Em se tratando da história da arte, fala-se muito sobre artistas dos séculos passados, e recentemente tem-se dado muita ênfase às artistas femininas.
Casos de artistas femininas que foram grandes mestras como Artemisa Gentileschi e Elisabeth Vigee-Le Brun, assim como pintoras do movimento impressionista como Mary Cassatt e Georgia O’Keeffe, têm recebido grande aclamação pública.
Mas o que dizer de outras pintoras da tradição clássica do século XIX, quase esquecidas como Elizabeth Jane Gardner Bouguereau, Elizabeth Southerden Thompson, Lady Laura Teresa Alma-Tadema, Evelyn De Morgan e Eleanor Fortescue Brickdale?
Não se fala com frequência sobre essas artistas deste período da arte. Este artigo se centrará nessas mulheres e em suas conquistas na pintura.
Elizabeth Jane Gardner Bourguereau viveu entre 1837 e 1922. Sua obra, quando mencionada, é habitualmente “acusada” de parecer-se muito com a de seu marido, o famoso pintor William Bouguereau. Esta crítica começou ainda durante sua vida artística. Ela chegou a ser muito conhecida em sua época e a resposta que ela dava era: “Sei que sou criticada por não reivindicar valentemente minha individualidade como pintora e sim como a melhor imitadora de Bouguereau!”.
Claramente, Gardner sentia que era muito melhor sofrer crítica sobre seu trabalho ao dizerem que era muito similar ao de um artista famoso e querido na época, a não se falar nada sobre ela. Apesar de sua técnica de pintura ser muito parecida à hábil mão de seu marido, na verdade ela possuía um conjunto de obras sensacionais, muitas das quais expressavam sua própria voz e dotavam o seu trabalho de certo grau de individualidade.
Mesmo seu nome não sendo muito conhecido entre o grande público, suas pinturas voltaram a ser muito apreciadas entre os colecionadores do século XIX. Uma de suas obras – “A filha do fazendeiro” – foi exposta pela primeira vez em 1887 no Salão de Paris e novamente em 1889 na Exposição Universal. Esta obra expressa a alegria de viver e desfrutar das coisas simples.
Uma bela jovem está entre um grupo de galinhas, olhando para baixo ela observa seus amigos de penas enquanto deixa cair lentamente os grãos dourados de milho entre seus dedos em um dia perfeito e ensolarado.
As aves se reúnem ao seu redor olhando para a amorosa cuidadora e de forma alegre preveem com entusiasmo a chegada de seu festim. Esta pintura recorda ao espectador os pequenos presentes que se apresentam perante nós quando olhamos a vida com outra perspectiva e conseguimos desfrutar do cotidiano. Além de demonstrar sua habilidade impecável com o desenho e sua compreensão profunda da matéria, Gardner demonstrou ser uma pintora incrível.
Utilizava audazmente cores impactantes que atraíam o espectador e que, ao invés de anular a mensagem da pintura, a complementavam. O uso de duas únicas sombras de azul intenso, se contrastava com um rico vermelho e a pele de porcelana da menina, algo único no qual as cores são apreciadas tanto unidas à composição como as separando da mesma.
A pessoa pode parar em frente a este quadro e ficar paralisada pelo poder das cores utilizadas, e uma vez que se aprecia o envolvimento das cores no contexto da pintura, compreende-se que se trata de uma obra de mestre por direito e que Gardner merece todo o reconhecimento por suas conquistas com o pincel.