Embaixada chinesa tenta silenciar Parlamento israelense sobre colheita de órgãos

14/11/2012 08:10 Atualizado: 20/04/2014 21:13
Parlamentares assinam petição pedindo investigação sobre as atrocidades

De acordo com um artigo recente no jornal israelense Haaretz, “Como Israel e a China entraram numa disputa diplomática sobre os membros do Knesset e a colheita de órgãos”, depois que nove membros do Knesset [Parlamento de Israel] assinaram uma petição iniciada por nossa ONG, ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’ (DAFOH), suas assinaturas levaram a embaixada chinesa em Israel a emitir uma queixa formal. Em seguida, a queixa da embaixada levou o presidente do Knesset e outros funcionários israelenses a pedirem aos que assinaram que retraíssem suas assinaturas. Três o fizeram.

Uma pessoa poderia sentir compaixão genuína pela pressão que esses funcionários e os nove membros do Knesset que assinaram nossa petição devem ter sido submetidos. Eles devem ter sentido um conflito entre o que a consciência exige e o que é percebido como de interesse nacional.

No entanto, o que restaria do interesse nacional se isso exigisse trair a consciência deles? Uma nação é constituída pelo povo e a nação é melhor servida se cada membro do parlamento seguir sua própria consciência.

De fato, enquanto a embaixada da China criticou os nove membros do Knesset por assinarem a petição dos DAFOH, alguém poderia perguntar por que os restantes 111 membros do Knesset não assinaram também. Não muito tempo atrás, o Knesset aprovou uma nova lei de transplante que visa impedir o turismo de transplante para a China pela mesma razão abordada na petição: a colheita antiética de órgãos na China.

No século 21, a existência de um sistema sancionado pelo Estado que detém e mata prisioneiros da consciência por seus órgãos vitais é uma questão sobre a qual Israel, de todas as nações, poderia assumir uma posição moral forte. Ao tomar tal atitude, Israel ganharia respeito e apoio de todo o mundo, incluindo os 1,3 bilhão de chineses que, se soubessem a respeito, condenariam a colheita forçada de órgãos de seu povo, assim como as pessoas ao redor do mundo também o fariam.

Imagem do vídeo ‘Mortos por Órgãos: O negócio de transplante, segredo de Estado da China’ da emissora NTDTV

Mantendo os crimes escondidos

A situação diplomática de Israel enfrentada com a embaixada chinesa na semana passada não é inédita, mas é um elemento padrão na estratégia do regime chinês de exercer seu poder em outros países e para manter seus crimes de transplante de órgãos escondidos.

Por mais de uma década embaixadas chinesas em todo o mundo têm espalhado desinformação para incitar o ódio contra os praticantes da meditação pacífica do Falun Gong, tentando bloquear a informação de vir à luz e usando a pressão diplomática para persuadir os líderes políticos e cidadãos a censurarem a si mesmos e seus conterrâneos sobre esta questão.

No caso do abuso de transplante, alguns médicos estrangeiros foram convidados à China, receberam tratamento de primeira classe e, ao regressarem a seu país de origem, têm elogiado a situação do transplante na China. Esses médicos têm evitado assumir uma posição sobre as evidências da colheita ilegal de órgãos que foram compiladas por pesquisadores como David Matas e David Kilgour.

Por desumanizar e difamar as vítimas, especialmente praticantes do Falun Gong, enquanto ao mesmo tempo suprime qualquer pedido de investigação, o regime chinês tem sido capaz de colher órgãos de cidadãos pacíficos detidos injustamente por mais de uma década.

Entendemos que a pressão da embaixada chinesa levou as autoridades israelenses a escolherem pressionar os nove membros do Knesset – parlamentares que nada mais fizeram do que exercer seu direito à liberdade de expressão, garantida pela lei de Israel.

Os fatos apoiam o julgamento e a assinatura daqueles parlamentares. Há fatos irrefutáveis que nem médicos nem cidadãos podem ficar alheios. Outras investigações são essenciais.

David Matas, um advogado de direitos humanos que passou muitos anos levando criminosos de guerra nazistas à justiça, e David Kilgour, um ex-secretário de Estado do Canadá, realizaram uma investigação detalhada sobre as alegações da colheita forçada de órgãos na China, que foi publicada em 2006 como um relatório intitulado ‘Colheita Sangrenta’ (revista em 2007 e publicada em livro em 2009).

Este relatório pioneiro provê evidência esmagadora sobre o sistema sancionado pelo Estado chinês da colheita de órgãos de praticantes presos do Falun Gong. É uma prática abusiva e uma reminiscência dos crimes contra a humanidade cometidos pelo Dr. Mengele e outros médicos nazistas.

Atualmente, centenas de milhares de praticantes do Falun Gong estão detidos na China de forma anônima e sem sentença, submetidos a exames médicos e categorização e, em muitos casos, mortos seletivamente quando seus órgãos podem ser combinados com um comprador.

