No momento mesmo em que as pesquisas de opinião mostram certo enfraquecimento da candidatura Dilma Rousseff à Presidência da República, os diversos mercados, notadamente ações do setor de energia e cotações do real em relação ao dólar, exibem sinais de euforia ao conferir maior probabilidade à vitória dos candidatos de oposição e/ou à substituição de Dilma por Lula na candidatura situacionista.
É certo que a atual equipe econômica, talvez a mais fraca de que se tenha notícia em décadas recentes, goza de mau conceito perante os agentes econômicos e que estes querem ver uma mudança de rumo. Mas, será cabível tanto otimismo quando crescem as chances de um retorno de Lula ao Planalto?
Ora, muitos costumam referir-se ao período Lula como se tivesse sido linear e sempre correto em termos de política econômica. Não foi. É fato que a dobradinha Palocci, na Economia, e Meirelles, no Banco Central, comportou-se em linha com os melhores preceitos de política econômica, surpreendendo os que temiam, pelo histórico de posições extremadas do PT, uma administração heterodoxa e desastrosa.
Mas, já no segundo mandato de Lula e sob o comando de Guido Mantega, com o apoio de Dilma, inicia-se o desmanche da política com viés liberal de Palocci. Reformas econômicas são abandonadas, reduz-se a preocupação com a austeridade fiscal, anunciam-se planos mirabolantes de investimento e impõe-se um ativismo tendente a estimular o consumo da população, já com olhos voltados para a eleição de Dilma.
Grande parte do êxito econômico atribuído a Lula ocorreu porque a economia brasileira foi favorecida por dois fatores externos poderosos e determinantes: os bancos centrais dos países desenvolvidos baixaram os juros injetando muita liquidez no sistema bancário e os preços das nossas commodities de exportação dispararam, melhorando em muito nossos termos de troca com o exterior. Na medida em que os ventos externos deixaram de soprar tão fortemente a nosso favor, tudo ficou bem mais difícil para nossos governantes e cabe indagar se um terceiro mandato de Lula não teria os mesmos resultados medíocres alcançados pelo governo Dilma.
Tratamos até agora de economia, sem entrar na questão ética. Mas, o que falar da sucessão de escândalos que se inicia com o caso Waldomiro, nos Correios, passa pelo caso mensalão e atinge agora proporções até então inimagináveis quando são investigadas grandes negócios da Petrobrás, aqui e no exterior? Será que Lula poderá passar incólume por todas as investigações tendo sido sua a responsabilidade pela indicação de tantos companheiros enredados em trapalhadas? Será que o povo e a classe empresarial estão tão encantados com regalos públicos que perderam a capacidade de indignar-se com problemas morais? Queremos mesmo um Partido eternizado no poder com todas as consequências que isto traz para o destino das instituições democráticas? Em suma, faz sentido tanta reverência a Lula pelos mercados?
Rubem de Freitas Novaes é doutor em Economia pela Universidade de Chicago. Foi diretor do BNDES e presidente do Sebrae
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal