Efeito nocebo: o quão poderosa é a mente?

20/08/2014 06:00 Atualizado: 20/08/2014 12:10

A mente é capaz de curar uma pessoa? Milhões de casos de curas pelo mundo devidas à auto-sugestão positiva, à fé e à determinação em curar-se provam isso.

E a mente é também capaz de adoecer ou mesmo de matar uma pessoa? Infelizmente, milhões de casos de adoecimentos e mortes, frutos de depressões, melancolias, crenças e auto-sugestões negativas também provam isso. A auto-sugestão em relação a possíveis maus efeitos de remédios, drogas e outros, que resulta em sintomas, doenças e até na morte dos indivíduos sugestionados é o que se conhece como efeito nocebo.

Um grande número de pessoas sofre de efeitos colaterais encontrados em bulas de remédios, apenas devido à sua auto-sugestão. Esse fenômeno psicossomático pode causar graves prejuízos e até mesmo matar um ser humano.

Estima-se que 70% do efeito de uma doença no organismo é de origem psicológica e que somente 30% é realmente físico. Os pensamentos negativos criam estímulos no sistema nervoso, no sistema imunológico, nas glândulas endócrinas e nos órgãos, que conduzem o organismo a mimetizar uma doença, e, por isso, em muitos casos e em muitas pessoas, manifestam-se os sintomas de doenças assim que o indíviduo sugestiona-se negativamente: quando fica ao lado de uma pessoa gripada, quando ouve falar de um surto epidemico, quando lê num jornal que um alimento que comeu durante a semana foi considerado impróprio para o consumo, quando lê sobre os resultados adversos de um medicamento que está usando etc.

Existem muitos casos conhecidos que ilustram o poder negativo da mente sobre o corpo. Vejamos a seguir duas histórias que ilustram esse poder da auto-sugestão negativa.

Durante a guerra, um prisioneiro  foi vendado e ameaçado de ter todo seu sangue perdido numa hemorragia, caso não colaborasse dando informações. Ele foi imobilizado e arranharam com força o seu braço e em seguida abriram uma pequena cânula ou torneira e deixaram gotejar rapidamente água dentro de um balde como se fosse o seu sangue escoando. O homem acreditou que o barulho contínuo de gotas caindo rapidamente no balde fosse o seu sangue e, ficando desesperado, acreditou realmente que morreria devido a isso. O resultado inesperado foi que realmente ele acabou morrendo sem que tivesse perdido uma única gota de sangue: sua sugestão afetou-o tão poderosamente que ele morreu.

Num outro caso, uma pessoa foi trancada por acidente numa camara frigorifica durante toda a noite. No dia seguinte, foi encontrada congelada; porém, o termômetro marcava 20° C.

Histórias assim são abundantes e existem estudos sobre milhares de pacientes, que comprovam o impacto real da mente sobre o corpo. Assim como o efeito placebo motiva um pensamento positivo, o efeito nocebo, por sua vez, aparece quando o paciente tem uma atitude pessimista, o que produzirá efeitos nocivos na sua saúde.

O efeito nocebo também pode afetar significativamente toda a base de uma cultura. Robert Hahn, antropólogo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em Atlanta, na Geórgia, e especialista neste fenômeno, explica que “a morte por encantamento vodu, se existir, poderia ser uma forma extrema de efeito nocebo”. Ou seja, especialmente no Haiti, existe a crença estabelecida de que feiticeiros podem adoecer, torturar e até matar pessoas à distância. Inúmeros casos já foram documentados dessa prática, e o imaginário da cultura haitiana vodu é impregnado por ela: as pessoas têm muito medo dos feiticeiros vodu e muitas ficam apavoradas, podem adoecer e até morrer apenas por suspeitar que possam estar sob o encantamento de um feiticeiro vodu.

Efeito nocebo: uma preocupação para médicos

O efeito nocebo coloca frequentemente os médicos em situação constrangedora, pois, por um lado, os pacientes têm o direito de saber o que está realmente acontecendo, por outro, o fato de informá-los sobre um doença potencialmente perigosa pode aumentar o risco da aparição do efeito nocebo, o que agravaria a situação.

Os cirurgiões mostram-se geralmente relutantes quando têm que operar pacientes que estão convencidos de que irão morrer, porque isto muitas vezes ocorre.

Efeito nocebo: uma preocupação para pacientes

Não só pacientes podem causar danos a si mesmos devido ao efeito nocebo. Atualmente, muitos médicos têm eles próprios estimulado o efeito nocebo em seus pacientes, devido à sua insensibilidade e às suas tendências pessimistas e fatalistas.

Muitas pessoas, atualmente, depois de sairem de uma consulta médica ou de levarem seus resultados de exames a um médico, saem do consultório abaladas ou até apavoradas, por causa dos prognósticos fatalistas ou excessivamente pessimistas dos médicos. Algumas desenvolvem crises de ansiedade depois disso, e outras chegam mesmo a ter síndrome do pânico, imaginando que estão fadadas a um trágico final em pouco tempo. Por que uma parte dos médicos tem essa postura hoje em dia? Não se sabe. Mas, sem dúvida, é algo que tem prejudicado muitas pessoas e que precisa ser pensado, entendido e mudado na conduta de muitos médicos atuais.

A mente é poderosa

Infelizmente, há perguntas que permanecem sem respostas:

Quais são os fatores desencadeadores do efeito nocebo?
Quanto tempo os sintomas podem durar?
Como podemos determinar pessoas em risco?

As pessoas temerosas e pessimistas parecem ser as mais propensas a manifestarem o efeito nocebo. Mas, todos nós podemos nos deixar abater vez ou outra, devido ao pessimismo e ao medo.

Devido ao efeito nocebo ter uma importância significativa no prognóstico de saúde de uma pessoa, ele realmente precisa ser estudado e compreendido.

Mas, o mesmo vale para o efeito placebo e todas as surpeendentes situações de cura de doentes graves. Pessoas com complicadas situações de saúde, que podem correr riscos sérios durante terapias tóxicas (como a quimioterapia) ou cirurgias delicadas, mas que são otimistas de verdade, que assumem riscos e têm vontade de superar o problema, muitas vezes surpeendem médicos, enfermeiras e familiares, curando-se de doenças graves, superando longos tratamentos tóxicos e, inclusive, curando-se de doenças consideradas incuráveis.

Diante das provas que se acumulam sobre o efeito placebo e o efeito nocebo percebemos que a nossa mente é uma ferramenta extraordinária e poderosa: se bem usada pode nos levar a resultados maravilhosos; se mal utilizada, pode nos colocar em sérios apuros.

Mas, antes de termos os resultados conclusivos dessas desejáveis pesquisas, já que temos uma ferramenta tão extraordinária como a nossa mente, por que não usá-la positivamente? Como diz o ditado popular: “Se te derem um limão, não torça o nariz, mas faça com ele uma deliciosa limonada.”