Em Taiwan, artesãos de pergaminhos partilham seus segredos

05/06/2012 00:00 Atualizado: 05/06/2012 00:00

Enquadrar e emoldurar pinturas e pergaminhos são os passos finais para criar uma obra de arte chinesa. Embora seja um processo simples, requer uma mão delicada, porque as pinturas chinesas são feitas em papel de arroz e seda. Aqui, Chen Jr. enquadra um pergaminho de caligrafia na oficina do pai em Taipei. (Matthew Robertson/The EpochTimes)

TAIPEI, Taiwan – Foi uma noite normal para Chen e seu pai, juntos no estúdio de quatro andares. Enquanto na TV encostada a um canto passava um seriado de artes marciais, eles prosseguiam seu trabalho iluminados por um candeeiro, agora, já na segunda década de trabalho nesta antiga prática chinesa que é tão pouco conhecida e ao mesmo tempo está em todo lugar, a manufatura de pergaminhos.

A maior parte da clientela de Chen é constituída de calígrafos e pintores de caligrafia chinesa que necessitam de pergaminhos. A maior parte dos pergaminhos é direta, de cima para baixo, e, nas extremidades, enrola-se para acomodar a madeira e alguma fita para pendurar; existem outros pergaminhos que são mais avançados, como os que se abrem lateralmente e têm mapas do tesouro, conforme vistos nos filmes de artes marciais, mas a maior parte é bastante simples. Os Chen também podem fazer molduras de estilo ocidental e dúzias de outras variações.

Chen sênior entrou no negócio quando ainda estava na adolescência. Naquela época, todos os emolduradores tinham seus estúdios no nível da rua e seus podiam ser vistos trabalhando. O jovem Chen simplesmente ficava em pé em frente das lojas e observava. À medida que o tempo passou, ele começou a fazer seu próprio trabalho. Entre aquele período e agora 60 anos se passaram, e em algum ponto o próprio Chen tornou-se ele próprio um mestre artesão de pergaminhos.

Os dois Chen em seu estúdio de emoldurar pergaminhos. Chen Jr. prossegue trabalhando enquanto seu pai faz uma parada para descansar e acompanhar o seriado de artes marciais na TV. (Matthew Robertson/The Epoch Times)

Um processo ancestral

O processo básico de manufaturar pergaminhos não mudou durante milhares de anos: A obra de arte é alisada com uma espécie de mistura, suavizada, acrescenta-lhe um reforço, seca-se e o pergaminho de seda é fixado.

Primeiro, o trabalho é deitado em cima da mesa e esguichado com água, depois leva uma camada de cola chinesa, a versão oriental de farinha e água (eles usam arroz e água). Este passo é um pouco complicado porque quando aplicam a cola o trabalho tem de estar completamente liso contra a mesa. Não são permitidas bolhas de ar. Isto requer usar uma mão para puxar gentilmente o trabalho esticado pela extremidade seca, enquanto se passa uma escova encharcada de dentro para fora, em ambos os lados, até que todo o trabalho esteja liso na mesa.

Dependendo do tipo de papel com que tenham de lidar, os Chen têm diversas abordagens. Papel fino é muito mais fácil de rasgar e precisa de um reforço mais duro ou mesmo várias camadas de reforço.

Normalmente, o reforço é mais grosso que o papel original. Ele é colocado diretamente sobre o original quando este tem cola, mas é maior em comprimento e largura. A pequena margem excedente é essencial e também precisa ter uma camada de cola.

Quando a cola das margens do reforço está viscosa, as duas folhas são levantadas e fixadas diretamente numa das placas verticais. É possível que colem na placa graças à margem mágica do reforço que estava viscosa com cola. Em seguida, fica a secar por algumas horas.

Depois de secar, a peça é cortada da placa com uma faca de lâmina curta, que está propositadamente cega para se assemelhar a uma espátula. O que é cortado aqui é o reforço, e se a cola do reforço aderir à parte posterior do trabalho, a faca-espátula pode separá-las.

O último passo depois de cortar a peça da placa de secagem é fixar o pergaminho de seda. O trabalho é colocado na bancada, as margens irregulares são cortadas com outra lâmina adaptada e, em seguida, tiras finas padronizadas são aplicadas em cada lado.

Estas só são visíveis se olhadas com atenção, a maioria é esbranquiçadas, da mesma cor do papel. Apenas metade do seu comprimento de um centímetro é aplicada ao trabalho com uma cola especial, a outra metade serve para unir o pergaminho ao trabalho. Este material é composto de metade papel e metade seda pura, e existe em centenas de padrões. As partes superior e inferior são enroladas e são introduzidos rolos de madeira em ambas as extremidades.

Um dos trabalhos depois de ser aplainado com o reforço. Ele está agora na tábua de madeira esperando secar. Depois de seco, Chen Jr. o destacará com uma faca. (Matthew Robertson/The Epoch Times)

Um negócio de família

O ponto alto do negócio dos Chen deu-se durante os anos 80 e 90, quando uma enxurrada de negócios japoneses invadiu Taiwan. Matérias-primas e mão de obra eram mais baratas em Taiwan, por isso os japoneses celebravam contratos com negócios como os Chen e recebiam de volta os produtos acabados. Os japoneses sempre encomendavam os materiais mais nobres, explica Chen Jr., alguns encomendavam acabamentos banhados a ouro e alguns em jade ou mesmo diamante.

Os Chen são orgulhosos da sua conduta nos negócios. Seus preços não são exagerados.

Certa vez, um canadense que havia sido previamente cobrado em excesso fez uma encomenda aos Chen. Quando chegou a hora de pagar ele sacou a mesma quantia que havia pagado previamente, cerca de 4 vezes mais do que os Chen o cobraram, pensando que era o normal. Contudo, os Chen não aceitaram e mantiveram seu preço normal. Eles também possuem um claro entendimento da importância do que estão fazendo.

“A pessoa vai fazer algo com as peças, não é verdade?”, diz Chen Jr. “Se não tem uma moldura ou pergaminho bonito não poderá colocá-lo na parede.”

As molduras dos Chen estão por todo o mundo, pela Ásia, numa série de países europeus, e existe até um, dizem os Chen, na Casa Branca.