para o Movimento Bolivariano e o Partido Comunista Clandestino, que não são tão clandestinos.
Uma dessas condições foi impor a Santos que tirasse Julián Conrado do veraneio protegido pela inteligência militar venezuelana, pois ali se tornavam muito evidentes as coordenações que este bandido faz com narcotraficantes de armas e drogas, como fazia Raúl Reyes com certas limitações quando vivia na selva do Equador.
Em troca ia para Cuba, ficava livre como aconteceu na ocasião com Rodrigo Granda, se tiraria de suas costas o pedido de extradição, simularia estar muito doente, mas, sobretudo, poderia estar em contato direto com os cabeças das FARC e negociar armas e drogas com a caterva de delinquentes internacionais que, protegidos pela ditadura cubana, entram e saem diariamente da ilha.
Por essas razões, ao reiniciar o terceiro ato da ópera bufa chamada “processo de paz”, as FARC voltaram ao ponto zero. Publicaram uma extensa crítica às explicações de Santos e De La Calle às Forças Militares acerca do que sucede nas conversações, negaram ser estourados, retomaram a proposta de legitimar a coca apresentada no El Caguán, propuseram uma vez mais acabar com as Forças Militares, que é o único e principal objetivo que pretendem alcançar ao lado da legitimação política, e por essa mesma rota avançar para o governo de transição do ‘Socialismo do Século XXI’.
Algo tão claro e elementar de deduzir que parece não ter cabimento nas brilhantes e lúcidas inteligências dos mudos negociadores em Havana, dos senadores e ministros untados de marmelada, dos diretores de meios de comunicação comprados com pauta publicitária, das massas ignorantes compradas com populismos de casas presenteadas, e a palhaçada reiterada de Santos de que toda pessoa que se oponha à sua egocêntrica e ilimitada vaidade reeleicionista é um guerreirista, um inimigo da paz e um promotor da guerra pela guerra.
A estupidez coletiva não deixa ver que os chefes das FARC não estão nem interessados, nem dedicados a negociar a paz. Estão dedicados a tirar vantagens políticas, estratégicas e militares desta farsa, derivada do afã protagônico e reeleicionista de Santos.
E da mediocridade da direção política que em troca de pratos de lentilhas, porções de marmelada ou serrotes administrativos, repete com milimétrica exatidão a sem-vergonhice com que se permitiu a perda do Panamá, o presente dos Monges à Venezuela, a fuga de Pablo Escobar da Catedral, a eleição presidencial de personagens nefastos como López Michelsen, Belisario Betancur, Virgilio Barco, César Gaviria, Ernesto Samper, Andrés Pastrana e Juan Manuel Santos, a espúria sentença da Corte de Haia a favor da Nicarágua, etc.
Não há objetivos nacionais nem líderes que os orientem, por isso os negociadores foram nomeados a dedo, não para defender os interesses dos colombianos e das Forças Militares, senão para apoiar a carreira reeleicionista de Santos, seu vaidoso desejo de ser nomeado Prêmio Nobel da Paz e eventualmente Secretário Geral da ONU. Nesse grupo não podia haver uma só voz dissonante do desejo vanglorioso de Santos. Ele necessitava de dóceis e servis à sua disposição. E conseguiu!
De La Calle, Jaramillo e Villegas haviam demonstrado sua incapacidade para negociar com as FARC em processos anteriores do mesmo teor. O general Mora Rangel foi débil de caráter e carente de liderança quando permitiu a Andrés Pastrana que entregasse às FARC a sede de um batalhão para que, onde antes ondulava o pavilhão nacional, os terroristas instalassem um trapo com o logo do bando terrorista. Sem consultar os militares ativos e da reserva, foi posto ali onde, como um convidado de pedra, defende ou justifica seu pagamento de salários e diárias em dólares, mas como diz Vinasco Ch, “daquele nada”.
O atentado hoje em Pradera (Valle), ligado com o de Inzá há um mês e o de um helicóptero da Polícia em Antioquia há algumas semanas, sem esclarecer ainda a denúncia de Uribe Vélez com outro helicóptero em Anorí e outros atos terroristas que não transcendem nos meios de comunicação impregnados de marmelada, refletem que as FARC estão ganhando tempo e espaço, e fazendo o mesmo que Petro: dilatando o cumprimento da lei, para com cúmplices e correligionários desferir punhaladas na mesma democracia que por debilidade e falta de projeto estratégico, tolera suas patifarias.
Finalmente, jornalistas e analistas defasados, manipulados por suposições sem valoração estratégica ou científica da guerra, asseguram que as FARC estão divididas, que o Bloco Sul não está de acordo com o que se conversa em Havana e mil insensatezes mais.
Por carência de inteligência estratégica, a miopia analítica impede de chegar ao coração do assunto. O Bloco Sul está financiando a guerra em todo o país, continua consolidando áreas com as estruturas políticas clandestinas controladas pelas milícias bolivarianas, mantém suas Frentes intactas e prepara ações terroristas em longo prazo, além de contar com a cumplicidade do governo de Correa no Equador para mover seus delegados para Cuba, traficar coca, armas e apoiar em todos os sentidos os demais terroristas das FARC. Além de ser a área piloto para a tão sonhada república independente de Caquetania.
Timochenko continua na Venezuela coordenando com o governo de Maduro como fazer dano à Colômbia e favorecer as FARC, os cabeças em Havana com seu enorme séquito de bandidos autorizados por Santos, desenvolvem com plena liberdade os contatos internacionais que antes Raúl Reyes fazia com muita dificuldade desde a selva equatoriana, ou Iván Márquez desde a selva venezuelana, etc.
E Santos com seu séquito de aduladores e comilões de biscoitos com marmelada, empenhados na reeleição com base na idealização de uma paz que nem sequer passou pela mente da contraparte em Havana.
Não conhecer o inimigo e, sobretudo, não combater sua estratégia, é razão mais que sobrada para perder qualquer guerra. Não é uma conclusão pueril, nem um conceito tirado das nuvens: é o mais claro ensinamento de todas as guerras.
Conrado não foi a Cuba para se curar de uma enfermidade, a trégua de dezembro foi aproveitada pelas FARC para refinar seu plano estratégico, não há nenhuma intenção de paz fariana à vista e, uma vez mais, o governo demonstra que sua única estratégia é utilizar as conversações em Cuba para fortalecer sua desmedida ambição reeleicionista, não importa para quê nem por quê. O importante é que não se perca esse ansiado brinquedo.
Que Deus se apiede da Colômbia, porque não há pior cego do que o que não quer ver.
O coronel Luis Alberto Villamarín Pulido é analista de assuntos estratégicos, autor de 22 obras acerca do conflito colombiano, do terrorismo internacional, geopolítica, defesa nacional e história. Suas obras foram traduzidas em vários idiomas e ocupam os primeiros lugares de preferências dos leitores na Amazon.com. Para conhecer suas obras, acesse sua página: Luisvillamarin.com