Jan Karski, um estudioso polonês e guerreiro da resistência na 2ª Guerra Mundial; em 17 de maio de 2000 em Varsóvia. Se os avisos de Karski aos aliados em 1943 sobre o extermínio em massa de judeus que estava ocorrendo tivesse sido ouvido, muitas vidas poderiam ter sido salvas. (Tomasz Gzell/AFP/Getty Images)

Direitos Humanos como provocação

DAFOH é uma organização de conceituados médicos de todo o mundo. Muitos deles ensinam em universidades ou são membros líderes em organizações médicas. Vários de nossos membros contribuíram com seu trabalho para o livro: ‘Órgãos do Estado: O abuso do transplante na China’ (2012). Nossa petição é dirigida às Nações Unidas e simplesmente pede uma investigação sobre as práticas antiéticas da colheita de órgãos na China.

O artigo do Haaretz cita o parlamentar Yoel Hasson que sentiu que sua assinatura estava sendo usada para “provocar o governo chinês”. Do ponto de vista da vítima, apelar pelo respeito aos direitos humanos básicos, em essência, nunca é uma provocação. No entanto, do ponto de vista do agressor, isso é sempre percebido como provocação.

O povo judeu sabe melhor do que ninguém que falar sobre direitos fundamentais equivale a salvar vidas. O testemunho de Jan Karski ao chefe de Justiça estadunidense Felix Frankfurter sobre o Holocausto também teria sido percebido como “provocação” pela Alemanha nazista.

No entanto, se a chamada de Jan Karski por ajuda tivesse sido reconhecida imediatamente, muitas vidas teriam sido salvas. Agora, a petição dos DAFOH pede uma investigação para pôr fim aos crimes contra a humanidade e para salvar a vida de centenas de milhares de pessoas.

A requisição da petição por investigação adicional gerou uma reação desproporcional e extrema da embaixada chinesa em Israel. Se alguém é inocente, deveria acolher qualquer investigação que fomentasse uma reputação impecável da medicina nacional de transplante. No entanto, a reação da embaixada chinesa em Israel sugere que há realmente mais para esconder.

Embora a primeira evidência conclusiva dos crimes de transplante de órgãos na China tenha sido publicada em 2006 por meio do relatório Kilgour-Matas, até à data atual, o regime chinês não forneceu qualquer evidência para refutar as alegações nem forneceu qualquer explicação para as fontes de aproximadamente 10 a 15 mil órgãos que são transplantados anualmente na China.

Em seus relatórios de 2011 sobre os direitos humanos, tanto o Comitê Executivo do Congresso dos EUA sobre a China (CECC) e o Departamento de Estado norte-americano reconheceram os relatórios de que praticantes do Falun Gong estão sujeitos à colheita de órgãos. O presidente do CECC e congressista Chris Smith publicou um comentário sobre o assunto no Washington Times em 18 de setembro de 2012.

Em outubro de 2012, 106 membros do Congresso dos EUA assinaram uma carta que pede ao Departamento de Estado dos EUA para divulgar informações sobre a coleta de órgãos na China. Em 5 de novembro de 2012, um membro do Parlamento escocês, o Sr. Bob Doris, que assinou a mesma petição como fizeram os nove membros do Knesset, publicou seu próprio comunicado de imprensa sobre a extração antiética de órgãos na China.

A chamada pelos direitos fundamentais está profundamente enraizada na humanidade. Os nove membros do Knesset que assinaram nossa petição seguiam sua consciência, assim como as mais de 130 mil pessoas de todo o mundo que também assinaram.

Será que o regime chinês também procura exercer pressão sobre os demais signatários para retirarem suas assinaturas? Exercer pressão para retirar as assinaturas não altera a realidade. Se o regime chinês se sente injustamente acusado, uma investigação completa internacional provavelmente seria uma medida melhor para corrigir as alegações do que pressionar as pessoas a retirarem suas assinaturas.

Nunca seja um espectador

As palavras de Yehuda Bauer, professor de estudos do Holocausto no Instituto Avraham Harman do Judaísmo Contemporâneo na Universidade Hebraica de Jerusalém, servem como um lembrete para todos nós:

“Eu venho de um povo que deu os Dez Mandamentos ao mundo. Chegou a hora de reforçá-los com três outros adicionais, os quais devemos adotar e nos comprometer: Tu não serás um perpetrador; tu não serás uma vítima; e tu nunca deverás, mas nunca, ser um espectador.”

Um olhar no documentário “Mortos por Órgãos”, recomendado como “imperdível” por Eamonn Fingleton, ex-editor da Forbes e do Financial Times, mostrará por que esses nove membros do Knesset julgaram correto assinar uma petição para investigar esta atrocidade. O documentário também servirá como um lembrete para o regime comunista chinês que pressionar as pessoas a retirarem suas assinaturas de uma petição não é muito diferente de pressionar as pessoas a acreditarem que “2 + 2 = 5”.

Torsten Tray, MD, PhD, é diretor-executivo dos ‘Médicos contra a Colheita Forçada de Órgãos’ e coeditor, com David Matas, do livro ‘Órgãos do Estado: O abuso do transplante na China’.

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