Egípcios precisam de menos intervenção e mais soluções internas

25/09/2013 11:40 Atualizado: 25/09/2013 11:40
Padeiros egípcios preparam croissants numa padaria popular no Cairo. Recentemente, a violência no Cairo parece ter diminuído, o que levou as autoridades a anunciarem que encurtariam o toque de recolher noturno em duas horas (Marwan Naamani/AFP/Getty Images)
Padeiros egípcios preparam croissants numa padaria popular no Cairo. Recentemente, a violência no Cairo parece ter diminuído, o que levou as autoridades a anunciarem que encurtariam o toque de recolher noturno em duas horas (Marwan Naamani/AFP/Getty Images)

A conversa persistente e a especulação sobre o que os Estados Unidos deveriam fazer sobre a crise no Egito é irrelevante. O que ocorrerá no Egito acontecerá independentemente do que os Estados Unidos ou qualquer outro país faça ou não.

O Egito foi tomado pelas forças da mudança – ainda que seja uma mudança dolorosa e possa causar muito dano ao país. Esse é o preço pago por décadas de estagnação política, econômica e social. A experiência atual do Egito é o resultado de uma falta de mudança gradual, que deveria ter ocorrido ao longo do tempo e em fases.

A fim de perpetuar sua posição no poder, os governantes do Egito impediram que a mudança sociopolítica ocorresse. E, com o passar do tempo, a oposição gradualmente recuou para posições cada vez mais radicais. Foi por medo desta radicalização que o general Abdel Fattah el-Sisi derrubou o governo de Mohamed Morsi.

A crise no Egito é o culminar do desenvolvimento do pós-2ª Guerra Mundial neste país. No Egito, assim como em muitos outros países, o desdobramento do pós-2ª Guerra Mundial foi um processo truncado de modernização. Líderes egípcios trouxeram mudanças apenas econômicas e administrativas, expurgando do processo componentes vitais como a democratização do sistema político e a institucionalização de um Judiciário independente.

Este processo de modernização parcial fortaleceu o controle dos líderes egípcios sobre a população. A falta de pluralismo político e do estado de direito ajudou a centralizar o poder político nas mãos das elites governamentais, levando à corrupção generalizada e nepotismo. Esta distorção prejudicou o progresso e congelou a inovação social.

A concentração da atividade econômica em poucas mãos criou imensas fortunas controladas pela elite, que não beneficiam a economia nacional, pois a maior parte dos lucros foi transferida para o estrangeiro.

Com o tempo, no entanto, a introdução de reformas, mesmo parciais, combinadas com uma classe educada crescente e o impacto da comunicação moderna, provocou mudanças na percepção das pessoas e criou novas aspirações, como a mobilidade social, aumentando as expectativas espirituais e materiais e de liberdade política.

O que ocorre hoje no Egito é o resultado desse processo – a culminação de décadas de opressão e abuso do poder.

Como a mudança verdadeira e a democratização não ocorreram de forma gradual, a oposição ao estabelecimento endureceu. A tensão entre os governantes e os governados atingiu níveis destrutivos e os partidos de oposição ficaram travados numa sequência de violência e contraviolência.

Travando batalhas cada vez mais acirradas pela mudança e frequentemente pela sobrevivência por longo tempo, a oposição adotou plataformas cada vez mais radicais, como o islamismo politizado, que, se bem sucedido, não levará à democracia e ao pluralismo, mas apresentará outra forma de totalitarismo camuflada sob o manto do fundamentalismo religioso.

O colapso da confiança e o endurecimento das frentes entre a elite governante do Egito e a Irmandade Muçulmana impedirão que os dois lados cheguem a um compromisso numa resolução negociada de suas divergências.

Duas coisas devem ocorrer antes que um acordo de suas diferenças possa ser negociado: A elite governante deve reconhecer que, nas condições atuais, a legitimidade com base no controle social e implementada por forças militares e policiais não é viável nem aceitável. O exercício do poder político deve se assentar no livre-arbítrio das pessoas. Tanto a liderança do Egito com suas forças de oposição devem entender que um regime não-participatório não é apenas injusto, mas também ineficiente. A construção bem sucedida de uma ordem social justa pressupõe o consentimento e a participação criativa de cada membro da sociedade. Essa participação, no entanto, só pode ocorrer numa sociedade democrática, com instituições pluralistas e um compromisso inabalável com os princípios dos direitos humanos.

Desde a morte do presidente Gamal Abdel Nasser em 1970, a política norte-americana para o Egito tem sido de apoiar seus governos. Essa política tem sido uma benção para seus líderes e uma maldição para os reformadores. É hora de os Estados Unidos darem um passo atrás e deixarem os egípcios resolverem seus problemas entre si. O que os EUA podem e devem fazer é persuadir outros países a também absterem-se de interferir na crise do Egito. A promessa da Arábia Saudita de fornecer a liderança golpista US$ 12 bilhões apenas alimentará o fogo da inquietação e do ódio.

Será bastante difícil para o povo egípcio sair dessa trajetória conturbada. O resto do mundo só deve estender a mão aos egípcios depois que eles resolvam seus problemas e peçam apoio por si mesmos para a reconstrução de seu país. É bem provável que o atual confronto da elite no poder e da oposição dure por algum tempo e cause extensa destruição no país.

O momento de oferecer assistência ao Egito é quando os egípcios chegarem a um acordo entre si e estiverem prontos para reconstruir suas vidas e o país.

Nasir Shansab é um ex-industrial líder afegão, filho de um ex-ministro da Agricultura do Afeganistão, e autor de “Silent Trees: A Novel of Afghanistan”. Atualmente, ele vive próximo de Washington DC, EUA