A educação além dos indicadores usados em campanhas políticas

09/04/2014 10:37 Atualizado: 09/04/2014 10:37

O Brasil, além de investir pouco na educação, apresenta poucos resultados em retorno, ou seja, o problema com a educação não se resume a apenas poucos investimentos, mas em investimentos mal feitos. Além de termos crianças fora das escolas por falta de estrutura física e material, temos a falta de meios de deslocamento (transporte) e de condições do aluno se manter na escola.

Os dados apresentados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram a relação do Brasil com outros países em 2010. Segundo dados, o Brasil ultrapassou a Hungria (4,6%), a Itália (4,7%) e equiparou-se à Suíça (5,6%). Porém as porcentagens escondem os valores reais e a má distribuição desses recursos no país. A OCDE mostra que o Brasil obteve aumento nos investimentos de 2000 para o ano de 2010, porém está muito abaixo das médias dos demais países da organização (que é de 6,3% do PIB).

Temos no Brasil uma enorme desigualdade de investimentos entre os estados. Segundo José Marcelino de Rezende Pinto, presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (Fineduca), a estimativa da desigualdade se baseia no que é investido em educação pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) – que representa cerca de 2,4% do PIB. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, reconhece que ainda é necessário mais investimento, e admite a tal desigualdade.

O Estado do Rio Grande do Sul é o que menos investe em educação no país em comparação ao que arrecada, conforme indica um levantamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Mas nos perguntamos como será o processo para que tenhamos uma melhora de fato na qualidade e quantidade de investimentos na educação brasileira. O governo brasileiro de fato quer pessoas com educação de qualidade?

Bem sabemos que está no discurso de todo o político brasileiro melhorias na educação. Mas até que ponto o interesse em promover melhorias na educação vai além da frase de campanha? Pergunto aos políticos: Como é feito por parte de cada um o estudo para prometer mais efetividade e eficácia no processo de desenvolvimento educacional brasileiro? Porque toda a proposta oferecida deve ter um grande estudo por trás, no qual o candidato deve ter conhecimento dos dados e da realidade do cenário em que se encontram as condições das escolas brasileiras e dos alunos nelas inseridos. Certo?

Muitos colocam a culpa dos baixos resultados dos alunos das escolas públicas no professores, eu as coloco na política brasileira. Coloco a culpa na falta de infraestrutura, na falta de responsabilidade política, na carência de um sistema educacional que forme excelentes alunos nas escolas básicas, capazes e prontos para ingressarem nas universidades, pois o nivelamento com alunos de escolas particulares na sua grande maioria é bem distante, tanto é que isso aparece nas diferenças de notas por cotas.

No que se deve a alta taxa de desistência nas escolas brasileiras? Vemos em dados estatísticos que a maioria das desistências se dá em comunidades de menor padrão de renda. E é em lugares que as escolas estão em maior precariedade de estrutura e é em lugares que nem todo o professor fica feliz e motivado em dar aulas, vale lembrar, que a taxa de criminalidade é também muito alta. As escolas em periferias são ruins porque o bairro é ruim ou o bairro é ruim porque as escolas são de péssima qualidade? Encontramos uma grande vulnerabilidade e chances das crianças entrarem para o mundo do crime, ou seja, onde está a função do Estado em garantir um dos direitos básicos que é uma educação de qualidade? Em uma sociedade que não possui educação de qualidade o mundo do crime parece mais fácil e o numero de criminalidade é maior. Sem educação de qualidade a segurança é comprometida e além do Estado não garantir educação, estimula e não cumpre seu papel em garantir a segurança.

Comparamos o Brasil com países como Noruega, Austrália[1], por exemplo, os índices de investimentos e liberdade são relativamente maiores nesses países, e a taxa de criminalidade é coincidentemente menor.

A questão está na forma que um governo administra os investimentos e como estes geram resultados a curto e longo prazo. Não basta ter dinheiro e não saber aplicar, também não basta o governo todo ano de campanha prometer que a educação atingirá a marca da excelência se esquece de investir na educação básica que é à base da cadeia da formação do conhecimento e dos profissionais do futuro.

 

Débora Góis é acadêmica de Economia na Universidade Federal de Santa Maria e escreve todas as sextas-feiras para o Clube Farroupilha

Esse conteúdo foi originalmente publicado no portal do Instituto Liberal