– Po!, professor, por que você tirou ponto nessa questão?
– Porque você teve vários erros de português.
– Mas a sua aula é de Geografia!
Típico diálogo dentro de sala. Aluno é tudo igual, negocia o inegociável. Aos doze, quinze ou dezessete anos é compreensível que a criança não entenda a constante correção ortográfica. Ela não tem maturidade para assimilar o “aperto” do professor. Ou seja, profissional formado (e bem formado) em educação ensina um ser em processo de expansão cultural. Em teoria, esse seria a situação normal.
Nessa semana, o colunista Rodrigo Constantino escreveu sobre a meritocracia na educação e a postura do SEPE, sindicato estadual dos profissionais da educação. [leia o artigo aqui] . A análise é perfeita, entretanto, afirmo, é bem pior.
A educação brasileira, há décadas, respirava por aparelhos. O Governo gastava milhões e milhões em um maquinário de péssima qualidade, sendo necessário trocar a cada seis meses. Bilhões em um sistema que mantinha o enfermo naquele estado vegetativo. Não se buscou novos tratamentos, médicos capazes de reverter o quadro.
Eis que o governo estadual do Rio de Janeiro implantou o sistema de cotas na UERJ. Muita polêmica diante de um projeto imposto, sem prévia discussão. Digo, debate verdadeiro com ao menos dois lados diferentes. Aproveitando a lábia da (pseudo) igualdade, o PT elevou esse sistema à categoria moral. E tão logo o Sr. Fernando Haddad assumiu o Ministério da Educação, pronto!, o moribundo morreu.
Inicialmente, é importante quebrar uma fala comum, a de que o Brasil não investe no setor. Na realidade, o problema não é falta de, mas como se investe, pois o país é um dos que mais investe diretamente. Agora, todo investimento a fundo perdido.
Claro, como professor, impossível negar o salário medíocre. Melhor remuneração é sempre bem-vinda. Porém, maior agonia é sentir a perda do respeito da sociedade pela educação. É triste, mas coerente. São quase cinquenta anos cometendo atrocidades contra si mesmo, pregando Paulo Freire como o messias e estuprando os valores educacionais.
O gramscismo infiltrou-se no ensino superior e espalhou o ‘çanto’ evangelho de Marx. Ensinar, antes de mais nada, é ação política. Nesse contexto doutrinário, no qual o universitário não tem acesso a outras fontes bibliográficas, aprende-se que o mais importante é a construção de um indivíduo politizado, claro!, comprometido com a luta de classes. O aluno não precisa aprender a escrever, desde que repita de forma convincente os velhos bordões contra o capitalismo, os EUA e, agora, a FIFA.
O conhecimento é esvaziado. E ano após ano, o nível cai. A intelectualidade (os sortudos que vivem lá em cima na pirâmide com verbas estatais) pariu esse vírus, de nome próprio Desastre Pedagógico, e, rapidamente, infectou a educação. Atualmente, grande parte dos estudantes no ensino superior são analfabetos funcionais, e estes ensinarão aos seus filhos.
Essa semana um colégio me chamou para uma entrevista. Fui, falei, escutei, tudo certo. Soube, depois, que a diretora elogiou minha cultura e… Bem, como posso dizer…? Falou que de todos os candidatos fui o ÚNICO a não cometer erros de concordância! Entende? Antigamente a escola escolhia o profissional com mais conhecimento. O poço está tão fundo, a ponto de a escolha ser por um profissional com algum conhecimento.
Um organismo podre gerará frutos podres. O sistema de cotas rebaixou ao mínimo as exigências culturais. O sindicato, ao constatar a péssima formação, deveria lutar pelo fim disso. Mas, como o indivíduo desaparece no coletivo, jamais lutou pelo incremento cultural individual, mas sempre pelos direitos da massa.
Passeatas e mais passeatas. Por que não uma que ponha em xeque as bases epistemológicas da educação brasileira? Seria magnífico um simpósio nacional sobre pedagogos conservadores ou sistemas que se mostrem mais eficientes, tais como o inglês, o sul-coreano, o alemão ou até de Saturno (com certeza lá é melhor do que aqui!). Mas o que esperar de um país que adota como guru pedagógico o “gênio” Piaget que diz “O professor não ensina, mas arranja modos da própria criança descobrir…”?
Base teórica podre comprometida exclusivamente com a luta de classes, futuros professores semi-analfabetos, pais que não respeitam a figura do mestre, crianças sem limites, uma vez que o ensino revolucionário é justamente os assassinatos da moralidade e dos valores, e um Estado que comemora esse fracasso com um sorriso cínico.
Por favor, não coloco aqui que a maioria dos professores sejam iletrados, apenas que essa é a tendência a médio prazo. Ainda é possível ver alguns que são contra as cotas e se esforçam por um ensino moralmente neutro, mas, cada vez mais, são exceções. Muitos desses enxergam o quanto esse sistema é prejudicial, mas continuam com a mentalidade “pedagogia do excluído”.
No Brasil, busca-se a igualdade antes da liberdade. Sem liberdade individual plena, o Governo impõe seu conceito de igualdade, ainda que ela se baseie no confronto racial e de classes. Que fique claro: não sou contra professores marxistas que apoiem cotas, Mais Médicos ou Fidel Castro. Alerto, sim, para o pensamento único marxista, como categoria moral e, medonhamente, burocrática. Esta difícil mostrar um outro lado.
Encerro. Rodrigo Constantino tocou em uma ferida que jamais cicatrizará, mas, repito, é bem mais grave. Solução? Até seria possível, se houvesse liberdade de pensamento. Previsão? A pior possível.
Ugo Medeiros é Professor de Geografia e de História da Música Americana
Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal Ensino e Penso