Da educação para demolição forçada

29/10/2013 09:21 Atualizado: 05/11/2013 23:15

Uma professora primária na província de Hunan, cuja sogra tem teimosamente lutado contra as autoridades que querem demolir sua propriedade, foi transferida para o departamento de demolição local para ajudar em seus esforços. As razões apresentadas para a transferência de Tan Shuangxi é fazê-la convencer a sogra a ceder às exigências das autoridades.

No dia 25 de outubro, a professora Tan Shuangxi, que trabalha na escola fundamental da cidade de Changsha, distrito de Tongpu, província de Hunan, recebeu um aviso das autoridades locais de educação solicitando sua transferência para o Departamento de Demolição e Remanejamento. Sua sogra é proprietária de uma residência que foi listada para “renovação e reconstrução” e condenada pelo governo. Discordâncias sobre o processo de demolição e a compensação adequada resultaram no adiamento da demolição.

Na última década, a venda de terras se tornou uma fonte de receitas cada vez mais importante dos governos locais em toda a China, levando a demolições forçadas generalizadas e à venda de terras para construtoras. Aqueles cujas casas são demolidas frequentemente recebem alguns centavos por sua propriedade. Com suas casas demolidas, muitos acabam sem-teto. Alguns resistem por meio de protestos ou mesmo violência, tornando a apropriação de terras uma das maiores causas de “incidentes de massa” na China. Houve 180 mil desses incidentes em 2010, segundo Sun Liping, um professor da Universidade Tsinghua.

Naquela noite, Tan Shuangxi postou sobre sua situação no Weibo. Começando às 8h de 26 de outubro, Tan telefonou várias vezes para o diretor da escola, Tan Xinyue, que exigiu que ela retirasse seus comentários da internet, pois, segundo ele, trouxeram desgraça para a Secretaria de Educação e para a própria escola.

Tan Shuangxi também foi instruída a devolver a cópia do aviso de transferência, sob a alegação de que o documento era para a escola e não para ela. (Tan Xinyue e Tan Shuangxi não têm parentesco.)

Numa entrevista com a mídia chinesa, Tan Shuangxi disse que a transferência temporária de trabalho foi um pedido do Comitê Distrital de Tianxin e da Central Zaoziyuan de Demolição e Remanejamento.

Quando o vice-diretor do Departamento de Propaganda local, Gong Chengping, foi entrevistado, ele disse que sua unidade de trabalho não fez qualquer pedido, mas que foi Tan que solicitou a transferência. A Seção de Pessoal da Secretaria de Educação, que emitiu a notificação, teria feito isso sem informar as autoridades superiores. O comitê posteriormente revogou o boletim como “inapropriado”.

Tan Shuangxi negou veementemente a afirmação de Gong sobre ela ter pedido a transferência: “Isso é calúnia. Eu posso fornecer a gravação de áudio como prova de que ele [Gong] repetidamente ameaçou me demitir se eu não cooperasse com o processo de demolição. Por que eu pediria a transferência para um trabalho que não tenho qualquer competência ou familiaridade?”

Em meio a tudo isso, Tan Shuangxi e seu marido também começaram uma séria discussão e decidiram se divorciar.