Se alguém quiser saber de onde vem o seu sofrimento, ou qual a causa fundamental de seus conflitos, dores e confusões, pergunte ao seu Eu. Para aquele que deseja entender o mundo e encontrar um meio para colocar um fim nas dores e sofrimentos da humanidade, observe e aprenda sobre o seu ego.
Todas as projeções que o Eu faz de si mesmo no mundo, interferem na vida do outro, usurpam a existência do outro e alteram as circunstâncias e processos a favor de si mesmo. Nesse sentido, o nosso ego se torna mais importante do que qualquer coisa, pessoa ou processo, e, desta forma, atravanca e impede o desenvolvimento coletivo e a harmonia recíproca que deve existir em qualquer grupo.
Por exemplo, muitas pessoas, quando pensam em ter um filho, ficam felizes, porque, na verdade, projetam sua imagem e a continuidade do seu Eu naquele ser que vai nascer. O ser é esperado como uma extensão do Eu, seja do pai ou da mãe, ou de ambos, e todo conteúdo emocional pertencente a si mesmo – como carências, ansiedades, desejos e frustrações dos pais – é depositado naquele ser que virá. Isso gera expectativas positivas e inconscientes de satisfação pessoal dos pais através do bebe. Por outro lado, se o feto tem problemas durante a gestação e a mãe perde o bebe, a decepção e a amargura se revelam nos pais. Não pelo ser em si que perdeu a chance de existir no mundo, mas porque os anseios afetivos projetados pelo ego dos pais no bebe são totalmente frustrados.
Em praticamente todos os projetos e relacionamentos, nós, sem nos darmos conta, projetamos sobre eles nossas expectativas e vontades pessoais, de forma a satisfazermos o nosso Eu – mesmo que pareçamos interessados no outro. Somos arrastados pelo ego, e quanto mais forte é este sentido, mais autocentrados e egoístas nos tornamos.
Sendo assim, devido aos nossos pensamentos e atitudes serem todos dirigidos pelo Eu, para a satisfação de si próprio, tentamos distorcer a verdade, o correto e o justo, sempre que nossas vontades ou medos estão em jogo. É devido ao desejo de satisfação ou proteção do ego que os nossos atos se tornam prejudiciais ao outro, que excluem pessoas, que usurpam o espaço, as chances e a vida do outro.
As guerras somente acontecem devido ao forte desejo de satisfação de alguns indivíduos de terem mais poder, mais bens, mais riquezas, e/ou devido ao medo, ao orgulho ferido etc. A corrupção é fruto igualmente do desejo de poder, de riquezas, ou devido ao desejo de proteção e autopreservação.
Os desejos e apegos fazem mal às vidas alheias, corrompem a sociedade e destroem o mundo. O assassinato, o estupro, o roubo, a tirania e todos os vícios vêm das vontades e desequilíbrios do Eu. Essas atitudes caóticas e destrutivas saem como impulsos descontrolados e cheios de força de um Eu que não enxerga a existência, as necessidades e os direitos do outro, porque coloca seus próprios anseios acima dos demais.
Todos os defeitos de caráter vêm do ego. A arrogância, a desonestidade, a intolerância, a crueldade, a inveja, o ciúmes, a ganância, a preguiça, a ira e outros são o resultado das vontades do Eu. O Eu vive para si próprio, para a sua própria segurança, benefício e deleite. Basta olhar a nossa vida cotidiana, as nossas atitudes e os motivos por trás de nossas ações. Em quem pensamos quando agimos? Quem consideramos quando fazemos as coisas? E quais são os motivos que nos levam a fazermos as coisas?
Igualmente, todas as doenças surgem do Eu. As mágoas e o ódio geram desequilíbrios nas funções orgânicas que se acumulam no corpo, produzindo várias doenças, como alguns tipos de tumores, os distúrbios no fígado, a hipertensão, o glaucoma, a artrite reumatoide e outras. As ambições e desejos intensos geram as neuroses, os vícios, o estresse contínuo, alguns tipos de problemas cardíacos e de hipertensão, etc. Enfim, todas as doenças possuem uma raiz emocional que está ligada aos anseios e projeções do Eu no mundo.
Mas, o que é esse Eu? De onde vem e como é formado? Por que é assim destrutivo? Existe uma outra forma de viver a vida que não seja através do Eu?
Veremos isso no próximo artigo.
Alberto Fiaschitello é terapeuta naturalista e cientista social